VATICANO, Nov 7, 2007 / 12:43 pm
Ao apresentar hoje durante a Audiência Geral a figura de São Jerônimo, o grande Padre da Igreja autor da tradução ao latim da Bíblia conhecida como a "Vulgata", o Papa Bento XVI destacou que o cristão deve amar a Palavra de Deus transmitida pela Sagrada Escritura porque "ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo" e assinalou o antídoto contra suas interpretações individualistas: "lê-la sempre em comunhão com a Igreja viva".
Durante a catequese da audiência celebrada esta manhã na Praça de São Pedro em presença de 40 mil pessoas, o Santo Padre destacou que este santo, nascido por volta de 347, "pôs no centro de sua vida a Bíblia: traduziu-a em língua latina, comentou-a em suas obras e sobre tudo se comprometeu a vivê-la concretamente em sua existência terrena".
Do autor da Vulgata –reconhecida no Concílio de Trento como texto oficial da Igreja latina–, disse o Pontífice, "devemos aprender a amar a Palavra de Deus na Sagrada Escritura porque ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo". Por isso, é importante "viver em contato e em diálogo vivo" com ela.
"Este diálogo –explicou– deve ter duas dimensões. Por uma parte, deve ser um diálogo realmente pessoal porque Deus tem uma mensagem para cada um de nós. Devemos ler as Escrituras não como palavras do passado mas sim como Palavra de Deus que fala também comigo e tratar de entender o que me diz o Senhor".
Agora bem, afirmou, "para não cair no individualismo devemos ter presente que a Palavra de Deus nos dá para construir comunhão, para nos unir nesta verdade, neste caminho. A Palavra de Deus, embora seja sempre pessoal, é sempre uma palavra que constrói Igreja. Por isso, devemos lê-la sempre em comunhão com a Igreja viva. O lugar privilegiado da escuta da Palavra de Deus é a liturgia".
"A palavra de Deus transcende o tempo. As opiniões humanas vão e vêm. A Palavra de Deus é palavra de vida eterna. Leva em si a eternidade, o que é válido para sempre", apontou.
Vulgata e critérios de tradução
Ao comentar o grande contribua de São Jerônimo, a Vulgata, o Papa comentou os critérios escolhidos por Jerônimo para a tradução, como o de "respeitar inclusive a ordem das palavras nas Sagradas Escrituras", porque nelas até essa ordem, como escreve Jerônimo, "é um mistério", quer dizer, "uma revelação".
Jerônimo reafirma também "a necessidade de recorrer aos textos originais: o grego para o Novo Pacto" e o hebreu para o Antigo Testamento.
São Jerônimo
O Pontífice explicou ao início de seu discurso breve que São Jerônimo, de família cristã, "recebeu em Roma uma esmerada formação e uma vez batizado se orientou para a vida ascética e partiu para o Oriente, vivendo como eremita no deserto. Aperfeiçoou o grego, estudou o hebreu e transcreveu códices e obras patrísticas" e "a meditação, a solidão e o contato com a Palavra de Deus fizeram maturar sua sensibilidade cristã".
De volta a Roma, o Papa Damaso tomou como secretário e conselheiro. Morto o pontífice, Jerônimo peregrinou à Terra Santa e ao Egito e se assentou em Belém, onde permaneceu até sua morte (419/420).
Em Belém, São Jerônimo "comentou a Palavra de Deus, defendeu a fé opondo-se com vigor a diversas heresias; exortou aos monges à perfeição; ensinou a cultura clássica e cristã a seus jovens alunos e acolheu com solicitude pastoral aos peregrinos que visitavam a Terra Santa".
"Sua preparação literária e sua vasta erudição –disse o Santo Padre– lhe permitiram a revisão e tradução de muitos textos bíblicos: uma tarefa preciosa para a Igreja latina e para a cultura ocidental".
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