29 de novembro de 2024 Doar
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Santo Padre propõe a uma Santa africana e um mártir vietnamita como exemplos de esperança cristã

Na segunda encíclica de seu pontificado, "Spe Salvi" (Salvos pela Esperança), o Papa Bento XVI põe como exemplos da vivência da esperança cristã a uma Santa africana, Josefina Bakhita e a um mártir vietnamita do século XIX, Pablo Le-Bao-Thin.

Na primeira parte de sua encíclica, o Pontífice assinala que "o exemplo de uma Santa de nosso tempo pode em certa medida nos ajudar a entender o que significa encontrar pela primeira vez e realmente a este Deus. Refiro-me à africana Josefina Bakhita, canonizada pelo Papa João Paulo II. Nasceu aproximadamente em 1869 –nem ela mesma sabia a data exata– em Darfur, Sudão. Quando tinha nove anos foi seqüestrada por traficantes de escravos, golpeada e vendida cinco vezes nos mercados de Sudão".

O Pontífice recorda que Josefina "terminou como escrava a serviço da mãe e a mulher de um general, onde cada dia era açoitada até sangrar; como conseqüência disso ficaram 144 cicatrizes para o resto de sua vida".

"Por fim, em 1882 foi comprada por um mercado italiano para o cônsul italiano Callisto Legnani que, ante o avanço dos mahdistas, voltou para a Itália. Aqui –escreve o Papa na Spe Salvi– depois dos terríveis ‘donos’ dos que tinha sido propriedade até aquele momento, Bakhita chegou a conhecer um dono totalmente diferente –que chamou ‘paron’ no dialeto veneziano que agora tinha aprendido–, ao Deus vivo, o Deus de Jesus Cristo".

O Pontífice destaca que "até aquele momento só tinha conhecido donos que a desprezavam e maltratavam ou, no melhor dos casos, consideravam-na uma escrava útil. Agora, pelo contrário, ouvia dizer que havia um Paron acima de todos os donos, o Senhor de todos os senhores, e que este Senhor é bom, a bondade em pessoa. Inteirou-se de que este Senhor também a conhecia, que a tinha criado também a ela; mais ainda, que a queria. Também ela era amada, e precisamente pelo ‘Paron’ supremo, ante o qual todos outros não são mais que míseros servos. Ela era conhecida e amada, e era esperada".

"Inclusive mais: –explica o Pontífice– este Dono tinha confrontado pessoalmente o destino de ser maltratado e agora a esperava ‘à direita de Deus Pai’. Neste momento teve esperança’; não só a pequena esperança de encontrar donos menos cruéis, mas sim a grande esperança: eu sou definitivamente amada, aconteça o que aconteça; este grande Amor me espera. Por isso minha vida é formosa. Através do conhecimento desta esperança ela foi ‘redimida’, já não se sentia pulseira, mas sim filha livre de Deus. Entendeu o que Paulo queria dizer quando recordou aos Efésios que antes estavam no mundo sem esperança e sem Deus; sem esperança porque estavam sem Deus".

"Assim, –adiciona o Papa– quando quis devolvê-la a Sudão, Bakhita se negou; não estava disposta a que a separassem de novo de seu ‘Paron’. Em 9 de janeiro de 1890 recebeu o Batismo, a Confirmação e a primeira Comunhão de mãos do Patriarca de Veneza. Em 8 de dezembro de 1896 fez os votos em Verona, na Congregação das irmãs Canossianas, e após –junto com seus trabalhos na sacristia e na portaria do claustro– tentou sobre tudo, em várias viagens pela Itália, exortar à missão: sentia o dever de estender a libertação que tinha recebido mediante o encontro com o Deus do Jesus Cristo; que a deviam receber outros, o maior número possível de pessoas".

"A esperança que nela tinha nascido e a tinha ‘redimido’ não podia guardar-lhe para si sozinha; esta esperança devia chegar a muitos, chegar a todos", adiciona o Papa.

Um mártir do "inferno"

Mais adiante na encíclica, ao falar do valor da esperança à luz do sofrimento do cristão, Bento XVI assinala que "queria citar algumas frases de uma carta do mártir vietnamita Pablo Le-Bao-Thin ( 1857) nas quais ressalta esta transformação do sofrimento mediante a força da esperança que provém da fé".

A carta do mártir, citada pelo Papa descreve: "este cárcere é um verdadeiro inferno: aos cruéis suplícios de toda classe, como são grilos, cadeias de ferro e ataduras, terá que acrescentar o ódio, as vinganças, as calúnias, palavras indecentes, brigas, atos perversos, juramentos injustos, maldições e, finalmente, angústias e tristeza".

"Mas Deus, que em outro tempo liberou aos três jovens do forno de fogo, está sempre comigo e me libera das tribulações e as converte em doçura, porque é eterna sua misericórdia. Em meio destes torturas, que aterrorizariam a qualquer, pela graça de Deus estou cheio de gozo e alegria, porque não estou sozinho, mas sim Cristo está comigo".

O Santo Padre segue citando a Pablo Le-Bao-Thin: "como resistir este espetáculo, vendo cada dia como os imperadores, os mandarins e seus cortesãos blasfemam seu santo nome, Senhor, que se sinta sobre os querubins e serafins?. Olhe, sua cruz é pisoteada pelos pagãos! Onde está sua glória? Ao ver tudo isto, prefiro, aceso em seu amor, morrer esquartejado, em testemunho de seu amor. Mostra, Senhor, seu poder, me salve e me dê seu apoio, para que a força se manifeste em minha debilidade e seja glorificada ante os gentis".

A carta segue: "queridos irmãos ao escutar tudo isto, cheios de alegria, têm que dar graças incessantes a Deus, de quem procede tudo bem; benzam comigo ao Senhor, porque é eterna sua misericórdia [...]. Escrevo-lhes tudo isto para se unam sua fé e a minha. Em meio desta tempestade jogo a âncora até o trono de Deus, esperança viva de meu coração".

A respeito, o Sumo Pontífice reflete que esta "é uma carta do inferno’. Se expressa todo o horror de um campo de concentração no qual, aos torturas por parte dos tiranos, acrescenta-se o desencadear do mal nas vítimas mesmas que, deste modo, convertem-se inclusive em novos instrumentos da crueldade dos torturadores".

"É uma carta do ‘inferno’", mas "Cristo descendeu ao inferno’ e assim está perto de quem foi arrojado ali, transformando por meio Dele as trevas em luz".

O Pontífice prossegue refletindo sobre a carta do mártir vietnamita: "o sofrimento e os torturas são terríveis e quase insuportáveis. Entretanto, surgiu a estrela da esperança, a âncora do coração chega até o trono de Deus. Não se desata o mal no homem, mas sim vence a luz: o sofrimento –sem deixar de ser sofrimento– se converte apesar de tudo em canto de louvor".

Para ler a encíclica completa acesse: http://www.acidigital.com/Documentos/spesalvis.htm

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