Nicósia, Jun 5, 2010 / 11:50 am
No Palácio Presidencial da Nicósia ao qual chegou para a visita de cortesia ao mandatário Demetris Christofias, o Papa Bento XVI dirigiu um discurso no que respirou a respeitar e promover a verdade moral na política através de três vias: atuar de maneira responsável partindo do conhecimento dos fatos, pôr ao descoberto as ideologias políticas que pretendem suplantar a verdade e esforçar-se constantemente para fundamentar a lei positiva sobre os princípios éticos da lei natural.
Em suas palavras às autoridades civis e ao corpo diplomático nos jardins do Palácio Presidencial, o Santo Padre recordou que a Igreja aprecia o serviço público. Desempenhado com fidelidade, este "permite crescer em sabedoria, integridade e realização pessoal. Platão, Aristóteles e os estóicos davam uma grande importância a esta realização –endemonia– como objetivo da vida humana, e viam na dimensão moral a via para obter esta meta. Para eles, assim como para os grandes filósofos árabes e cristãos que seguiram seus rastros, a prática da virtude consistia em atuar conforme a reta razão, na busca de tudo o que é verdadeiro, bom e belo".
Bento XVI ressaltou logo a exigência de trabalhar sempre pelo bem comum e reiterou o que já foi dito pelo querido João Paulo II, quem na encíclica Veritatis splendor escreveu que "a obrigação moral nunca deveria ser vista como uma lei imposta desde fora e que reclama obediência, mas como uma expressão da sabedoria mesma de Deus, a que a liberdade humana se submete com solicitude".
Depois de sublinhar a importância da verdade nas relações das pessoas, os povos e as nações, o Papa recalcou que "a retidão moral e o respeito imparcial por outros e seu bem-estar são essenciais para o bem da sociedade, já que criam um clima de confiança no que os intercâmbios humanos, já sejam religiosos, econômicos, sociais ou culturais, civis ou políticos, adquirem força e vigor".
Ao expor as vias para respeitar e promover a verdade moral, o Papa Bento XVI expôs três formas. A primeira, disse, consiste em "atuar de maneira responsável partindo do conhecimento dos fatos. Como diplomatas, sabeis por experiência que este conhecimento vos ajuda a identificar as injustiças e ofensas, assim como a considerardes de maneira desapaixonada os interesses de todas as partes envolvidas em uma determinada disputa. Quando as partes superam seus próprios pontos de vista sobre o ocorrido, adquirem uma visão objetiva e completa".
"Aqueles que devem resolver tais conflitos são capazes de tomar decisões justas e promover uma autêntica reconciliação, quando admitem e reconhecem a verdade completa sobre uma determinada questão", acrescentou.
"Uma segunda via para promover a verdade moral consiste em pôr ao descoberto as ideologias políticas que pretendem suplantar a verdade. As trágicas experiências vividas durante o século vinte desmascararam a desumanidade que resulta da supressão da verdade e a dignidade humana. Em nossos dias, assistimos a contínuas tentativas de fomentar supostos valores sob a aparência de paz, desenvolvimento e direitos humanos".
Como exemplo disto rememorou seu discurso às Nações Unidas onde alertou sobre a tendência "a reinterpretar a Declaração Universal dos Direitos humanos com o objetivo de satisfazer interesses particulares, que comprometeriam a coerência interna da própria Declaração, apartando-se de sua intenção original".
A terceira via, considerou o Papa, está no "esforço constante para fundamentar a lei positiva sobre os princípios éticos da lei natural. Esta exigência, no passado, foi considerada como algo evidente, entretanto, a corrente positivista nas teorias legais contemporâneas está pedindo a recuperação deste axioma fundamental. Indivíduos, comunidades e estados, sem a guia de verdades morais objetiva, voltar-se-iam egoístas e sem escrúpulos, e o mundo seria um lugar mais perigoso para viver".
"Em troca, respeitando os direitos das pessoas e dos povos se protege e promove a dignidade humana. Quando as políticas que propugnamos se encontram em harmonia com a lei natural, que pertence à nossa comum condição humana, nossas ações se tornam mais sensatas e contribuem ao desenvolvimento da compreensão, da justiça e da paz", concluiu.
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