REDAÇÃO CENTRAL, Sep 27, 2013 / 13:30 pm
Nas últimas semanas se atribuíram ao Papa Francisco palavras que nunca pronunciou. Uma das mais difundidas é um popular poema de autor desconhecido que começa com a frase "Precisamos de santos sem véu ou batina" e que o Pontífice jamais pronunciou, e agora se junta a uma longa lista de frases de inspiração através de uma conta no Twitter que o parodia.
Em julho passado, com ocasião de sua viagem ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, circulou em dezenas de sites –incluindo sites católicos- este poema atribuído no passado ao Beato João Paulo II e inclusive à Beata Teresa de Calcutá:
"Precisamos de Santos sem véu ou batina. Precisamos de Santos de calças jeans e tênis.
Precisamos de Santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos.
Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar, mas que se "lascam" na faculdade.
Precisamos de Santos que tenham tempo todo dia para rezar e que saibam namorar na pureza e castidade, ou que consagrem sua castidade.
Precisamos de Santos modernos, Santos do século XXI com uma espiritualidade inserida em nosso tempo.
Precisamos de Santos comprometidos com os pobres e as necessárias mudanças sociais.
Precisamos de Santos que vivam no mundo se santifiquem no mundo, que não tenham medo de viver no mundo.
Precisamos de Santos que bebam Coca-Cola e comam hot dog, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem iPod.
Precisamos de Santos que amem a Eucaristia e que não tenham vergonha de tomar um refrigerante ou comer pizza no fim-de-semana com os amigos.
Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de esporte.
Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros.
Precisamos de Santos que estejam no mundo; e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, mas que não sejam mundanos".
A origem do poema é desconhecida, mas Internet oferece algumas pistas. O texto aparece traduzido ao inglês na Wikipédia em uma entrada de 3 de abril de 2005, no dia seguinte da morte de João Paulo II.
Nesta entrada, o usuário Henrique Vicente –cujo perfil na Wikipédia não contém dados adicionais– oferece a tradução ao inglês deste texto e assinala que se trata de uma suposta "carta de João Paulo II aos jovens" que já era "muito popular" no Brasil. O colaborador da Wikipédia admite na entrada que não conseguiu encontrar este texto no site oficial do Vaticano e que tampouco pôde achá-lo em outro idioma na Internet. Entretanto, não duvidava que fosse do hoje Beato e assegurava –sem fonte alguma– que o escreveu originalmente em português porque o Papa conhecia este idioma.
Wikipédia se define como "um projeto de enciclopédia Web multilíngue de conteúdo livre baseado em um modelo de edição aberta" e assegura que "qualquer pessoa com conexão a Internet pode editar" seus conteúdos com um pseudônimo.
Entretanto, Wikipédia tem como normas a "verificabilidade: todos os artigos devem incluir referências às fontes de onde provém a informação" e que "as fontes de onde provém a informação devem ser fontes confiáveis". Resulta evidente que a publicação deste poema não cumpriu com estes requisitos.
Pouco depois da beatificação de João Paulo II, o texto de sua suposta carta –em realidade nunca escrita pelo Papa Wojtyla– voltou a circular massivamente, desta vez em espanhol e com algumas "atualizações". Por exemplo, enquanto a primeira versão em português dizia "que escutem Walkman" –os antigos sistemas de fitas cassetes portáteis da empresa Sony– a nova versão diz Ipod, da empresa Apple.
Ou seja, segundo a lenda urbana, o Papa estava fazendo publicidade de empresas específicas, desde a Coca Cola até a Apple, que entre outras coisas, censura na sua loja Itunes conteúdos cristãos, como ocorreu com um aplicativo da "Declaração de Manhattan" de numerosos líderes católicos e evangélicos a favor da vida, da família, da liberdade religiosa e do matrimônio verdadeiro.
Com ocasião da recente Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, o poema apócrifo passou de repente a ser atribuído ao Papa Francisco; embora o Pontífice argentino seja ainda mais crítico do consumismo, da dependência às grandes firmas capitalistas e da claudicação dos jovens católicos ao consumismo e ao ser indistinguíveis do mundo.
Atenção a @PontifexFrases
A este conteúdo de duvidosa origem na Wikipédia, somam-se vários perfis no Twitter e páginas de fãs no Facebook que tomando o nome do Papa Francisco divulgam frases como se fossem de sua autoria.
Nas últimas semanas cobrou notoriedade no Twitter o perfil @PontifexFrases, que usando a mesma imagem da conta oficial do Papa Francisco no Twitter, divulgava frases de inspiração em espanhol que os usuários atribuíram ao Pontífice e eram compartilhadas diariamente por centenas de internautas nas redes sociais.
Embora os administradores da conta se definam como uma paródia do Papa no Twitter, o uso da imagem oficial do Pontífice e a publicação de frases soltas sem citar a fonte, confundiu a muitas pessoas. A conta já tem mais de 60 mil seguidores. A única conta oficial do Papa no Twitter em espanhol é @Pontifex_es e em português @Pontifex_pt.
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