VATICANO, Mar 23, 2008 / 11:36 am
Ao meio dia do Domingo da Páscoa, o Papa Bento XVI dirigiu aos milhares de peregrinos presentes na Praça de São Pedro e a todos os fiéis católicos do mundo sua mensagem "Urbi et orbi" para a Páscoa de Ressurreição 2008. O Pontífice desejou deste modo uma Feliz Páscoa em 63 línguas diferentes.
A seguir as palavras do Santo Padre:
"Resurrexi, et adhuc tecum sum. Alleluia! Ressuscitei, estou sempre contigo. Aleluia! Queridos irmãos e irmãs, Jesus, crucificado e ressuscitado, repete-nos hoje este anúncio jubiloso: é o anúncio pascal. Acolhamo-lo com íntimo assombro e gratidão.
"Resurrexi et adhuc tecum sum". "Ressuscitei e ainda e sempre estou contigo". Estas palavras, escolhidas de uma antiga versão do Salmo 138 (v.18b), ressoam no início da Santa Missa de hoje. Nelas, ao surgir o sol da Páscoa, a Igreja reconhece a voz mesma de Jesus que, ressuscitando da morte, cheio de felicidade e amor, se dirige ao Pai e exclama: meu Pai, eis me aqui! Ressuscitei, ainda estou e estarei sempre contigo; teu Espírito não me abandonou nunca.
Assim também podemos compreender de modo novo outras expressões do Salmo: "Se escalo ao céu, ali está você, se me deitar no abismo, ali te encontro...Por que nem as trevas são escuras para ti, a noite é clara como o dia; para ti as trevas são como luz" (Sal 138, 8.12). É verdade: na solene Vigília da Páscoa as trevas se convertem em luz, a noite cede o passo ao dia que não conhece ocaso. A morte e ressurreição do Verbo de Deus encarnado é um acontecimento de amor insuperável, é a vitória do Amor que nos liberou da escravidão do pecado e da morte. Mudou o curso da história, infundindo um indelével e renovado sentido e valor à vida do homem.
"Ressuscitei e estou ainda e sempre contigo". Estas palavras nos convidam a contemplar a Cristo ressuscitado, fazendo ressonar em nosso coração sua voz. Com seu sacrifício redentor Jesus de Nazaré nos tem feito filhos adotivos de Deus, de modo que agora podemos nos introduzir também nós no diálogo misterioso entre Ele e o Pai. Vem na mente o que um dia disse a seus ouvintes: "Tudo me foi entregue pelo meu Pai, e ninguém conhece o filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o queira revelar" (MT 11,27).
Nesta perspectiva, advertimos que a afirmação dirigida hoje por Jesus ressuscitado ao Pai, –"Estou ainda e sempre contigo"– concerne-nos também , que somos filhos de Deus e coherdeiros com Cristo, se realmente participarmos de seus sofrimentos para participar de sua glória (cf. Rm 8,17). Graças à morte e ressurreição de Cristo, também nós ressuscitamos hoje à vida nova, e unindo nossa voz à sua proclamamos nosso desejo de permanecer para sempre com Deus, nosso Pai imensamente bom e misericordioso.
Entramos assim na profundidade do mistério pascal. O acontecimento surpreendente da ressurreição de Jesus é essencialmente um acontecimento de amor: amor do Pai que entrega ao Filho para a salvação do mundo; amor do Filho que se abandona na vontade do Pai por todos nós; amor do Espírito que ressuscita ao Jesus de entre os mortos com seu corpo transfigurado.
E ainda mais: o amor do Pai que "volta a abraçar" ao Filho envolvendo-o em sua glória; amor do Filho que com a força do Espírito volta para o Pai revestido de nossa humanidade transfigurada. Esta solenidade, que nos faz reviver a experiência absoluta e única da ressurreição de Jesus, é uma chamada a nos converter ao Amor; um convite a viver rechaçando o ódio e o egoísmo e a seguir docilmente as pegadas do Cordeiro imolado pela nossa salvação, a imitar ao Redentor "manso e humilde de coração", que é descanso para nossas almas (cf. Mt 11,29).
Irmãs e irmãos cristãos de todos os cantos do mundo, homens e mulheres de espírito sinceramente aberto à verdade: que ninguém feche o coração à onipotência deste amor redentor. Jesus Cristo morreu e ressuscitou por todos: Ele é a nossa esperança! Esperança verdadeira para cada ser humano.
Hoje, como fez na Galiléia com seus discípulos antes de voltar para o Pai, Jesus ressuscitado nos envia também a todas partes como testemunhas de sua esperança e nos garante: Eu estou sempre convosco, todos os dias, até o fim do mundo (cf. Mt 28,20). Fixando o olhar da alma nas chagas gloriosas de seu corpo transfigurado, podemos entender o sentido e o valor do sofrimento, podemos aliviar as múltiplas feridas que seguem ensangüentando à humanidade, também em nossos dias.
Em suas chagas gloriosas reconhecemos os sinais indeléveis da misericórdia infinita de Deus do que fala o profeta: Ele é quem cura as feridas dos corações rasgados, quem defende aos fracos e proclama a liberdade aos escravos, quem consola a todos os aflitos e oferece seu azeite de alegria em lugar do vestido de luto, um canto de louvor em lugar de um coração triste (cf. Is 61,1.2.3).
Se nos aproximarmos dele com humilde confiança, encontraremos em seu olhar a resposta ao desejo mais profundo do nosso coração: conhecer Deus e estabelecer com Ele uma relação vital em uma autêntica comunhão de amor, que encha de seu mesmo amor nossa existência e os nossas relacionamentos sociais. Para isto a humanidade necessita a Cristo: nele, nossa esperança, "fomos salvos" (cf. Rm 8,24)
Quantas vezes as relações entre pessoas, grupos e povos, estão marcadas pelo egoísmo, a injustiça, o ódio, a violência, em vez de está-lo pelo amor. São as chagas da humanidade, abertas e enfermos em todos os rincões do planeta, embora às vezes ignoradas e intencionalmente escondidas; chagas que rasgam a alma e o corpo de inumeráveis irmãos e irmãs nossos.
Estas esperam obter alívio e ser curadas pelas chagas gloriosas do Senhor ressuscitado (cf. 1 P 2, 24-25) e pela solidariedade de quantos, seguindo suas pegadas e em seu nome, realizam gestos de amor, comprometem-se ativamente em favor da justiça e difundem ao seu redor sinais luminosas de esperança nos lugares ensangüentados pelos conflitos e em qualquer lugar que a dignidade da pessoa humana continue sendo denegrida e vulnerada. O desejo é que precisamente ali se multipliquem os testemunhos de benignidade e de perdão.
Queridos irmãos e irmãs, deixemo-nos iluminar pela luz deslumbrante deste Dia solene; abramo-nos com sincera confiança a Cristo ressuscitado, para que a força renovadora do Mistério pascal se manifeste em cada um de nós, em nossas famílias e nossos Países. Manifeste-se em todas as partes do mundo.
Não podemos deixar de pensar neste momento, de modo particular, em algumas regiões africanas, como Dafur e Somalia, no martirizado Oriente Médio, especialmente em Terra Santa, no Iraque, em Líbano e, finalmente, no Tibet, regiões para as quais alento a busca de soluções que protejam o bem e a paz. Invoquemos a plenitude dos dons pascais por intercessão de Maria que, depois de ter compartilhado os sofrimentos da Paixão e crucificação de seu Filho inocente, experimentou também a alegria inefável de sua ressurreição.
Que, ao estar associada à glória de Cristo, ela Seja quem nos proteja e nos guie pelo caminho da solidariedade fraterna e da paz. Estes são meus desejos pascais, que transmito aos que estão aqui presentes e aos homens e mulheres de cada nação e continente unidos conosco através da rádio e da televisão. Feliz Páscoa!"
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