HAVANA, Sep 20, 2015 / 17:50 pm
O Papa Francisco presidiu sua primeira Missa em Cuba ante centenas de milhares de pessoas reunidas na Praça da Revolução (Plaza de la Revolución) de Havana. Em sua homilia refletiu sobre o sentido do serviço cristão e recordou que não ninguém serve uma ideia e sim pessoas e só aquele que serve pode chegar a "ser grande".
Na presença de diversos chefes de estado e acompanhado de uma grande quantidade de bispos cubanos, Estados Unidos e de outros países, o Santo Padre meditou sobre a passagem do Evangelho no qual os discípulos discutem sobre quem é o mais importante.
"Não podemos escapar desta pergunta, está gravada no coração. Recordo mais de uma vez em reuniões familiares pais que perguntam aos filhos: De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe? É como perguntar: Quem é mais importante para você (...). A história da humanidade esteve marcada pelo modo de como se responde a esta pergunta", disse o Papa.
O Pontífice chegou à Praça da Revolução meia hora antes do início da Missa para saudar e compartilhar alguns momentos com os assistentes. Durante a Eucaristia, deu a Primeira Comunhão a cinco meninos cubanos.
Para que o dia a dia "tenha certo sabor a eternidade", prosseguiu o Papa, é importante ter em conta o que diz o Senhor: "«Quem quer ser o primeiro, o mais importante, que seja o último de todos e o servidor de todos». Quem quer ser grande, que sirva outros, não se sirva dos outros".
"Longe de qualquer tipo de elitismo, Jesus não propõe um horizonte para poucos privilegiados, capazes de chegar ao «conhecimento desejado» ou a altos níveis de espiritualidade. O horizonte de Jesus é sempre uma proposta para a vida diária, mesmo aqui na «nossa ilha»; uma proposta que faz com que o dia a dia tenha sempre o sabor da eternidade".
"Quem é o mais importante? Jesus é simples na sua resposta: «Se alguém quiser ser o primeiro, há de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35). Quem quiser ser grande, sirva os outros e não se sirva dos outros", ensinou o Papa.
"Aqui temos o grande paradoxo de Jesus. Os discípulos discutiam sobre quem deveria ocupar o lugar mais importante, quem seria selecionado como o privilegiado, quem seria isento da lei comum, da norma geral, para se pôr em evidência com um desejo de superioridade sobre os demais. Quem subiria mais rapidamente, ocupando os cargos que dariam certas vantagens. Jesus transtorna a sua lógica, dizendo-lhes simplesmente que a vida autêntica se vive no compromisso concreto com o próximo", afirmou o Pontífice aos milhares de presentes na capital cubana.
O Papa Francisco explicou que servir significa "cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo. São os rostos sofredores, indefesos e angustiados que Jesus nos propõe olhar e convida concretamente a amar. Amor que se concretiza em ações e decisões. Amor que se manifesta nas diferentes tarefas que somos chamados, como cidadãos, a realizar. As pessoas de carne e osso, com a sua vida, a sua história e especialmente com a sua fragilidade, são aquelas que Jesus nos convida a defender, assistir, servir. Porque ser cristão comporta servir a dignidade dos irmãos, lutar pela dignidade dos irmãos e viver para a dignificação dos irmãos. Por isso, à vista concreta dos mais frágeis, o cristão é sempre convidado a pôr de lado as suas exigências, expectativas, desejos de onipotência".
Não servir-se "de outros"
Francisco advertiu logo sobre um tipo de serviço que não é o do Jesus: "Há um «serviço» que serve; mas devemos guardar-nos do outro serviço, da tentação do «serviço» que «se» serve. Há uma forma de exercer o serviço cujo interesse é beneficiar os «meus», em nome do «nosso». Este serviço deixa sempre os «teus» de fora, gerando uma dinâmica de exclusão".
Seguindo o Santo Padreo, "todos estamos chamados, por vocação cristã, ao serviço que serve e a ajudar-nos mutuamente a não cair nas tentações do «serviço que que se serve». Todos somos convidados, encorajados por Jesus a cuidar uns dos outros por amor. E isto sem olhar em redor, para ver o que o vizinho faz ou deixou de fazer. Jesus diz: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35). Não diz: Se o teu vizinho quiser ser o primeiro, que sirva. Devemos evitar os juízos temerários e animar-nos a crer no olhar transformador a que Jesus nos convida".
"Este cuidar por amor não se reduz a uma atitude de servilismo; simplesmente põe, no centro do caso, o irmão: o serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até «padece» com ela e procura a sua promoção. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos a ideias, mas a pessoas", pontuou.
Falando sobre os cubanos, Francisco destacou: "é um povo que ama a festa, a amizade, as coisas belas. É um povo que caminha, que canta e louva. É um povo que, apesar das feridas que tem como qualquer povo, sabe abrir os braços, caminhar com esperança, porque se sente chamado para a grandeza. Hoje convido-vos a cuidar desta vocação, a cuidar destes dons que Deus vos deu, mas sobretudo quero convidar-vos a cuidar e servir, de modo especial, a fragilidade dos vossos irmãos.
"Não os transcureis por causa de projetos que podem parecer sedutores, mas desinteressam-se do rosto de quem está ao teu lado. Nós conhecemos, somos testemunhas da «força imparável» da ressurreição, que «produz por toda a parte, gerando rebentos de um mundo novo» (EG, 276.278)".
"Não nos esqueçamos da Boa Notícia de hoje: a importância dum povo, duma nação, a importância duma pessoa sempre se baseia no modo como serve a fragilidade dos seus irmãos. Nisto, encontramos um dos frutos da verdadeira humanidade".
«Quem não vive para servir, não serve para viver», concluiu o Santo Padre.
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