Roma, 15 de set de 2009 às 07:32
O ex-primeiro Ministro da Inglaterra, Tony Blair, assinalou em uma entrevista ao L'Osservatore Romano que a religião, referindo-se concretamente à Igreja Católica, tem "um rol crucial no desenvolvimento" dos povos e sempre está orientada a obter o bem comum.
Blair, filho de um ateu militante e de mãe protestante, relata ao iniciar o extenso diálogo com o jornal oficioso do Vaticano como foi seu processo de conversão e que este se deu recentemente mas se iniciou há muito tempo quando conheceu sua esposa. "A fé foi sempre uma parte importante em nossa vida como família", comenta.
Logo depois de referir-se à maneira em que se faz política na Inglaterra em comparação aos Estados Unidos, aonde "a referência a Deus" é virtualmente uma obrigação, afirmou o Ex-Primeiro Ministro comentando a recente encíclica do Papa Bento XVI, Caritas in veritate, assegurando que "compartilho plenamente tudo o que o Santo Padre escreve nela, um texto brilhante que deve ser lido e re-lido".
"Considero que a religião tem um papel central, único ao interior da sociedade e para seu desenvolvimento. Pensemos, por exemplo, no modo que utilizamos a tecnologia. Mas é também certo que existe um conflito, porque muitas pessoas querem ter a religião fora da esfera pública".
Blair, que ainda tem temas pendentes como o aborto e as uniões homossexuais, sustenta logo que se for considerado que "a religião tem um papel importante, não significa que se acabem os debates e as oposições. Estes, ao contrário, prosseguirão em muitos temas em relação aos quais, provavelmente, a Igreja estará de uma parte e os líderes políticos de outra. Mas não acredito que este seja o assunto em questão: o assunto chave é que a fé tem pleno direito de entrar neste espaço e falar. Não deve calar".
Por isso, continua, "não é apenas importante que as coisas resolvam de modo justo, mas também que a voz da fé não esteja ausente do debate público (pensemos em temas como a justiça e a solidariedade entre os povos e as nações)".
Depois de advertir que também "se uma pessoa não for crédula e pode compreender a importância da fé, entender que a fé conta", o Ex Primeiro Ministro da Inglaterra considera que "a fé tem um papel único. A Igreja Católica segue a verdade de Deus e acredito que sobre isto o Papa se esforça tanto para fazer entender que este anúncio é uma obrigação cristã".
É certo, acrescenta, que "às vezes isto pode entrar em conflito com o mundo político e eu o experimentei como líder político. Entretanto é extremamente importante que exista este aspecto religioso: não por gosto o Papa escreve que um humanismo sem Deus é desumano".
"Acredito que assim ele (o Papa) busca precisar que as ações humanas e a razão humana estarão sempre limitadas se não forem permeadas pela fé, e inclusive às vezes poderiam, sem ela, ser perigosas", acrescenta.
Ao comentar o fato de que quando a Igreja fala de algo permite que isto avance na política, Blair relatou o caso da ajuda à África por parte do G8 e como o fato de que João Paulo II se referiu ao tema "e que esta posição tenha sido fortemente pela Igreja, pode ajudar efetivamente ao político a fazer a eleição justa".
Referindo-se à centralidade da família na sociedade e comentando sua própria experiência como pai de três filhos, Tony Blair assinala que "neste campo as comunidades religiosas e a Igreja têm um papel que cumprir. É certo, as famílias têm problemas e seus desafios e isso não vai deixar de acontecer. Mas sempre pensei que as indicações da Igreja em matéria de família são úteis".