27 de dezembro de 2024 Doar
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Episcopado venezuelano rechaça violência e pede diálogo e reconciliação entre manifestantes e membros do governo

A Presidência da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), rechaçou "rotundamente" nesta terça-feira o uso da força em algumas manifestações por parte de agentes do Estado, cuja extrapolação trouxe consequências lamentáveis, e assinalou que o país necessita de maneira urgente um diálogo que ajude a superar a crise atual.

"Os falecidos ou os feridos não pertencem nem ao governo nem à oposição, mas pertencem a suas famílias e ao povo da Venezuela, sem distinções nem cores. Rezamos pelos que faleceram e por aqueles que ficaram feridos. A isto se unem os saques que aconteceram em diversas partes do país e que causam medo e impotência", expressaram em um comunicado nesta terça-feira.

Os bispos recordaram que a Constituição ampara o direito a protestar pacificamente como meio para chamar a atenção das autoridades e assim "resolver os problemas e corrigir rumos se for necessário. O que sempre se tem que evitar é que o protesto acabe em atos de violência".

Do mesmo modo, assinalaram que ao cumprir seu dever de "preservar a ordem pública as autoridades policiais e militares estão obrigadas a respeitar os Direitos Humanos, acima de tudo o direito à vida", dentro das leis e acordos internacionais. "Por isso, rechaçamos rotundamente o emprego da força exercida em algumas manifestações por parte de organismos de segurança do Estado, que se excederam e produziram consequências lamentáveis e irreparáveis", expressaram.

Diante destes fatos, fizeram um apelo à Procuradoria para colocar nas mãos da justiça àqueles agentes que abusaram de sua autoridade. Do mesmo modo, pediram atuar contra os "grupos armados não policiais e nem militares que foram contra a população" para que deixem de fazer "suas maldades, e se investigue seriamente o seu proceder, qualquer que seja a tendência política".

"A violência, venha de onde venha, é inaceitável e nunca produzirá frutos de sã convivência", afirmaram.

Os bispos assinalaram também que "nenhum modelo social ou político tem o direito a impor-se a outros", pois a Constituição venezuelana garante as condições de uma sociedade pluralista em suas visões.

Em seu comunicado, os prelados recordaram que "há bastante tempo vamos alertando sobre a importância de preservar umas relações sociais e políticas em que possam conviver as diferenças e promovemos o necessário processo de reconciliação".

"Esta passa por uma abertura de mente e de coração que reconheça que todos somos iguais e temos a mesma dignidade humana. Por isso, como também o afirmamos, urge um diálogo nacional" para procurar os pontos de coincidência e "resolver todos juntos, com responsabilidade e decisão, os graves problemas que afligem ao país e que geraram protestos de distintos grupos de cidadãos", expressaram.

Os bispos explicaram que o diálogo tem as suas próprias características. "A primeira é o respeito e reconhecimento dos outros que são diferentes, que pensam de forma diferente. Pedir diálogo e paz com um verbo aceso ou incendiando a rua, não produz o efeito esperado. A segunda é a busca da verdade".

Entretanto, lamentaram que este valor se perdeu na Venezuela. "As políticas agressivas conseguiram opacar este valor fundamental. Ninguém é dono da verdade, esta a construímos entre todos: Ninguém pode pretender a posse exclusiva e total da interpretação dos fatos. É necessário chegar à verdade dos acontecimentos e sucessos destes dias com a participação de todos".

"Foi proposta uma 'Comissão da Verdade': esta não é para favorecer a um setor em detrimento do outro, mas para procurar a verdade dos acontecimentos dolorosos que enlutaram as famílias venezuelanas. É necessário que a Venezuela conheça aqueles que delinquiram e que estes paguem sua condenação, seja quem for. Daí o pluralismo que deve existir nessa futura comissão", indicaram.

Os bispos exortaram os venezuelanos a reafirmar-se como irmãos. "Pode-se dissentir do outro, mas sem ofender. A Igreja na Venezuela, através de seus Bispos, a fim de ser fiel a sua missão ao Evangelho de libertação e de vida, propicia todo tipo de encontro para o diálogo e o compromisso de todos", expressaram.

Marcha de mulheres

Por sua parte, uma fonte próxima ao grupo ACI informou que nesta quarta-feira se realizará uma marcha de mulheres que sairá da Conferência Episcopal Venezuelana. Entre as participantes estará "a mãe de Génesis Carmona, a estudante de 22 anos e Miss Carabobo que foi assassinada em Valência".

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