Em uma entrevista coletiva concedida ontem na Sede da CNBB em Brasília, Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da entidade afirmou sobre as recentes ações do Bispo de Guarulhos, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, que estas estiveram “dentro da normalidade”. Em julho deste ano o bispo de Guarulhos escreveu um artigo orientando os fiéis a não votarem por candidatos que proponham a liberação do aborto e chegou a ser ameaçado de morte. Dom Lyrio Rocha destacou que cada bispo tem o direito de orientar os fiéis de sua diocese como desejar e que a CNBB não tem qualquer poder de interferência em dioceses. “Acima do bispo no governo da Igreja só existe uma autoridade: o Papa”, afirmou o presidente da CNBB quem também desmentiu que haja uma ruptura no episcopado brasileiro sobre o tema do aborto.

Nesta quinta-feira (21) o presidente da Conferência, Dom Geraldo Lyrio Rocha, do secretário-geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa, deram uma entrevista coletiva em Brasília para apresentar o material da Campanha da Fraternidade 2011 e falar um pouco sobre o momento eleitoral. Neste contexto Dom Geraldo Lyrio Rocha, afirmou que cada bispo tem o direito de orientar os fiéis de sua diocese como desejar e que a CNBB não tem qualquer poder de interferência em dioceses. Dom Geraldo destacou também que "a CNBB não aponta candidatos nem partido, ela indica critérios para que o cidadão cristão, orientado nesses critérios, possa exercer o voto."

"Tenho uma admiração muito grande por Dom Luiz Gonzaga Bergonzini e os seus procedimentos estão dentro daquilo que a Igreja espera. Ele tem o direito e até o dever de, de acordo com sua consciência, orientar seus fiéis do modo que julga mais eficaz mais conveniente. Ele está no exercício de seus direitos como bispo diocesano de Guarulhos e cada instância fala só para o âmbito de sua competência, tanto que ele não se dirigiu à nação brasileira. Este procedimento está absolutamente dentro da normalidade no modo como as coisas da Igreja se encaminham", afirmou o presidente da CNBB.
 “Acima do bispo no governo da Igreja só existe uma autoridade: o papa”, destacou.

O presidente da entidade considerou positivo que o tema do aborto esteja sendo discutido na eleição. Ele reconheceu que há posições "reduzidas" sobre o tema, mas afirmou que as discussões sobre "valores" não podia ficar fora da eleição. "Acho que a moeda sempre tem dois lados, se há inconvenientes de um lado, há uma vantagem enorme do outro. O tema (aborto) foi colocado em pauta e não se podia entrar em um processo eleitoral sem trazer à tona temas dessa natureza de máxima relevância".

Além disso, o arcebispo afirmou que o fato de o Brasil ser um "Estado laico" não impede o debate sobre temas ligados à religião nas eleições. "Estado laico não é sinônimo de estado ateu, antireligioso ou areligioso. O estado brasileiro é laico, mas a sociedade brasileira não é laica, é profundamente religiosa, não estou dizendo só católica, mas evangélica, afro, dos cultos indígenas".

Dom Geraldo ressaltou que a laicidade do Estado deve garantir à Igreja o direito de se pronunciar sobre quaisquer questões. “O argumento de que o Estado é laico, às vezes, é mal usado. Por que a Igreja não pode expressar o seu ponto de vista a respeito dessas questões? A Igreja está propondo à sociedade aquilo que é da sua convicção. Um Estado laico deve garantir que a Igreja Católica expresse sua posição, como também as outras religiões, porque se Estado Laico for confundido com o Estado que não permite posições discordantes, não vamos ter um Estado Laico, mas uma ditadura laica”.

“O Estado é laico, mas a sociedade brasileira é profundamente religiosa: católica, evangélica, dos cultos afros, indígenas. É por esse motivo que todas as religiões podem e devem expressar o seu ponto de vista sobre determinado assunto”, destacou Dom Geraldo.

O presidente da CNBB destacou que a Igreja defende a vida em todas as suas dimensões. A Igreja “defende a vida em todas as suas fases nas suas várias dimensões, seja a vida ameaçada, seja a dos povos indígenas ou a vida de idosos. Sobre isso não há discordância no episcopado. Os bispos estão unânimes nessa posição de defesa e respeito à vida”, desmentindo que o atual momento eleitoral tenha causado uma ruptura entre os prelados brasileiros.

“Em um país como o nosso que tem uma Conferência com quase 450 bispos e, sobretudo, em um clima de liberdade que a Igreja procura cultivar, é perfeitamente compreensível que aqui ou ali alguém dê acentuação maior num aspecto e noutro. Não é porque eu discordei de você que eu devo interpretar que está havendo um racha. Mesmo que tenha havido uma acentuação maior ali e outra aqui, esses temas (aborto) foram postos na pauta das eleições 2010. O estranho seria se nós chegássemos ao final do segundo turno sem que assuntos dessa gravidade tivessem entrado em pauta”, concluiu Dom Geraldo.

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