ROMA, 20 de out de 2008 às 06:43
Manfred Lütz, psiquiatra consultor da Congregação do Clero da Santa Sé, responde em um extenso e interessante artigo a quem considera que a vivência do celibato não é "natural" e explica como esta opção dos sacerdotes e religiosos não só é necessária para a vivência plena de sua vocação, a direção espiritual, e é uma "provocação" ao mundo superficial que não acredita na vida depois da morte.
Em um artigo publicado em L'Osservatore Romano, o perito comenta que "o celibato é uma provocação. Em um mundo que já não acredita em uma vida depois da morte, esta forma de vida representa um protesto permanente contra a superficialidade coletiva. O celibato é a mensagem vivida que anuncia que o mundo terreno, com suas alegrias e dores, não o é tudo".
"Sem um pingo de dúvida –continua o psiquiatra– se com a morte terminasse tudo, o celibato seria uma idiotice. Por que renunciar ao amor íntimo de uma mulher, por que renunciar ao encontro profundo com os filhos, por que renunciar à sexualidade? Só se a vida terrena é uma parte que encontrará na eternidade seu cumprimento, então o celibato, como forma de vida, pode dar luzes a esta vida. Somente assim esta forma de vida anuncia em voz alta uma vida de plenitude, que foi já intuída por homens de muitas épocas, cuja realidade se fez visível a todos os homens só através de Jesus Cristo, em particular através de sua morte e Ressurreição milagrosa".
Depois de fazer um breve percurso do celibato na Igreja e como através dos tempos sempre foi estimado como de grande valor pelos fiéis, embora algumas crise nas que foi questionado como a do século XIX em Friburgo, Alemanha, o consultor da Congregação do Clero destaca como "aquele que não consegue renunciar ao exercício da sexualidade não está em capacidade" tampouco "de unir-se em vínculo matrimonial".
Para Manfred Lütz a maneira de ver a sexualidade que vê à mulher "como objeto de satisfação de um impulso pessoal, tem um rol chave na crítica do celibato". Explicando esta maneira de aproximar-se deste tema, o psiquiatra comenta que inclusive o casal em ocasiões não pode exercer sua "sexualidade genital plenamente, por exemplo por causa de uma enfermidade temporária ou por uma descapacidade permanente. Nesses casos, uma relação de casal verdadeiramente profunda não é destruída por isso, porém enriquecida. Do mesmo modo o assunto do celibato não deve concentrar-se apenas no assunto da sexualidade genital, senão que deve ver-se o celibato como uma forma de relação determinada, que permite uma relação profunda com Deus e uma fecunda relação com as pessoas confiadas ao cuidado pessoal do sacerdote".
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Logo depois de comentar que quando um sacerdote não reza o suficiente pode ser percebido pelas pessoas já não como um "homem de Deus" e gera frustração nele mesmo porque não pode realizar o serviço que lhe é próprio adequadamente, o consultor sublinha que, pelo contrário, quando um sacerdote "vive a própria fé com convicção e dá testemunho dela, é um guia espiritual fecundo de tal modo que gosta da alegria que surge da direção espiritual das almas".
"Para o sacerdote é importante também confessar aos fiéis, porque assim estabelece um contato existencial com as pessoas. O celibato faz ao sacerdote livre para as relações de direção espiritual intensas. Assim pode dedicar-se, já seja do ponto de vista do tempo ou do ponto de vista existencial, de modo mais amplo à direção espiritual respeito a quanto poderia fazer se estiver casado".
O perito psiquiatra indica além que "não é certo o que se escuta freqüentemente sobre que uma guia espiritual para casados seria melhor se fosse dada por esposos. Uma guia assim corre sempre o risco de reviver inconscientemente as experiências do próprio matrimônio e de transformar as próprias emoções em ações, sem refletir, por um mecanismo psicológico".
"Por isso –prossegue– necessita solidamente ser monitorada, para impedir que isto aconteça. Ao contrário, uma boa guia espiritual tem consideráveis experiências existenciais com muitos casais casados. E assim se pode chegar aos casos mais difíceis. Isto explica, por exemplo, a surpreendente fecundidade dos escritos sobre o matrimônio daquele grande pastor de almas que foi o Servo de Deus João Paulo II".
Finalmente e após explicar que o celibato não é para os narcisistas que procuram sempre que tudo gire sobre si mesmos, Lütz lembra que o sacerdote "deve sobre tudo interessar-se pelos outros seres humanos e suas misérias, deve esquecer-se de si mesmo, e deve fazer visível, por trás de suas palavras, o esplendor de Deus antes que suas próprias misérias".