21 de novembro de 2024 Doar
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João Paulo II nunca pediu sedativos e abraçou sempre a dor, explica seu médico

Em uma entrevista concedida ao L’Osservatore Romano, o doutor italiano Renato Buzzonetti, atual médico de Bento XVI, relata como era sua relação e muitas das vivências com seu querido predecessor, João Paulo II, desde que o Papa Peregrino decidiu que o Dr. Buzzonetti se encarregasse de sua saúde em 1978. Recorda, entre muitas outras coisas, alguns detalhes do atentado de 13 de maio de 1981, sua disposição a abraçar o Senhor na cruz da dor e os últimos momentos de sua vida.

O médico recorda que depois das cinco horas da cirurgia à qual teve que ser submetido logo depois de receber uma bala na Praça de São Pedro em 13 de maio de 1981, João Paulo II lhe disse: "Tal como Bachelet". Ao que ele respondeu: "não, Santidade, porque você está vivo e viverá".

Buzzonetti prossegue: "acredito que citou aquele sobrenome porque foi muito tocado pelo assassinato do vice-presidente do Conselho superior da magistratura, morto pelas Brigadas Vermelhas em 12 de fevereiro de 1980: o Papa o conhecia porque, já sendo Presidente Geral da Ação Católica Italiana, era membro do Pontifício Conselho para os Leigos, do qual o Cardeal Wojtyla tinha formado parte. E por Victorio Bachelet ele quis celebrar uma solene Missa de sufrágio em São Pedro poucos dias depois de sua morte".

Depois de ressaltar a profunda e impactante espiritualidade do Papa polonês, o médico se refere ao Parkinson que o afetou desde 1991. Tinha explicado que o tremor nas mãos "nunca matou ninguém antes" mas era uma clara indicação desta doença. "A vida do Papa foi logo mais complicada pela sintomatologia dolorosa ósseo-articular, particularmente importante no joelho direito, que impedia João Paulo II estar de pé e caminhar agilmente. Eram dois sintomas que, somados e entrelaçados, fizeram necessários o uso de fortificação, e posteriormente da cadeira de rodas".

Perante a dor e os impedimentos, conta Buzzonetti, Karol Wojtyla "nunca pediu sedativos, nem sequer na fase final. Era sobre tudo a dor de um homem confinado, prostrado em uma cama ou uma cadeira, que tinha perdido a autonomia física. Não podia fazer nada sozinho e chegaram os dias de total debilidade física: não podia caminhar, não podia falar mais que com uma voz muito fraca, sua respiração se fez fatigante e entrecortada, nutria-se com crescente dificuldade".

"Quando chegou a ora da cruz, soube abraçá-la sem atenuantes: Vexilla regis prodeunt (a todo vento as bandeiras reais ondeiam)".

Seguidamente relata que um momento particularmente dramático dos últimos dias do Papa peregrino foi o que seguiu a traqueotomia que teve que realizar: "levantando-se depois da anestesia, logo depois de ter dado seu consentimento, percebeu que não podia falar. De improviso se encontrou ante uma realidade pesadíssima. Sobre uma tabuinha escreveu ‘O que fizeram comigo. Totus tuus (Todo teu, seu lema Mariano)’ Era a toma de consciência da nova condição existencial na que acabava de cair, de repente sublimado pelo ato de confiança em Maria".

Os últimos dias de João Paulo II, que passou em intensa comunhão com ele, foram para Buzzonetti "de uma tensão extrema pela grande responsabilidade que pesava sobre minhas costas". "Eu e meus colegas constatávamos que a enfermidade estava inexoravelmente na última fase de seu curso. Nossa batalha tinha sido conduzida com paciência, humildade e prudência, extremamente difícil porque sabíamos que concluiria com a derrota".

Renato Buzzonetti quis alguma vez deixar de servir ao Papa como seu médico, mas não aceitou a renúncia. "É a vontade do Santo Padre" que você siga sendo, disse alguma vez o atual Arcebispo de Cracóvia, Cardeal Stanislaw Dziwisz, quando era secretário pessoal do Santo Padre, pedido que acolheu com solicitude e obediência.

Depois de comentar que acompanhavam com "respeito o homem sofredor", sublinha que "para o médico cristão a agonia do homem é a imagem do Senhor. Todo homem tem suas chagas, leva sua coroa de espinhos, balbucia suas últimas palavras, abandona-se nas mãos de algum que inconscientemente renova o gesto de Maria, das piedosas mulheres, de José de Arimatéia. A morte de João Paulo II me envolveu ainda mais".

Ao finalizar a entrevista, o Dr. Renato Buzzonetti afirma que o trânsito do Papa Wojtyla "foi a morte de um homem despojado de tudo, que tinha vivido as horas da batalha e da glória e que se apresentava em sua nudez interior, pobre e sozinho, ao encontro de seu Senhor ao que estava por restituir as chaves do Reino. Naquela hora de dor e estupor, tive a sensação de me encontrar nas bordas do lago Tiberíades. A história parecia reajustada, enquanto Cristo estava por chamar o novo Pedro".

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