21 de novembro de 2024 Doar
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Brasileiro vencedor de prêmio Ratzinger já defendeu temas controversos na Igreja

Padre Mário de França Miranda, SJ. | Arquidiocese do Rio de Janeiro

Um brasileiro, o jesuíta Padre Mário de França Miranda, foi anunciado como um dos vencedores da edição 2015 do Prêmio Ratzinger de Teologia, concedido pela Fundação Joseph Ratzinger. Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, o teólogo chegou a manifestar, em entrevista publicada perto da renúncia de Bento XVI, que a Igreja deveria mudar segundo os tempos modernos e criticou sua estrutura como excessivamente hierárquica, pouco aberta aos gays e defendeu abertamente o fim do celibato sacerdotal e a aprovação do uso de preservativos por parte da Santa Sé.  

Padre Mário de França Miranda é professor de Teologia Dogmática na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Já colaborou com o trabalho da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e com o Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM). Fez parte da Comissão Teológica do Vaticano, de 1992 a 2002, onde conheceu o então Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Em 2013, quando Bento XVI renunciou ao pontificado, Padre Mário concedeu uma entrevista ao jornal O Globo, na qual declarou que havia chegado "um momento em que a Igreja, só com os oficiais, padres, bispos e Papa, não aguenta mais".

"Esta estrutura foi uma traição à Igreja primitiva, em que todo mundo participava e tinha direitos iguais de participação. Todos são iguais, não tem homem, mulher, judeu, gentio ou escravo e senhor", disse o padre jesuíta na época, acrescentando que a Igreja havia erigido uma estrutura monárquica. O sacerdote defendeu que "todo cristão, todo católico, tem o direito de formar um grupo, com o qual a hierarquia não pode se meter".

Questionado se estes grupos poderiam ser um grupo de diversidade, que reunisse homossexuais, o jesuíta respondeu positivamente afirmando que "a Igreja não pode excluir, tem de atender todo mundo. É uma maneira de a Igreja mostrar sua abertura". Pe. França sublinhou que "a consciência histórica é lenta" e que "muita coisa que achamos normal hoje, daqui a 50 anos será considerada intolerável".

Em outra ocasião, na nomeação de Joseph Ratzinger como Papa, em 2005, Mário de França Miranda também comentou sobre esse ritmo de mudanças na Igreja, desta vez em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Na época, ao ser perguntado se haveria mudanças em relação aos métodos contraceptivos e ao homossexualismo, o teólogo respondeu que já ocorriam mudanças, mas que estas eram lentas.

"A Igreja não gosta de dar um passo e depois dar marcha a ré. Eu comparo a Igreja a uma procissão. Se você vai muito rápido, os velhos ficam fora. Se vai muito devagar, os jovens caem fora também", indicou.

A questão da contracepção voltou a ser apresentada ao teólogo na entrevista de 2013, ao jornal O Globo. Ele respondeu citando um fato ocorrido na Europa: "São questões morais que têm se ser mudadas, mas é uma coisa lenta. No papado de João Paulo II, o cardeal de Bruxelas disse: na minha arquidiocese é permitido camisinha – ele estava com um problema seríssimo de explosão de Aids entre trabalhadores imigrados. Resolveu assumir e disse: aqui é preciso usar camisinha. O Vaticano não disse uma palavra".

Da mesma forma, afirmou ao O Globo que "não há dúvidas de que o fim do celibato já deveria ter acontecido, Paulo VI era a favor disso - mas uma coisa destas vai mudar a estrutura".

Ao concluir, o jesuíta declarou que ou a Igreja muda ou acaba, ressaltando que a sociedade atual não possui mais líderes. "Na Igreja também, e os problemas são muito grandes. As religiões têm um papel muito forte no mundo de hoje, e a Igreja tem de ser uma reserva ética, apesar dos mal feitos da cúpula", finalizou.

Além do padre Mário de França Miranda, outro vencedor do Prêmio Ratzinger de Teologia 2015 foi o libanês Nabil el-Khoury. A premiação será conferida no próximo sábado, 21. 

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