O sacerdote jesuíta argentino, Padre Guillermo Ortiz, diretor da seção espanhola da Rádio Vaticano, fez uma reflexão sobre a filtração das conversações privadas do Papa com algumas das pessoas que recebe, depois da confusão originada pela publicação de uma revista chilena afim à teologia da libertação na qual afirma que o Santo Padre teria se referido à existência de "um lobby gay" no Vaticano.

Sem confirmar ou desmentir estas falas atribuídas pela revista chilena ao Papa em sua audiência privada com a diretiva da Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos (CLAR) -que logo esta organização desmentiu- o Padre Ortiz indicou que se o Santo Padre disser que "’sim!, este problema existe, veremos o que se pode fazer’. Por um lado ele compartilha uma preocupação como pai de uma família grande e por outro, dá a entender que conhece o tema e que tem a vontade de fazer mudanças, que tomará decisões".

O diretor da Rádio Vaticano em espanhol assinalou que o Papa recebe muita gente, em ocasiões ao redor de 100 pessoas em apenas um dia, e nessas reuniões ele "escuta, responde, compartilha as preocupações dos outros e as suas".

"O Papa sabe muitas coisas, como o que os cardeais disseram nas Congregações Gerais antes do Conclave, por exemplo, o pedido unânime da reforma da cúria", disse.

O sacerdote jesuíta indicou que "em alguns casos, devemos superar a tentação de contar o que falamos com o Papa", pois "é difícil não tirar de contexto palavras de uma conversação privada; que não possam ser interpretadas de forma diferente".

Entretanto, apontou que "se o Bispo de Roma quer que algo se conheça é por um bem. Por exemplo, para uma maior transparência".

"A Igreja foi e ainda é acusada de tapar, ocultar, de fazer o contrário de curar, sanar, limpar; que requer sempre um diagnóstico preciso e muitas vezes ‘resolver de uma vez’. Francisco não oculta os problemas", assinalou.

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"Paulo VI disse em seu tempo que a fumaça de Satanás tinha entrado na Igreja. Antes de ser Papa, Ratzinger afirmou que na Igreja havia muita sujeira", recordou.

Para o diretor da Rádio Vaticano, "além da nossa maior ou menor prudência e discrição para difundir o que o Papa fala, quando Francisco fala, dá também uma mensagem para que pensemos".

"Ao compartilhar uma preocupação que depois se faz pública", apontou o Padre Ortiz, o Papa "está dando uma oportunidade ao corrupto ou ao que faz mal para que mude e se converta".

A atitude de Francisco "é uma atitude de misericórdia. E isto não se consegue discretamente ou ocultando e precisa de tempo".

"Estamos em um processo, uma mudança de mentalidade onde aparece não somente a capacidade de condução, mas também a sabedoria do Sucessor de Pedro", assinalou.

O sacerdote jesuíta sublinhou também que o Papa Francisco "reflete em voz alta, compartilha", por isso não se deve procurar em suas palavras "decisões imediatas. Algo assim como: se disse que são Pedro não tinha um banco, com certeza fechará o IOR".

"Antes de decidir e agir temos que pensar, escutar, refletir e discernir. E o Bispo de Roma neste tempo escuta, consulta e pergunta, diz. Escuta o evangelho do dia, por exemplo, pensa nele, reflete e compartilha seu pensamento com os presentes na missa da Santa Marta ou nos encontros e audiências privadas ou públicas".

O Padre Ortiz sublinhou que os católicos "temos que distinguir entre a explicação que pode dar sobre os fundamentos de uma decisão importante e os diferentes elementos que fazem parte de um discernimento, de uma reflexão ou o desenvolvimento de um pensamento compartilhado".

"O estilo de Francisco é o diálogo, tanto quando faz perguntas ou responde as do auditório, como quando numa homilia integra o que outra pessoa poderia pensar ou sentir de diferente frente ao tema", indicou.

O diretor da Rádio Vaticano indicou também que o convite do Papa ao Sínodo dos Bispos em 13 de junho, a "ir adiante com liberdade" e "sem medo", "parece-me algo mais que uma saudação. É um programa".

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