Terça-feira, 28 de Junho de 2005
Caríssimos Irmãos e Irmãs
1. "Sejam iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes que esperança nos vem do seu chamamento, que riqueza de glória contém a herança que Ele nos reserva entre os santos" (Ef 1, 18).
Estes são os bons votos que São Paulo eleva ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai da glória, no trecho da carta aos Efésios, que acaba de ser proclamada.
Jamais agradeceremos suficientemente a Deus, nosso Pai, este imenso tesouro de esperança e de glória, que Ele nos concedeu no seu Filho Jesus. O nosso compromisso constante consiste em deixar-nos iluminar continuamente por Ele, para conhecermos de modo cada vez mais profundo esta sua misteriosa dádiva.
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, que hoje tenho a grande alegria de apresentar à Igreja e ao mundo nesta Celebração orante, pode e deve constituir um instrumento privilegiado para nos fazer crescer no conhecimento e no acolhimento jubiloso deste dom divino.
2. Ele é promulgado depois da publicação do Catecismo da Igreja Católica, ocorrida em 1992. Desde então, tornou-se cada vez mais difundida e insistente a exigência de um Catecismo resumido, breve, que contivesse todos e somente os elementos essenciais e fundamentais da fé e da moral católica, formulados de uma maneira simples, acessível a todos, clara e sintética. E é precisamente indo ao encontro de tal exigência, que nestes últimos vinte anos foram efectuadas, em diversas línguas e países, numerosas tentativas mais ou menos sucedidas, de síntese do citado Catecismo, que apresentaram vários problemas relativos não só à fidelidade e ao respeito da sua estrutura e dos seus conteúdos, mas também à sua competência e à integridade da doutrina católica.
Por conseguinte, sentia-se cada vez mais a necessidade de um texto autorizado, seguro e completo acerca dos aspectos essenciais da fé da Igreja, em plena harmonia com o citado Catecismo, aprovado pelo Papa e destinado a toda a Igreja.
3. Desta difundida exigência fizeram-se intérpretes em particular, em Outubro de 2002, os participantes no Congresso Catequético Internacional, que neste sentido apresentaram um pedido explícito ao Servo de Deus João Paulo II.
Passaram pouco mais de dois anos desde quando o meu venerado Predecessor decidiu, em Fevereiro de 2003, a preparação de tal Compêndio, reconhecendo-o correspondente ao bem não só da Igreja universal e das Igrejas particulares, mas também do mundo contemporâneo, sequioso de verdade. Foram dois anos de trabalho intenso e profícuo, que contou também com o empenhamento de todos os Cardeais e dos Presidentes das Conferências Episcopais que, interpelados acerca de um dos últimos projectos do Compêndio, expressaram em vastíssima maioria uma avaliação muito positiva.
4. Hoje, nesta véspera da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, a quarenta anos do encerramento do Concílio Ecuménico Vaticano II, sinto uma grande alegria ao entregar este Compêndio, por mim aprovado, não apenas a todos os membros da Igreja, aqui significativamente representados nos seus vários componentes, por todos vós que participais neste solene encontro. Mas através de vós venerados Irmãos Cardeais, Bispos, sacerdotes, catequistas e fiéis leigos desejo entregar idealmente este Compêndio também a cada pessoa de boa vontade, que deseje conhecer as riquezas insondáveis do mistério salvífico de Jesus Cristo.
Sem dúvida, não se trata de um novo Catecismo, mas do Compêndio que reflecte fielmente o Catecismo da Igreja Católica, que permanece tanto a fonte em que se inspirar para compreender melhor o próprio Compêndio, como o modelo para o qual olhar incessantemente, em vista de encontrar a exposição harmoniosa e autêntica da fé e da moral católica, e como o ponto de referência, que deve estimular o anúncio da fé e a elaboração dos Catecismos locais. Portanto, o Catecismo da Igreja Católica conserva intactas a sua autoridade e importância, e nesta síntese poderá encontrar um precioso encorajamento a ser melhor conhecido e utilizado como instrumento fundamental de educação na fé.
5. Este Compêndio é um renovado anúncio do Evangelho nos dias de hoje. Também por intermédio deste texto autorizado e seguro, "conservamos com desvelo a fé que recebemos da Igreja como afirma Santo Ireneu, cuja memória litúrgica celebramos hoje porque sob a acção do Espírito de Deus esta fé, como um depósito de grande valor encerrado num vaso precioso, rejuvenesce continuamente e faz rejuvenescer também o vaso que o contém" (Ireneu de Lião, Adversus haereses, 1, 10, 2: Sc 264, 158-160).
O Compêndio apresenta a fé da Igreja em Jesus Cristo. Com efeito, seguindo a estrutura quadripartida do Catecismo da Igreja Católica ele apresenta Cristo professado como Filho Unigénito do Pai, como Revelador perfeito da verdade de Deus e como Salvador definitivo do mundo; Cristo celebrado nos sacramentos, como fonte e sustentáculo da vida da Igreja; Cristo ouvido e seguido na obediência aos seus mandamentos, como manancial de existência nova na caridade e na concórdia; Cristo imitado na oração, como modelo e mestre da nossa atitude orante em relação ao Pai.
6. No Compêndio, esta fé é exposta de forma dialógica. Deste modo, deseja-se "voltar a propor como escrevi na introdução do Compêndio um diálogo ideal entre o mestre e o discípulo, mediante uma intensa sequência de interrogações, que comprometem o leitor, convidando-o a continuar na descoberta dos sempre novos aspectos da verdade da sua fé. Além disso, o género dialógico concorre também para resumir notavelmente o texto, reduzindo-o ao essencial. Isto poderia favorecer a assimilação e a eventual memorização dos conteúdos". A brevidade das respostas favorece a síntese essencial e a clareza da comunicação.
7. No texto foram inseridas também imagens, no início da respectiva parte ou secção. Esta opção tem como finalidade ilustrar o conteúdo doutrinal do Compêndio: com efeito, as imagens "proclamam a mesma mensagem que a Sagrada Escritura transmite através da palavra, enquanto ajudam a despertar e a nutrir a fé dos fiéis" (Compêndio, n. 240).
Desta forma, as imagens e as palavras iluminam-se umas às outras. Pelo menos implicitamente, a arte "fala" sempre acerca do divino, da beleza infinita de Deus, reflectida no Ícone por excelência: Cristo Senhor, Imagem do Deus invisível.
Com a sua beleza, as imagens sacras são também anúncio evangélico e exprimem o esplendor da verdade católica, mostrando a suprema harmonia entre o bom e o belo, entre a via veritatis e a via pulchritudinis. Enquanto dão testemunho da fecunda tradição secular da arte cristã, interpelam todos, crentes e não-crentes, à descoberta e à contemplação do fascínio inesgotável do mistério da Redenção, dando sempre um novo impulso ao processo vital da sua inculturação no tempo.
As mesmas imagens são, depois, reproduzidas nas várias traduções do Compêndio. Esta será uma forma de identificar facilmente e reconhecer tal texto na variedade das línguas: a única fé é professada por cada um dos credos, na multiplicidade dos contextos eclesiais e culturais.
8. No final, o texto compreende também um Apêndice, constituído por algumas orações comuns pela Igreja universal e por determinadas fórmulas catequéticas da fé católica.
A opção oportuna de acrescentar certas preces no final do Compêndio convida a encontrar de novo na Igreja um único modo de rezar, não só a nível pessoal, mas também no plano comunitário.
Em cada uma das traduções, a maior parte das orações será apresentada também em língua latina.
A sua aprendizagem, também nesta língua, facilitará a reza comunitária por parte dos fiéis cristãos pertencentes a diferentes línguas, especialmente quando se encontrarem congregados em particulares circunstâncias. Como já afirmei em 1997, por ocasião da apresentação da edição típica latina do Catecismo da Igreja Católica ao meu venerado Predecessor, "precisamente na multiplicidade das línguas e das culturas, o latim, por tantos séculos veículo e instrumento da cultura cristã, garante não só a continuidade com as nossas raízes, mas permanece mais relevante do que nunca para revigorar os vínculos da unidade da fé na comunhão da Igreja".
9. Agradeço do íntimo do coração a todos aqueles que trabalharam para a realização desta importante obra, em particular aos Cardeais membros da Comissão especial, aos redactores e aos especialistas: todos colaboraram com grande dedicação e competência. Que o Senhor Deus, que vê todas as coisas, os recompense e os abençoe na sua benevolência infinita.
Este Compêndio, fruto do seu cansaço mas sobretudo dom que Deus concede à Igreja neste terceiro milénio, dê um novo impulso à evangelização e à catequese, da qual dependem "não só a expansão geográfica e o crescimento numérico, mas também e muito mais ainda, o crescimento interior da Igreja e a sua conformidade com o desígnio de Deus" (Catecismo da Igreja Católica, n. 7).
Maria Santíssima e os Santos Apóstolos Pedro e Paulo sustentem estes bons votos com a sua intercessão, para o bem da Igreja e da humanidade.
E agora concedo-vos a todos, do íntimo do coração, a minha Bênção Apostólica.