MADRI, 17 de out de 2012 às 10:55
Um total de 350 milhões de cristãos são perseguidos ou sofrem discriminação em 90 países do mundo, dos quais 200 milhões são objeto de alguma forma de perseguição e 150 milhões vivem em países onde são descriminados, indicou o diretor da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) na Espanha, Javier Menéndez Ros.
Neste sentido, o diretor apontou que o perfil do cristão perseguido é "muito variado", mas que em países de maioria islâmica ou onde representam um 0,1 ou 0,2 por cento do total da população, trata-se de "um cristão que vive de uma forma alegre sua fé, às escondidas às vezes, em dificuldades, mas com um imenso amor a seus irmãos de outras religiões".
Assim afirmou o encarregado durante a apresentação do relatório 'Liberdade religiosa no mundo' correspondente aos anos 2011 e 2012. Além disso, em um vídeo emitido pela apresentação do estudo, especifica-se que os cristãos supõem 75 por cento do total dos 466 milhões de fiéis perseguidos ou discriminados em todo o mundo e se destaca que, entre o ano de 2003 e 2010, os ataques terroristas contra os cristãos aumentaram em "309 por cento".
Concretamente, Menéndez Ros apontou que a liberdade religiosa, longe de melhorar nestes últimos dois anos, tem diminuído, e destacou o caso de países como Líbia, Egito ou Tunísia onde se gozava de "uma certa estabilidade política e uma certa proteção das minorias", mas que agora, como resultado da Primavera Árabe, a situação de insegurança pública levou a que muitos cristãos, como os coptos no Egito tenham tido que fugir.
Além disso, indicou que na Líbia, uma das primeiras declarações do novo governo foi a instauração da Lei Islâmica "em sua forma mais radical que afeta os direitos fundamentais de expressar publicamente o credo e de converter-se a religiões distintas ao Islã".
Sobre o caso da Síria, o responsável de comunicação da AIS, Javier Fariñas, indicou que é necessário ser "muito prudentes" porque há muito tempo existem "vai-e-vens" que fazem que o futuro do país seja "incerto", mas afirmou que a Primavera Árabe tem levado ao fim de regimes políticos muito duros, mas essa queda porém "não supôs a chegada de uma liberdade sobretudo para as minorias".
Do mesmo modo, Menéndez Ros denunciou a Lei da Blasfêmia no Paquistão e enumerou alguns países africanos que estão sofrendo uma "radicalização na expressão de seu islamismo" como o Quênia, com ataques contra Igrejas protestantes e católicas; Mali, que está convertendo-se, conforme assinalou, em um "ninho de formação terrorista que nutre a África de jihadistas, o Oriente Médio e a Ásia"; ou a Nigéria, onde são atacados não só os cristãos com atentados às Igrejas e assassinatos mas os próprios muçulmanos.
Igualmente, manifestou a falta de respeito à liberdade em geral e à religiosa em particular na China onde, conforme aponta o relatório, aumentou a pressão aos bispos para que compareçam aos atos da igreja oficial patriótica, ou APC (NdT: Associação Patriótica Chinesa: órgão subordinado ao partido comunista chinês que vem casusando rupturas com Roma pelos casos de ordenações episcopais sem mandato pontifício).
O caso da Espanha: violação aos sentimentos religiosos
Como exemplo da realidade da liberdade religiosa da Europa, citando o caso da Espanha, embora tenha advertido de que exista liberdade religiosa, Menéndez Ros sublinhou que o respeito aos símbolos e sentimentos religiosos da nação "está sendo violados sistematicamente" através de manifestações como filmes ou exposições fotográficas que, conforme precisou, "em teoria defendem a liberdade de expressão, mas na prática atacam os princípios cristãos, crenças e sensibilidades mais básicas".
Para o diretor da AIS na Espanha, esta situação é "preocupante " somando-se ao fato de que "há uma cada vez mais maior discriminação da presença dos cristãos na ordem pública" provocando uma marginalização "bastante notável".
Neste sentido, referiu-se às caricaturas sobre Maomé que ele rechaça "profundamente" assim como "qualquer ofensa a qualquer religião e qualquer dos seus símbolos".
"Não vamos responder com bombas, mas pedimos esse respeito", sublinhou.
Não obstante, destacou que, apesar de que na Europa tenha crescido o "laicismo mais agressivo", também aumentou a "conscientização" sobre a perseguição e discriminação religiosa por parte do Parlamento Europeu graças à influência de grupos católicos. Entretanto, Menéndez Ros pediu que as intenções da Eurocâmara não fiquem em "meras declarações", mas que estejam acompanhadas de medidas políticas e sanções diplomáticas e econômicas àqueles países que não respeitem a liberdade religiosa.