25 de novembro de 2024 Doar
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Monge trapense que sobreviveu o massacre na Argélia reza pela conversão dos assassinos

O irmão Jean Pierre Schumacher é um dos dois monges que se salvou da morte no massacre de Thibirine (Argélia) em 1996 e que não deixou que rezar pela conversão dos extremistas muçulmanos que assassinaram sete membros de sua comunidade.

O religioso concedeu uma entrevista ao semanário espanhol Alfa e Ômega por ocasião da estréia do filme "Dos homens e dos deuses", ganhadora do último Festival de Cannes, que narra o seqüestro e assassinato dos sete monges trapenses de Thibirine.

O irmão expressa sua satisfação pelo filme porque em sua opinião "expressa muito bem a mensagem do que vivemos".

O monge -que hoje vive em um mosteiro trapense no Marrocos- salvou-se da morte porque os seqüestradores não o viram.

Na noite de 26 de março de 2006 quando uns vinte homens armados irromperam no convento, ele "era o porteiro e responsável pela porta principal. Eles entraram pela porta de baixo, tomaram o guarda do mosteiro e o obrigaram a levá-los todos às celas dos irmãos".

Recorda que os trapenses de Thibirine eram "uma comunidade contemplativa. Tínhamos pouca vida social, trabalhávamos no campo e no pomar", mas tinha boas relações com seus vizinhos muçulmanos.

"Estávamos na montanha e as relações com eles eram muito boas, muito fraternais. Fomos como uma família. O mosteiro era de clausura, mas havia um porteiro que recebia as pessoas. Assistíamos a atos religiosos e enterros, o que as pessoas queriam. Tínhamos muito boas relações com eles", acrescenta.

"Tínhamos uma pequena associação para cultivar o pomar junto a quatro pais de família que trabalhavam conosco. Cada um tinha um pequeno terreno atribuído e vendia seus produtos. Ao final do ano, repartíamos os benefícios. Era uma bonita forma de viver juntos formando uma família. Não falávamos muito de religião, mas tínhamos entre nós muito boas relações e, através deles, comunicávamo-nos com suas famílias".

Embora duvide que seus vizinhos fossem muçulmanos fundamentalistas, o irmão Jean Pierre explica que "estávamos em plena montanha e a montanha estava ocupada pelos islamistas. Por isso estávamos indefesos".

Quando a situação se tornou perigosa pelo avanço dos grupos extremistas, os monges decidiram não abandonar o mosteiro porque sua vocação era "estar com eles e compartilhar sua vida".

O religioso assegura que na Argélia havia "uma boa relação entre cristãos e muçulmanos. Se houver uma dificuldade entre diferentes culturas e religiões é porque não nos conhecemos o bastante. Quando nos conhecemos mutuamente, somos como irmãos".

O irmão Jean Pierre afirma que reza "para que o espírito de Deus atue neles. Para que evoluam para a fraternidade universal; para que, apesar das diferenças entre as religiões, as nacionalidades e as culturas, aprendamos a conhecer-nos e a ajudar-nos mutuamente".

O monge sobrevivente está convencido "de que é preciso perdoar. Deus nos pede amar-nos uns aos outros. Ao ler o testamento do padre Christian, nosso Prior, verá como termina, vai muito longe: perdoando os que o mataram".

"Dos homens e dos deuses"

O filme " Dos homens e dos deuses " obteve o Grande Prêmio do Jurado de Cannes da 63ª edição do festival de cinema e que narra os três últimos anos de vida dos monges franceses do mosteiro de Nossa Senhora do Atlas em Tibhirine, seqüestrados e decapitados por membros dos Grupos Islâmicos Armados (GIA).

O trailer em português está disponível em: http://www.trailers.com.pt/dos-homens-e-dos-deuses/

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