KONIGSTEIN, 6 de ago de 2015 às 15:18
Diante do sofrimento vivido em meio à perseguição, os cristãos na Síria encontram no chefe da Igreja Greco-Católica Melquita, Patriarca Gregório III Laham, a presença constante da Igreja ao lado deles. Em recente visita à sede internacional da Obra de caridade pastoral Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), em Königstein, na Alemanha, o Patriarca contou como tem buscado apoiar esses cristãos. “Nós, pastores, permaneceremos com o nosso rebanho, para morrer por eles e com eles. Vamos ficar para que as pessoas possam ter a vida”.
Na Síria, a população ainda sofre com a guerra civil, iniciada em março de 2011. Desde então, a Ajuda à Igreja que Sofre tem apoiado projetos de apoio pastoral e ajuda humanitária no país, num valor de 29 milhões de reais.
Desde que começou o surto de violência na Síria, a situação humanitária tem se deteriorado continuamente. A violência levou ao assassinato de milhares de pessoas, algumas alvejados deliberadamente. Cerca de 9 milhões de pessoas vivem nas regiões em guerra e são afetadas por ela direta ou indiretamente. Condições cada vez piores e a violência cada vez maior fazem com que seja mais difícil os civis encontrarem refúgio em outras cidades.
Em meados de 2014, a ONU estimou que cerca de 10,8 milhões de pessoas na Síria tinham necessidade de assistência humanitária e 6,8 milhões são refugiados, a metade deles crianças. O número total de refugiados sírios registrados ou em aguardo de registro nos países vizinhos já passa dos 3,2 milhões de pessoas. Dentro do país, a ajuda internacional está reduzida devido ao número limitado de entidades autorizadas a fornecer assistência humanitária na Síria.
Ao site da AIS, o Patriarca explicou que, apesar de todo o mal e sofrimento que foi causado ao povo na Síria, não gosta de ouvir a palavra inimigo. “Pode-se dizer que alguém é um assassino. Isso é um fato objetivo quando uma pessoa já matou outra pessoa. Ao fazer isso ele lhe causou feridas. Mas quando você fala de ‘inimigos’, você está expressando seus próprios sentimentos internos. É algo que está dentro de você mesmo, em vez de estar nele”.
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O estado de medo e o horror entre os sírios aumenta diante dos terríveis relatos sobre o Iraque e a atuação do Estado Islâmico, que tem objetivo de estabelecer um califado sob a lei islâmica. Mesmo frente ao terror causado por jihadistas, o Patriarca afirma: “O grupo Estado Islâmico e os bandidos são pessoas que precisam de nosso amor. Eu os exorto a seguirem o caminho junto conosco!”.
Gregório III faz um balanço de como está a situação atualmente no país. “A guerra fez com que muitos fugissem. Cerca da metade da população está em fuga. Os acontecimentos no Iraque foram um choque que agravou esta situação. As pessoas estão com medo do terror avançar. Mas por outro lado há também muitos que permanecem aqui e reconstroem suas vidas. As Igrejas estão cheias, há o trabalho com jovens, há procissões, cerimônias, as crianças estão indo para a escola”. Por isso, disse ser impensável deixar o país.
O chefe da Igreja Greco-Católica Melquita não desliga seu telefone. Quando algo acontece em algum lugar, ele recebe telefonema pedindo para entrar em contato com autoridades ou para dar outro tipo de assistência. Para alguns, em desespero e tristeza, basta procurar o conforto dele e lhe pedir uma oração. “Temos de continuar neste caminho. As pessoas têm confiança em nós. Devemos estar lá, e mostrar-nos dignos dessa confiança. Devemos manter o nosso serviço de amor e devoção”.
À AIS, o Patriarca relatou episódios que demonstram sua prontidão em estar próximo aos cristãos sírios. Um dos casos que recordou foi quando teve que dar para uma mãe a notícia de que seu filho sequestrado havia sido assassinado. Ele não sabia como levar a notícia. Quando chegou na casa da família, todos rezaram a oração do Pai-Nosso juntos. Depois que falou as palavras “Seja feita a vossa vontade”, o Patriarca ficou em silêncio. Segundo lembrou, a mãe compreendeu imediatamente o que tinha acontecido e o abraçou. “Eu fui capaz de levar para ela a notícia de uma forma espiritual. Para ela, a minha presença significava a presença da Igreja, da fé. Sob essa luz, esse momento foi transformado”.