ROMA, 24 de out de 2013 às 16:35
O jornal italiano La Repubblica publicou uma entrevista ao Arcebispo Víctor Manuel Fernández, reitor da Pontifícia Universidade Católica Argentina "Santa María de los Buenos Aires" titulada "Basta com os padres que vivem no luxo e lhes explico a revolução de Francisco". O Prelado disse que a Igreja, para sair de si mesma e chegar a todos, precisa adaptar o seu modo de pregar.
No último dia 13 de maio, o Papa Francisco designou Arcebispo ao então sacerdote Víctor Manuel Fernández. Sua ordenação episcopal se realizou em 15 de junho e o principal consagrante foi o Arcebispo de Buenos Aires, Dom Mario Aurelio Poli.
Na entrevista publicada no domingo, Dom Fernández indicou que o Santo Padre aplica um critério que foi proposto pelo Concílio Vaticano II, conhecido como "a hierarquia das verdades" e explicou que o problema é que "muitas vezes os preceitos da doutrina moral da Igreja são propostos fora do contexto que lhe dão significado", o que faz que "não manifestem por inteiro o coração da mesma mensagem".
O Arcebispo precisou que, por exemplo, o então Cardeal Bergoglio costumava dizer "que se um pároco em um ano fala dez vezes de moral sexual e somente duas ou três do amor fraterno ou da justiça, é evidente que há uma desproporção". E o mesmo, acrescentou, "se fala muito contra o matrimônio homossexual e pouco da beleza do matrimônio".
Dom Fernández adicionou: "Se não brilha com força e atração, a moral da Igreja corre o risco de cair como um castelo de naipes. E aqui está o maior perigo".
O reitor da UCA sustentou que o Papa deseja prosseguir com o espírito de renovação e reforma da Igreja que vem do mesmo Concílio. "Por isso está fora de qualquer obsessão ideológica e quer levar a Igreja fora de si mesma para poder chegar a todos", explicou.
Dom Fernández também se referiu às mensagens que o Cardeal Bergoglio dirigiu à classe política durante os Tedeums. Sustentou que as homilias foram muitas vezes interpretadas em chave política, quando na realidade nenhum funcionário pode afirmar "que teve Bergoglio como aliado político", seja de esquerda ou de direita.
"Penso que quem tem alguma forma de poder, também eclesiástico, não pode deixar de sentir sobre si mesmo a espora de Bergoglio como um espinho ao lado, porque ele é e será sempre intérprete de quem não tem poder", precisou.
Dom Fernández recordou que no ano 2000, o então Arcebispo de Buenos Aires expressou o desejo de que o poder "não seja um privilégio inexpugnável". Isto, assegurou, vale para um presidente, um governador ou um homem de negócios, um cardeal e para os membros da cúria romana.
O reitor da UCA considerou que existiu "uma certa afinidade" do Papa com o peronismo, mas na medida em que este movimento assumiu valores da Doutrina Social da Igreja. Entretanto, reconheceu que isto não significa que o Cardeal Bergoglio tenha apoiado alguma vez algum poder político.
O Arcebispo falou da pregação sobre a pobreza: "não é um amor ao sacrifício por si mesmo nem uma obsessão pela austeridade", mas é "colocar Deus e os outros no centro da própria vida".
"Ele não gosta dos sacerdotes príncipes, que realizam férias muito custosas, ou jantam nos melhores restaurantes, com os objetos de ouro ostentados em cima das vestimentas, ou as visitas contínuas às pessoas potentes".
Dom Fernández considerou finalmente que o mais importante da reforma da cúria romana não se deve atar a sua estrutura, mas a desenvolver melhor "outras formas de participação", como os sínodos, as assembleias das conferências episcopais e as consultas aos leigos.