Em uma carta enviada aos seus alunos e colegas de colégio, o Papa Francisco respondeu a uma pergunta que talvez alguns católicos tenham se perguntado: "Por que o Papa não envia à Argentina a sua opinião sobre o aborto?"

Na carta, compartilhada pela Conferência Episcopal Argentina no sábado, 5 de dezembro, o Santo Padre disse que entre as cartas que recebeu "de gente que está na política" argentina, em uma última carta "falavam sobre o problema do aborto".

“Eu respondi como sempre fiz (inclusive no último livro 'sonhemos juntos' que sai hoje; o assunto do aborto não é primariamente religioso, mas humano, um assunto de ética humana anterior a qualquer confissão religiosa. E sugiro que se façam duas perguntas: 1) É justo eliminar uma vida humana para resolver um problema? 2) É justo contratar um matador de aluguel para resolver um problema? Acho engraçado quando alguém diz: Por que o Papa não envia à Argentina a sua opinião sobre o aborto? Pois estou enviando-a para todo o mundo (inclusive para a Argentina) desde que sou Papa”, foi a resposta do Pontífice.

Em sua carta, o Papa Francisco aproveitou para abordar "outro problema" relacionado: a tergiversação de suas falas nos meios de comunicação.

“Em geral lá [Argentina] não se sabe o que digo habitualmente, se sabe o que dizem que eu digo, e isso graças aos meios de comunicação que, bem sabemos, respondem a interesses parciais, particulares ou partidários”, lamentou o Santo Padre.

Neste contexto, disse que “os católicos, desde o episcopado até os fiéis de uma paróquia, têm o direito de saber o que o Papa realmente diz ... e não o que os meios o fazem dizer; aqui o fenômeno do relato conta muito (Ex. Fulano me disse que sicrano disse isso... e assim continua a rede)”. “Com esse método de comunicação, no qual cada um acrescenta ou retira algo, chega-se a resultados inverossímeis”, acrescentou.

“Duas vezes - continuou - mencionam meu relacionamento (proximidade, amizade) com a Sra. De Kirchner. A última vez que tive contato com os dois ex-presidentes (ela e o Eng. Macri) foi quando estavam em suas funções”.

“Depois disso não tive mais nenhum contato com eles”, sublinhou.

Sobre algumas notícias jornalísticas que afirmam que o Papa Francisco é contra a propriedade privada, esclareceu que não faz "nada além de repetir a Doutrina Social da Igreja".

“É verdade que alguns tomam essas palavras para reformá-las ou interpretá-las de acordo com seu ponto de vista. São Paulo VI e São João Paulo II, a esse respeito, têm algumas expressões ainda mais duras. Acho que nas paróquias e nas escolas católicas a Doutrina Social da Igreja não é suficientemente explicada, especialmente o percurso de Leão XIII até agora; por isso que há tantas confusões. Um santo bispo, cuja causa de canonização foi apresentada, disse: 'Quando eu cuido dos pobres, dizem que eu sou um santo; mas quando pergunto sobre a causa de tanta pobreza, eles me chamam de comunista'”, explicou.

Em outro ponto da carta, confessou que está preocupado com algumas situações que estão ocorrendo atualmente na Argentina.

“Devo confessar que não estou informado sobre tudo o que acontece lá, em detalhes. A Secretária de Estado me informa sobre o andamento dos países uma vez por semana. Fazem isso bem e com reuniões. Lá eu fico sabendo das coisas da Argentina e confesso que algumas me preocupam”, escreveu.

Para ler a carta na íntegra, clique AQUI.

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Pronunciamentos do Papa Francisco sobre o aborto

Há uma semana, o Papa Francisco referiu-se ao aborto ao responder a um grupo de mulheres de cidades argentinas que expressaram preocupação com o projeto de lei para legalizar esta prática apresentado pelo presidente Alberto Fernández.

“Sobre o problema do aborto, é preciso ter presente que não é um assunto primariamente religioso, mas de ética humana, anterior a qualquer confissão religiosa. É justo eliminar uma vida humana para resolver um problema? É justo contratar um matador de aluguel para resolver um problema?”, perguntou.

No final de setembro de 2020, o Papa denunciou perante a 75ª Assembleia Geral da ONU, que muitos “países e instituições internacionais estão promovendo o aborto como um dos chamados 'serviços essenciais' na resposta humanitária”.

“É triste ver como se tornou simples e conveniente, para alguns, negar a existência da vida como solução para problemas que podem e devem ser resolvidos tanto para a mãe como para o nascituro”, denunciou.

Outra rejeição ao aborto ocorreu durante entrevista ao jornalista espanhol Jordi Évole, transmitida em 31 de março de 2019 pelo canal La Sexta. Dada a preocupação do entrevistador sobre se ele entenderia uma mulher que pensa em fazer um aborto após sofrer um estupro, o Santo Padre ressaltou que “eu a entenderia em seu desespero, mas também seu que não é lícito eliminar uma vida humana para resolver um problema”.

O Papa Francisco mais uma vez se posicionou contra o aborto no sábado, 2 de fevereiro do mesmo ano, durante uma audiência que concedeu ao Movimento pela Vida do Vaticano. Assegurou-lhes que “aqueles concebidos são filhos de toda a sociedade, e seu assassinato em grande número, com a aprovação dos Estados, constitui um grave problema que prejudica na base a construção da justiça, comprometendo a solução adequada de qualquer outra questão humana e social”.

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Um ano antes, na Audiência Geral de 10 de outubro de 2018, o Pontífice condenou firmemente o aborto e lembrou que não só não é um direito, mas é, inclusive, um crime: “É como contratar um matador de aluguel para resolver um problema”.

Após sua visita ao México, de 12 a 16 de fevereiro de 2016, o Papa Francisco proferiu uma de suas mais veementes condenações ao aborto no voo que o levou a Roma. “O aborto não é um ‘mal menor’. É um crime. É descartar um para salvar o outro. É aquilo que a máfia faz, eh? É um crime. É um mal absoluto”, disse naquela ocasião.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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