ROMA, Apr 16, 2015 / 15:09 pm
O Parlamento Europeu aprovou, nesta quinta-feira, uma resolução sobre o genocídio armênio para recordar os 100 anos da tragédia cometida pelo Império Otomano, e elogiou a mensagem do Papa Francisco que denuncia que o assassinato de mais de um milhão de cristãos armênios pelos turcos como o primeiro genocídio do século XX.
A Turquia, assinala o texto, deve "aproveitar a comemoração do centenário do genocídio armênio como uma oportunidade importante para prosseguir seus esforços -inclusive a desclassificação dos arquivos- por evidenciar o seu passado, reconhecendo o genocídio armênio e, desta maneira, abrir o caminho à uma verdadeira reconciliação entre os povos turco e armênio".
O Parlamento espera que se afirme um espírito europeu de solidariedade e de justiça e aprovou uma emenda sobre o texto que elogia a recente mensagem do Papa durante a Missa pelo centenário do martírio armênio, no domingo passado.
O Parlamento destacou os esforços da Turquia e da Armênia por restabelecer as suas relações diplomáticas, recordou ademais "o milhão e meio de vítimas armênias inocentes que faleceram no Império Otomano" e pediu à Comissão e o Conselho europeus recordar este genocídio que ocorreu entre 1915 e 1917.
Os parlamentares também recordaram seu tratado de 1987 que afirma que os assassinatos dos armênios representam "um genocídio segundo a definição da Convenção para a Prevenção e a Sanção do Delito de Genocídio de 1948; que condena todos os casos de crimes contra a humanidade e genocídio, e lamenta profundamente qualquer tentativa de negá-los".
As palavras do Papa
No domingo 12 de abril o Papa Francisco comemorou com milhares de fiéis os cem anos do martírio armênio. No início desta celebração, o Pontífice deu um discurso onde denunciou as perseguições contra os cristãos em diversas partes do mundo, um "genocídio causado pela indiferença geral e coletiva".
"A humanidade vivenciou no século passado três grandes tragédias: a primeira, que geralmente é considerada como 'o primeiro genocídio do século XX', afligiu a seu povo armênio –primeira nação cristã–, junto aos sírios católicos e ortodoxos, os assírios, os caldeus e os gregos. Ocasionou o assassinato dos bispos, sacerdotes, religiosos, mulheres, homens, idosos e inclusive crianças e doentes indefesos", expressou aos fiéis armênios reunidos no Vaticano.
"Hoje recordamos, com o coração transpassado de dor, mas com a esperança de Cristo Ressuscitado, o centenário daquele extermínio trágico e sem sentido, que padeceu cruelmente sua geração passada. É necessário recordá-los, porque se escondemos ou negamos o mal é como se deixássemos que uma ferida siga sangrando sem ser cicatrizada", acrescentou.
Entretanto, o discurso do Pontífice causou uma revolta ao governo turco, convidando o Núncio Apostólico no país, Dom Antonio Lucibello. Turquia nunca reconheceu o massacre, embora que no ano passado o primeiro-ministro e hoje presidente Recep Tayyip Erdogan oferecesse suas condolências aos descendentes das vítimas.
Neste contexto, o Diretor da Rádio Vaticano, Padre Federico Lombardi, ao responder a pergunta de uma jornalista sobre o uso da palavra genocídio, explicou que as palavras do Papa se inserem em uma linha já traçada por João Paulo II. "Aquilo que o Papa disse me parece claro como o sol. Usou a terminologia 'genocídio', continuando com o uso já acunhado desta definição, desta palavra", assinalou.
O genocídio armênio
O genocídio ou holocausto armênio foi a deportação forçosa e extermínio de cerca de um milhão e meio e dois milhões de católicos armênios, vítimas de massacres e deportações massivas –sem meios para sobreviver –, provocado pelo Império Otomano de 1915 até 1923.
O começo do genocídio foi no dia 24 de abril de 1915, data em que as autoridades turcas aprisionaram 235 membros da comunidade de armênios em Istambul; depois disto, a cifra de presos subiu para 600 pessoas. Posteriormente o governo ordenou a expulsão de toda a população armênia, obrigando-lhes a caminhar centenas de quilômetros pelo deserto, passando fome, sede, roubos e violações feitas pelos guardas muçulmanos, aliados com grupos de assassinos e bandidos.
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