23 de novembro de 2024 Doar
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Esquecimento de Deus gera violência, diz o Papa ao Corpo Diplomático

Em seu discurso nesta manhã ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, feito habitualmente no começo do ano como uma revisão geral do "estado do mundo", o Papa Bento XVI exortou a trabalhar pela paz e precisou que o esquecimento de Deus, em lugar de sua glorificação, engendra a violência.

Ante os diplomáticos reunidos na Sala Régia do Palácio Apostólico no Vaticano, o Pontífice indicou que "hoje, por vezes, é-se levado a pensar que a verdade, a justiça e a paz sejam uma utopia e que se excluem mutuamente. Conhecer a verdade parece ser impossível e os esforços para afirmá-la parece que desembocam com frequência na violência".

"Por outro lado, de acordo com uma generalizada concepção, o compromisso pela paz reduz-se a fazer cedências que garantam a convivência entre os povos ou então entre os cidadãos da mesma nação. Diversamente, na perspectiva cristã, há uma ligação íntima entre a glorificação de Deus e a paz dos homens na terra, de tal modo que a paz não resulta meramente de um esforço humano, mas deriva do próprio amor de Deus".

Bento XVI afirmou que "o que gera a violência não é a glorificação de Deus, mas o seu esquecimento. De fato, como se pode efetuar um autêntico diálogo, quando deixa de haver por referência uma verdade objetiva e transcendente? Em tal caso, como se pode evitar que a violência, aberta ou disfarçada, se torne a derradeira norma das relações humanas??"

Em realidade, prosseguiu o Santo Padre, "sem uma abertura ao transcendente, o homem cai como presa fácil do relativismo e, consequentemente, torna-se-lhe difícil agir de acordo com a justiça e comprometer-se pela paz. A estas manifestações contemporâneas do esquecimento de Deus, podem-se associar as manifestações devidas à ignorância do seu verdadeiro rosto, que é a causa de um pernicioso fanatismo de matriz religiosa, que ceifou vítimas em alguns dos países aqui representados também no ano de 2012.".

"Como já tive ocasião de dizer, trata-se de uma falsificação da própria religião, uma vez que esta visa reconciliar o homem com Deus, iluminar e purificar as consciências e tornar claro que cada homem é imagem do Criador".

Assim, adicionou, "se a glorificação de Deus e a paz na terra estão intimamente ligadas entre si, é evidente que a paz constitui, ao mesmo tempo, dom de Deus e tarefa do homem, porque exige a sua resposta livre e consciente. Por esta razão quis dar como título à Mensagem anual para o Dia Mundial da Paz: Bem-aventurados os obreiros da paz. Compete acima de tudo às autoridades civis e políticas a grave responsabilidade de trabalhar pela paz".

O Papa recordou logo suas viagens ao México, Cuba e Líbano que "foram uma ocasião privilegiada para fortalecer o compromisso cívico dos cristãos nesses países, assim como para promover a dignidade da pessoa humana e os fundamentos da paz".

Oriente Médio e África

O Papa fez logo um chamado à comunidade internacional para colaborar em obter a paz no Oriente Médio, "acima de tudo na Síria dilacerada por contínuos massacres e palco de imensos sofrimentos para a população civil. Renovo o meu apelo para que se deponham as armas e possa, o mais rápido possível, prevalecer um diálogo construtivo para acabar com um conflito que, se perdurar, não conhecerá vencedores mas apenas derrotados, deixando em campo atrás de si apenas ruínas".

Sobre a Palestina e seu recente reconhecimento como Estado Observador não membro das Nações Unidas, o Papa renovou seu desejo "de que israelitas e palestinianos, com o apoio da comunidade internacional, se empenhem por chegar a uma convivência pacífica no contexto de dois Estados soberanos, onde o respeito pela justiça e as legítimas aspirações de ambos os povos seja tutelado e garantido. Jerusalém, torna-te aquilo que o teu nome significa: cidade da paz e não da divisão, profecia do Reino de Deus e não mensagem de instabilidade e conflito!".

O Santo Padre também fez um chamado para que o Iraque possa chegar à reconciliação e Líbano siga sendo um exemplo para a região onde os cristãos "ofereçam um testemunho eficaz para a construção de um futuro de paz com todos os homens de boa vontade".

O Papa alentou logo a trabalhar pela paz no Congo e recordou aos falecidos na Nigéria depois de um atentado terrorista em uma igreja no dia do Natal, onde foram assassinados dezenas de católicos. "Mali se vê dilacerado pela violência e sofre uma profunda crise institucional e social, que deve merecer um eficaz empenho da comunidade internacional".

Educação e caridade para a paz

"Continuando a nossa reflexão, vale a pena sublinhar a educação como sendo outro caminho privilegiado para a construção da paz. Assim no-lo ensina, para além do mais, a crise econômica e financeira atual. Esta desenvolveu-se porque, com muita frequência, foi absolutizado o lucro em detrimento do trabalho, e se aventuraram desenfreadamente pelos trilhos da economia financeira em vez da real".

O Santo Padre disse também que "a União Europeia?precisa de Representantes clarividentes e qualificados para realizar as opções difíceis que são necessárias a fim de sanar a sua economia e colocar bases sólidas para o seu progresso. Sozinhos, alguns países talvez caminhassem mais rápido; mas, juntos, todos chegarão certamente mais longe!".

O Papa destacou que "investir em educação nos países em vias de desenvolvimento da África, Ásia e América Latina significa ajudá-los a vencer a pobreza e as doenças, bem como a realizar sistemas legais equitativos e respeitadores da dignidade humana. É claro que, para implementar a justiça, não bastam bons modelos econômicos, embora sejam necessários. A justiça só se realiza, se houver pessoas justas!?".

"Construir a paz significa educar os indivíduos para combaterem a corrupção, a criminalidade, a produção e o tráfico da droga, bem como para evitar divisões e tensões, que põem em risco o tecido da sociedade, dificultando o seu desenvolvimento e a convivência pacífica", acrescentou.

Liberdade religiosa

O Papa referiu-se logo à defesa da liberdade religiosa, ameaçada pela violência e intolerância, chegando em alguns casos ao extremo de "impedir aos crentes, especialmente aos cristãos, contribuir ao bem comum através de suas instituições educativas e assistenciais".

"Para salvaguardar efetivamente o exercício da liberdade religiosa, é essencial respeitar o direito à objecção de consciência. Esta «fronteira» da liberdade toca princípios de grande importância, de caráter ético e religioso, radicados na própria dignidade da pessoa humana".

O Papa explicou que "são como ‘as paredes mestras’ de qualquer sociedade que queira ser verdadeiramente livre e democrática. Por isso, proibir a objecção de consciência individual e institucional, em nome da liberdade e do pluralismo, abriria, ao invés e paradoxalmente, as portas precisamente à intolerância e ao nivelamento forçado".

O Papa referiu-se também ao grande trabalho de caridade que realiza a Igreja Católica em todo mundo, através de seus orfanatos, escolas, colégios e universidades, assim como na ajuda às pessoas diante dos desastres naturais como os ocorridos na Ásia, na costa oriental dos Estados Unidos e na Itália.

Para concluir, Bento XVI recordou umas palavras do Papa Paulo VI aos governantes ao final do Concílio Vaticano II, datadas em 8 de dezembro de 1965, quando disse que "a vós corresponde ser na terra os promotores da ordem e da paz entre os homens. Mas não esqueçais: é Deus (...) o grande artífice da ordem e da paz na terra".

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