ROMA, Nov 13, 2014 / 15:37 pm
O Arcebispo Siro Ortodoxo de Mossul, Mar Nicodemus Dawod Sharaf, começou a chorar durante uma entrevista ao recordar que em 1500 anos de história, essa é a primeira vez que os cristãos do norte do Iraque não puderam celebrar a padroeira na igreja devido à perseguição do Estado Islâmico; um fato que nunca tinha acontecido, nem mesmo durante as invasões mongólicas ou tártaras do passado.
O fato ocorreu durante uma entrevista com um jornal estrangeiro, na qual o arcebispo também denunciou a passividade dos organismos de direitos humanos. Entretanto, assegurou que em meio ao sofrimento, os cristãos do Iraque estão orgulhosos porque as perseguições são consequência de sua fidelidade a Cristo.
"Só queria dizer algo que é muito importante: Hoje é a festa de Santa Shmuni (15 de outubro). Esta é uma grande festa na nossa diocese, porque temos uma igreja em Qaraqosh", relatou.
"Todos os anos nesta Igreja, Santa Shmuni aparece sobre o muro da igreja, nós a vemos, todos nós. Há 1500 anos não deixamos de celebrar esta festa nesta igreja. Há 1500 anos, apesar dos mongóis, dos tártaros, Hulagu (neto de Gengis Kan) terem cruzado a região, apesar da grande quantidade de guerras que aconteceram no Iraque, não deixamos de rezar nas nossas igrejas, nem em Mossul ou nas vilas próximas", afirmou.
Entretanto, "este é o primeiro ano (começa a chorar por alguns segundos), este é o primeiro ano que estamos rezando fora da nossa igreja, que estamos rezando fora das nossas Igrejas".
Onde estão os organismos de direitos humanos?
Durante a entrevista, o Arcebispo Siro Ortodoxo condenou as ações do Estado Islâmico, que em julho expulsou dezenas de milhares de cristãos de Mossul –e depois de Qaraqosh-, por não aceitarem converter-se ao Islã. Os que permaneceram nas cidades foram decapitados, incluindo as crianças.
Além disso, as informações chegadas do Iraque e Síria mostram que os Jihadistas se dedicam a vender as cristãs e yazidís que capturam como escravas. "Verdadeiramente estas pessoas não têm Deus", expressou o Arcebispo.
Entretanto, também criticou a passividade dos organismos de direitos humanos. "Nada de humanidade permanece nesta região. Todos aqueles que se chamam 'direitos humanos', são mentirosos, todos são mentirosos. Os representantes dos direitos humanos estiveram vendo o que está acontecendo com a nossa pobre gente, e ninguém nos ajuda", expressou.
O líder religioso recordou que se pediu ajuda a estes organismos para que as centenas de milhares de refugiados possam suportar o inverno cruel, pois atualmente muitos deles vivem em barracas. "Ajudem-nos antes que o inverno e as chuvas cheguem. Vocês (dos direitos humanos) visitaram e viram como o povo está em uma situação miserável", advertiu.
"Por que? Qual pecado cometemos? Por que está acontecendo isso conosco? Mas estamos muito felizes por causa de apenas uma coisa: Todas estas coisas que nos acontecem e acontecerão, é porque não deixamos o nosso cristianismo, não estamos deixando o nosso Senhor e não estamos deixando a nossa fé, e temos a honra de sermos os filhos dos mártires", expressou.
O Arcebispo Siro Ortodoxo manifestou que "temos a honra de que cada coisa que está acontecendo conosco é só porque somos cristãos. Isso é uma honra para nós. Eles (o Estado Islâmico) acreditam que tudo isso nos fará renunciar, mas lhes dizemos: tudo isso nos fará mais unidos à nossa fé".
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