Vaticano, 23 de jan de 2017 às 09:30
Na última sexta-feira, o Papa Francisco concedeu uma entrevista ao jornal espanhol El País, na qual mencionou a situação dos migrantes, a situação internacional e da realidade latino-americana, onde se desenvolveu a teologia da libertação.
No diálogo, publicado no sábado, 21 de janeiro, o jornal espanhol perguntou a Francisco: “Você acredita que, depois da tentativa fracassada da teologia da libertação, a Igreja perdeu muitas posições em benefício de outras confissões e inclusive de seitas? Por que isto aconteceu?”.
O Papa respondeu: "A teologia da libertação foi uma coisa positiva na América Latina. Foi condenada pelo Vaticano a parte que optou pela análise marxista da realidade. O Cardeal (Joseph) Ratzinger escreveu duas instruções quando era Prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé. Uma muito clara sobre a análise marxista e a outra olhando para os aspectos positivos. A teologia da libertação teve aspectos positivos e desvios, especialmente na análise marxista da realidade”.
Francisco nunca apoiou os postulados de Gustavo Gutiérrez
O Papa Francisco nunca apoiou os postulados de Gustavo Gutiérrez, sacerdote peruano conhecido como o propulsor da teologia marxista da libertação, afirmou em 2013, o padre jesuíta argentino Juan Carlos Scannone no livro ‘Francis Our Brother Our Friend’ (Francisco Nosso Irmão Nosso Amigo) (Ignatius Press, 2013), do diretor de ACI Prensa, Alejandro Bermudez.
O Pe. Scannone, um dos representantes mais conhecidos da teologia da libertação na América Latina, foi um dos professores do jovem Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco) durante o seu período de formação. “Na teologia da libertação há diferentes correntes e há uma que é a corrente Argentina”, explicou o Pe. Scannone.
O sacerdote recorda que “o Cardeal Quarracino (antecessor do Cardeal Bergoglio como Arcebispo de Buenos Aires) apresentou ao L’Osservatore Romano o primeiro documento da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a teologia da libertação e ele distinguiu quatro correntes, citando sem nomear um artigo que eu tinha escrito dois anos antes”.
“E há uma corrente argentina, que o mesmo Gustavo Gutiérrez diz que é uma corrente com características próprias da teologia da libertação, que nunca usou categorias do tipo marxista ou a análise marxista da sociedade, mas sem desprezar a análise social privilegia uma análise histórica cultural”, explicou.
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Em seguida, o perito jesuíta disse: “Na teologia argentina da libertação não se usa a análise social marxista, mas se usa preferentemente uma análise histórico-cultural, sem desprezar o sócio-estrutural e sem ter como base a luta de classes como princípio determinante de interpretação da sociedade e da história”.
Segundo Scannone, “a linha argentina da teologia da libertação, que alguns chamam ‘teologia do povo’, ajuda a compreender a pastoral de Bergoglio como bispo; assim como muitas de suas afirmações e ensinamentos”.
Para o Padre Scannone, “há coisas que acredito que marcaram de maneira especial o Cardeal Bergoglio, sobretudo o tema da evangelização da cultura, o tema da piedade popular. Uma coisa muito de Bergoglio é falar do povo fiel. Quando saiu à sacada (de São Pedro, quando foi eleito Papa), o primeiro que fez foi pedir que o povo rezasse por ele para que Deus lhe abençoe, antes de abençoar o povo. Isso é muito dele”.
Scannone acrescentou que “este tipo de teologia” sem categorias marxistas fez parte “do ambiente no qual ele exerceu a sua pastoral. De fato, a problemática da piedade popular e da evangelização da cultura, e inculturação do Evangelho, é chave nesta linha teológica”.
Confira também:
Quando Bergoglio derrotou os teólogos da libertação, recorda Dom Filippo Santoro: http://t.co/sKvCLMFfvS
— ACI Digital (@acidigital) 3 de outubro de 2013