23 de novembro de 2024 Doar
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Assim foi a histórica visita do Papa à Sinagoga de Roma: somos irmãos na fé!

Papa saúda o Rabino Chefe de Roma na sinagoga de Roma. | Daniel Ibáñez / ACI Prensa

O Papa Francisco visitou ontem à tarde a Sinagoga de Roma, a mais antiga da Europa. Tornou-se o terceiro Pontífice a visitar a sinagoga, depois de São João Paulo II (há 30 anos) e Bento XVI, em janeiro de 2010.

Em seu discurso, o Pontífice destacou as boas relações das duas confissões durante os últimos 50 anos graças ao Concílio Vaticano II e pediu aprofundar "a compreensão recíproca, a confiança mútua e a amizade".

O Papa também dirigiu uma oração especial aos seis milhões de judeus que morreram no Holocausto e, de maneira especial, aqueles que foram levados de Roma aos campos de concentração.

Estavam presentes no local, o Presidente da Comunidade Judia romana, o Presidente das Comunidades judias da Itália e o Rabino Chefe de Roma, Riccardo Di Segni.

O Pontífice destacou que esta era sua primeira visita à Sinagoga como Bispo de Roma e desejava estender a todas as comunidades judias "a saudação fraterna de paz desta Igreja e de toda a Igreja católica".

"As nossas relações me interessam muito. Em Buenos Aires, eu já estava acostumado a frequentar as sinagogas para encontrar as comunidades lá reunidas".

"Com o passar dos anos, criou-se uma união espiritual, que favoreceu o nascimento de autênticas relações de amizade e também inspirou um compromisso comum".

"No diálogo inter-religioso é fundamental encontrar-nos, como irmãos e irmãs, diante do nosso Criador e a Ele prestar louvor; respeitar-nos e apreciar-nos mutuamente e colaborar", disse no discurso.

O Santo Padre sublinhou: "No diálogo judeu-cristão há uma ligação única e peculiar em virtude das raízes judaicas do cristianismo: judeus e cristãos devem, portanto, sentir-se irmãos, unidos pelo próprio Deus e por um rico patrimônio espiritual comum no qual basear-nos e continuar a construir o futuro.

Francisco recordou as visitas de seus predecessores há alguns anos e, como João Paulo II, cunhou a bela expressão "irmãos mais velhos". De fato, vocês são as nossas irmãs e as nossos irmãos mais velhos na fé. Todos nós pertencemos a uma única família, a família de Deus; juntos, Ele nos acompanha e nos protege como seu Povo.

"Juntos, como judeus e como católicos, somos chamados a assumir as nossas responsabilidades por esta cidade, dando a nossa contribuição, também espiritual, e favorecendo a resolução dos diversos problemas atuais", disse no Templo Maior da Sinagoga.

Continuando, indicou: "Espero que aumentem, sempre mais, a proximidade espiritual, o conhecimento e a estima recíprocos entre as nossas duas comunidades de fé".

Graças ao Concílio

Grande parte de sua intervenção foi dedicada também à Declaração Nostra Aetate, publicada pelo Papa Paulo VI e que acaba de completar 50 anos. Tratava de regular as relações com as diferentes confissões, sobretudo, com o judaísmo.

"O Concílio, com a Declaração Nostra Aetate, traçou o caminho: 'sim' à descoberta das raízes judaicas do cristianismo; 'não' a toda forma de antissemitismo e condenação de toda injúria, discriminação e perseguição, que disso derivam", disse recordando umas palavras que pronunciou em outra ocasião.

O Santo Padre ainda mencionou o documento aprovado no último dia 10 de dezembro pela Comissão para a relações religiosas com o judaísmo, o qual "aborda as questões teológicas emergidas nos últimos decênios, após a Declaração Nostra Aetate".

"A dimensão teológica do diálogo judeu-católico merece ser sempre mais aprofundada. Por isso, encorajo todos aqueles que estão comprometidos com este diálogo a continuar neste caminho, com discernimento e perseverança".

"Os cristãos não podem não fazer referência às raízes judaicas; a própria Igreja, professando a salvação, mediante a fé em Cristo, reconhece a irrevocabilidade da Antiga Aliança e o amor constante e fiel de Deus por Israel".

Desafios atuais

A respeito dos desafios que devem ser enfrentados hoje em dia, o Pontífice destacou "uma ecologia integral e prioritária". "Como cristãos e judeus, podemos e devemos oferecer a toda a humanidade a mensagem da Bíblia sobre o cuidado da criação".

"Os conflitos, as guerras, as violências e as injustiças causam ferimentos profundos na humanidade e nos impelem a comprometer-nos pela paz e pela justiça. A violência do homem contra o homem está em absoluta contradição com qualquer religião, digna deste nome e, em particular, com as três grandes Religiões monoteístas. A vida é sagrada, como dom de Deus. O quinto mandamento do Decálogo, diz: 'Não matar'", recordou.

"Deus, que é Deus da vida, quer sempre promovê-la e salvaguardá-la. E nós, criados à sua imagem e semelhança, devemos fazer o mesmo. Todo o ser humano, como criatura de Deus, é irmão, independentemente da sua origem ou da sua pertença religiosa", assinalou o Papa.

"Toda pessoa deve ser vista com benevolência, como faz Deus, que estende a sua mão misericordiosa a todos, independentemente da sua fé e da sua proveniência; Ele dispensa atenção particular aos que mais precisam dele: os pobres, os enfermos, os marginalizados, os indefesos".

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O Pontífice assinalou: "Lá, onde a vida corre perigo, somos chamados, por isso, a promovê-la e a salvaguardá-la. A violência e a morte jamais terão a última palavra diante de Deus, que é Deus do amor e da vida!".

Então, pediu rezar "com insistência" para que nos ajude a praticar – na Europa, na Terra Santa, no Oriente Médio, na África e em qualquer outra parte do mundo – não a lógica da guerra, da violência, da morte, mas a da paz, da reconciliação, do perdão, da vida".

"O povo judaico, na sua história, teve que padecer violências e perseguições, até ao extermínio dos judeus europeus, durante o período da Shoah. Seis milhões de pessoas, apenas por pertencerem ao povo judaico, foram vítimas da barbárie mais desumana perpetrada em nome de uma ideologia, que queria substituir Deus com o homem".

O Santo Padre recordou então os mil judeus de Roma que, em 16 de outubro de 1943, foram levados a Auschwitz, um dos principais campos de concentração nazista.

"O passado deve servir de lição para o presente e o futuro. A Shoah nos ensina que é preciso sempre máxima vigilância, para poder intervir, tempestivamente, em defesa da dignidade humana e da paz".

O Pontífice disse: "Queria expressar a minha solidariedade a cada testemunha da Shoah que ainda vive; saúdo, de modo particular, aqueles que hoje estão presentes aqui".

"Peçamos juntos ao Senhor, a fim de que conduza o nosso caminho rumo a um futuro bom e melhor. Deus tem para nós projetos de salvação", sublinhou e despediu-se: "Que o Senhor os abençoe e os proteja, resplandeça seu rosto sobre nós e nos dê a sua graça. Que dirija sobre nós seu rosto e nos conceda a paz".

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