Roma, Mar 2, 2011 / 14:30 pm
O ministro federal para as minorias religiosas no Paquistão, o católico Shahbaz Bhatti -quem em distintas ocasiões expressou sua oposição à Lei de Blasfêmia- foi assassinado a tiros esta manhã em Islamabad ao sair de sua casa enquanto se encontrava em seu automóvel.
Bhatti era o único cristão do gabinete do Paquistão, país no qual 95% da população professa o Islã.
A agência vaticana Fides informa que o ministro havia saído de sua residência rumo ao seu escritório. Não levava escolta. De repente, um pequeno automóvel se colocou ao lado do dele, um de seus ocupantes disparou uma vez para detê-lo e logo vários homens mascarados saíram do carro com armas automáticas e dispararam durante dois minutos e logo fugiram.
Conforme assinala o jornal britânico The Guardian, os assassinos deixaram na cena do crime uns panfletos nos quais descreviam o ministro como um "cristão infiel" e que estava assinado por "Taliban al-Qaida Punjab".
Uma sobrinha do ministro, Mariam, de 22 anos, foi em auxílio de Bhatti: "corri aonde ele estava e vi o corpo coberto de sangue. Disse-lhe 'tio', 'tio' e tentei tomar-lhe o pulso. Já estava morto".
O chofer levou o Ministro ao hospital de Islamabad, aonde Bhatti chegou morto. Segundo diversos informes de imprensa o funcionário recebeu ao menos oito disparos.
Conforme assinala a cadeia CNN, o porta-voz dos Talibãs, Ihsanullah Ihsan, assinalou que "o assassinato de Bhatti é uma mensagem para todos os que estão contra a Lei de Blasfêmia", uma norma que se costuma usar para perseguir os cristãos e que castiga quem ofende o Corão ou Maomé, inclusive com a pena de morte.
Este foi o segundo assassinato do tipo perpetrado por extremistas muçulmanos contra críticos à Lei de Blasfêmia no Paquistão. O primeiro ocorreu no último 4 de janeiro quando mataram o governador da província de Punjab, Salmaan Taseer, também por sua oposição à controvertida lei.
Fides assinala que diversos sacerdotes e religiosas no Paquistão consideram que o ministro Bhatti é um "mártir", alguém que "deu sua vida pela defesa dos direitos das minorias religiosas, especialmente dos cristãos".
Sobre este assassinato, Peter Jacob, Secretário da Comissão Episcopal Justiça e Paz e amigo pessoal de Bhatti, disse à Fides que "estamos em um estado de choque e pânico: a comunidade católica, todos os cristãos, estamos traumatizados por este último assassinato. Sentimo-nos desconcertados e indefesos".
"Este assassinato significa que o país está à mercê dos terroristas, que podem permitir-se o assassinato de personalidades de alta reputação. Sentimo-nos muito vulneráveis: sobre tudo, os defensores dos direitos humanos e das minorias religiosas. Condenamos energicamente este ato de barbárie. Agora é o momento de luto, logo como cristãos, decidiremos o que fazer".
Por sua parte o Presidente da Conferência Episcopal do Paquistão, Dom Lawrence Saldanha, disse em nome dos bispos que "condenamos o assassinato do Ministro católico para as Minorias religiosas, Shahbaz Bhatti. Estamos muito tristes e deploramos este ato contra a vida. Este é um perfeito exemplo trágico, do clima insustentável de intolerância no qual vivemos no Paquistão".
"Pedimos ao governo, às instituições, a todo o país, reconhecer e enfrentar com decisão este problema, para que chegue ao fim este estado das coisas, onde a violência triunfa".
Fides assinala que os prelados estão preparando uma declaração oficial e têm previsto uma reunião de emergência para avaliar a situação e decidir a estratégia para o futuro.
Declaração do Vaticano
Sobre este assassinato, o Diretor do Escritório de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, disse que o episódio é um novo ato de violência de enorme gravidade. Tal fato demonstra quanto são acertadas as intervenções do Papa Bento XVI para frear a violência contra cristãos e contra a liberdade religiosa em geral.
Pe. Lombardi recordou, ainda, que "Bhatti era o primeiro católico que ostentava um cargo desse tipo. Recordamos que tinha sido recebido pelo Santo Padre no último mês de setembro e que tinha dado testemunho de seu compromisso em favor da convivência pacífica entre as comunidades religiosas de seu país".
Finalmente a declaração assinala que "à oração pela vítima, à condenação pelo inqualificável ato de violência, à proximidade aos cristãos paquistaneses, tão golpeados pelo ódio, une-se a chamada para que todos percebam a dramática urgência da defesa da liberdade religiosa e dos cristãos objeto de violência e perseguição".
Fides recorda que o ministro Shahbbaz Bhatti tinha 42 anos e tinha sido confirmado como Ministro Federal para as Minorias religiosas na recente remodelação do Governo, e ocupava este cargo desde 2008.
Era originário da aldeia de Khushpur perto de Faisalabad, em Punjab, chamado "o Vaticano do Paquistão" por ser um povo fundado por sacerdotes dominicanos, que deu muitos sacerdotes, religiosas e religiosos paquistaneses.
"Em seu compromisso como ativista pelos direitos humanos e pelas minorias religiosas, Bhatti tinha fundado a 'All Pakistan Minorities Alliance' e o 'Christian Liberation Front', organizações muito ativas na sociedade civil. Era um expoente na luta pela revisão da Lei da Blasfêmia, que custou-lhe a vida", conclui Fides.
A Lei de Blasfêmia agrupa várias normas contidas no Código Penal inspiradas diretamente na Xaria -lei religiosa muçulmana- para sancionar qualquer ofensa de palavra ou obra contra Alá, Maomé ou o Corão.
A ofensa pode ser denunciada por um muçulmano sem necessidade de testemunhas ou provas adicionais e o castigo poderia supor o juízo imediato e a posterior condenação à prisão ou à morte.
A lei é usada com freqüência para perseguir a minoria cristã, que costuma ser explorada no trabalho e discriminada no acesso à educação e aos cargos públicos.
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