MADRI, 15 de jan de 2014 às 12:54
A criação de 19 novos cardeais, doze dos quais não são europeus, poderia responder à intenção do Papa de "universalizar" o Colégio Cardinalício "de cara a eleições futuras", explicaram os sacerdotes Josep Ignasi Saranyana (doutor em filosofia e teologia) e Santiago Casa, perito em História da Igreja Contemporânea, ambos professores da Universidade de Navarra, Espanha.
Nesta linha Pe. Saranyana recordou que a eleição de um número relativamente baixo de bispos italianos e europeus responde "a um processo que já havia sido iniciado por Bento XVI" e assegurou que o que "o Papa Francisco veio a confirmar e ampliar esses esforços".
Pe. Josep indicou a Europa Press que o "excessivo" peso dos bispos italianos entre o consistório dos cardeais se deve a que "Itália tem uma história muito própria e está repleta de bispos, com dioceses que são pouco mais que uma cidade com arredores", o que provoca que "em toda a Idade Moderna ela tenha tido um controle muito forte da cúria vaticana".
Por sua parte, o professor Santiago Casas apontou também que o fato de que os bispos de países não europeus "já tenham uma carreira mais ou menos longa" torna ainda mais fácil a nomeação de cardeais de outras regiões e recordou que "antes se mandava bispos a outros países da Europa".
Do mesmo modo, assinalou também que o limite de cardeais eleitores fica tradicionalmente em 120, embora em ocasiões chegou a apenas 15. Por esta razão, acredita que entre as possíveis nomeações "havia possivelmente outros bispos europeus ou italianos que ficaram fora para não ultrapassar muito este limite".
Deste modo, considera que não se trata de uma "descentralização" da Igreja Católica mas de uma "abertura aos países onde o catolicismo tem maior força", colocando alguns casos entre os quais destacou a Argentina e Haiti.
Nos casos como o país Caribenho ou Burkina Faso, que terão seus primeiros cardeais da história de suas Igrejas, o pontífice "mostra sua atenção para os países que foram provados pela pobreza", conforme assegurou o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, que destacou também outras "figuras" escolhidas pelo Papa como a do italiano Don Capovilla, que foi secretário pessoal do papa João XXIII, que será canonizado dentro de pouco.
Além disso, o professor Casas recordou que alguns dos bispos que serão criados cardeais no próximo mês de fevereiro provêm de sedes episcopais "que tradicionalmente não são cardinalícias", como é o caso de Perugia, na Itália, ou Cotabato, em Filipinas.
Ainda assim, Pe. Santiago reconheceu que a nomear novos cardeais "foi uma decisão muito pessoal, respeitando sempre uma proporção" e assinalou que "é lógico que se ele conhece melhor os bispos americanos haja uma maior proporção destes nas nomeações".
Neste sentido, destacou a nomeação de um novo cardeal em Buenos Aires "que em dez anos passou de ser bispo auxiliar a cardeal" ou do arcebispo emérito de Pamplona e Tudela, Fernando Sebastián, que será cardeal não eleitor, devido a sua idade (85 anos) e "que é um dos bispos que melhor conhece a Espanha".