BEIRUTE, Nov 24, 2014 / 12:58 pm
Perto da fronteira entre o Líbano e a Síria, duas religiosas fazem parte do pessoal do centro de serviço aos refugiados que trabalha para dar alívio –e esperança– a milhares de pessoas que fugiram do conflito armado da Síria.
A irmã Micheline Lattouf, uma Irmã do Bom Pastor, disse ao Grupo ACI desde Beirute (Líbano) que "mantenho a minha esperança na oração".
"Procuro como ajudar as crianças, como ajudar as famílias", disse, chamando os refugiados de "vítimas no seu próprio país".
Irmã Micheline é diretora do Centro Social e Comunitário do Bom Pastor, em Deir-al-Ahmar, um povoado cristão no Vale Bekaa, ao norte do Líbano.
Ela e outra Irmã do Bom Pastor fazem parte da meia dúzia de pessoas que ajudam tanto os libaneses como os cerca de 8 mil a 9 mil sírios refugiados que estão entre os milhões de deslocados, desde que começou o conflito na Síria, em 2011.
O número de refugiados continua crescendo, 60 a 80 famílias refugiadas, cujo número de membros varia entre 5 a 15 pessoas, chegam à zona cada mês.
Estes refugiados são predominantemente muçulmanos sunitas que escapam de um conflito onde as forças rebeldes são eles mesmos, predominantemente sunitas. Eles se sentem inseguros nas zonas próximas aos muçulmanos xiitas, assim que se congregaram em povoados cristãos perto de Baalbek, um centro importante para o partido xiita libanês Hezbollah, que apoia o governo da Síria.
"Com as pessoas cristãs, eles se sentem mais seguros. Porque para eles, somos pessoas de paz. Queremos viver em paz e amor", disse Irmã Micheline.
Este padrão de interação de cristãos e muçulmanos é comum no Líbano, onde os cristãos são um importante amortecedor entre diferentes comunidades muçulmanas.
Vivendo em barracas e casas com paredes de sacos e lençóis de plástico recolhidos de cartazes usados, muitos dos refugiados vivem ao redor do centro comunitário das Irmãs do Bom Pastor.
"Sentem-se muito mal por sua situação. Querem voltar para Síria, e não podem. Esta não é uma vida", disse Irmã Micheline.
Uma escola fundada pelas irmãs ensina a 330 crianças refugiadas no turno da manhã, e no turno da tarde ensina as crianças libanesas locais.
As irmãs encontraram professores sírios entre os refugiados, e pagam a eles para que ensinem as crianças refugiadas de acordo com o sistema árabe do seu país natal, em vez do sistema multi-idioma do Líbano. O currículo inclui programas de construção da paz que alentam a coexistência cultural e as relações interculturais.
Irmã Micheline disse também que tem alguns medos sobre a possível presença de partidários do Estado Islâmico nos campos de refugiados.
"Às vezes tenho medo. Temos que ser cuidadosos", disse. "Cuidamo-los, recebemo-los no nosso centro, mas com os olhos abertos".
Algumas pessoas advertiram à Irmã Micheline que poderia ser assassinada pelo Estado Islâmico por causa do seu trabalho.
"Eu lhes digo 'provavelmente'. Mas essa não é uma razão para parar a minha missão", disse. "Tenho a minha missão e continuo a minha missão".
"Se me matarem, não é um problema… provavelmente outra irmã terá coragem para continuar a missão".
Irmã Micheline citou o exemplo do Arcebispo de São Salvador (El Salvador), Dom Óscar Romero, que foi assassinado em 1980, depois de criticar as violações dos direitos humanos do governo.
"Acredito que caso eu seja assassinada por causa do meu trabalho com os refugiados, será por que o mundo de hoje precisa de outro Óscar Romero".
A irmã disse que se inspirou pelas 330 crianças sírias na escola.
"Podemos ver a transformação no seu comportamento e sua higiene e sua relação entre a comunidade libanesa e os refugiados", disse. "Quando vejo a transformação nas crianças, vejo que são felizes. São felizes de vir ao centro, de aprender. Elas querem aprender".
"Quando as vejo, 30 ou 40 pessoas em uma sala pequena que estão esperando simplesmente aprender. Isso me dá a grande esperança pelo futuro", assegurou.
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