O jornal italiano La Repubblica publicou hoje uma entrevista feita ao Papa Francisco na qual o Santo Padre se refere a uma série de temas importantes como o governo da Igreja, seus santos favoritos, sua vocação sacerdotal, o lugar da Cúria do Vaticano, entre outros.

A entrevista foi publicada nesta terça-feira 1º de outubro, mesmo dia em que se iniciou no Vaticano a reunião do Santo Padre com o Conselho de oito cardeais, criado por ele, para tratar o tema da renovação da Cúria. Sobre estes assessores, o Santo Padre afirma que "não são cortesãos, são pessoas sábias que compartilham os meus sentimentos. Este é o princípio de uma Igreja com uma organização que não é somente de cima para baixo, mas também horizontal".

O diálogo do diretor de La Repubblica com o Papa aconteceu na terça-feira 24 de setembro e para coordenar o encontro foi o mesmo Santo Padre quem ligou para o jornalista. Na entrevista o Pontífice conta como foram os momentos prévios a sua aceitação da eleição como Papa em março de 2013 e fala também dos seus santos favoritos, São Francisco e Santo Agostinho..

Na entrevista o Santo Padre recorda que "o Filho de Deus se encarnou para infundir na alma dos homens o sentimento da fraternidade. Todos irmãos e todos filhos de Deus. Abbá, como Ele chamava o seu Pai. Eu marco o caminho, dizia. Quem me segue, segue o Pai e serão todos seus filhos... O ágape, o amor de cada um de nós aos outros, desde o mais próximo até o mais afastado, é a forma que Jesus nos indicou para encontrar o caminho da salvação e das Bem-aventuranças".

Questionado sobre o narcisismo como algo que Scalfari considera "válido" e "positivo", o Papa afirma que "eu não gosto da palavra narcisismo, indica um amor desmedido por nós mesmos e isto não está bem, pode gerar danos graves não só na alma de quem o sofre, mas também na relação com os outros, com a sociedade onde vive. O principal problema é que os mais afetados por isso, que na verdade é uma espécie de desordem mental, são pessoas que têm muito poder. Com frequência os chefes são narcisistas".

Scalfari afirma logo "também alguns chefes da Igreja o foram", e o Papa responde "sabe o que penso sobre este ponto? Os chefes da Igreja foram com frequências narcisistas, vaidosos e erroneamente estimulados pelos seus cortesãos. A corte é a lepra do papado", disse o Santo Padre logo e explicou em seguida que a Cúria não é a corte do papado embora nela "provavelmente haja cortesãos".

"Na sua complexidade –continuou–, é algo diferente. É a que na prática administra os serviços que servem à Santa Sé. Mas tem um defeito: é vaticanocêntrica. Cuida dos interesses do vaticano, que são ainda em grande medida interesses temporais. Esta visão centrada no Vaticano descuida o mundo que nos rodeia. Eu não compartilho este ponto de vista e farei o que esteja ao meu alcance para muda-lo".

"A Igreja é ou deve voltar a ser a comunidade do povo de Deus e os presbíteros, os sacerdotes, os bispos preocupados com as almas, a serviço do povo de Deus. A Igreja é isso, uma palavra não surpreendentemente diferente da Santa Sé que tem o seu próprio papel importante, mas que deve estar a serviço da Igreja", assinalou o Papa.

"Eu não poderia ter a plena fé em Deus e no Seu Filho se não tivesse me formado na Igreja e tive a sorte de me encontrar, na Argentina, em uma comunidade sem a qual eu não teria tomado consciência de mim mesmo e da minha fé", acrescentou.

O Papa Francisco diz a Scalfari que em um próximo encontro poderão falar sobre o papel da mulher na Igreja.

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