23 de novembro de 2024 Doar
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Papa Francisco se diz aberto a aprofundar questão do diaconato feminino

Papa Francisco | Yahaira Jacquez (ACI Prensa)

O Papa Francisco afirmou que pode retomar o estudo sobre o diaconato feminino na igreja primitiva. Mencionou o tema durante a audiência com a União Internacional de Superioras Gerais (UISG) no Vaticano. O tema não é novo e foi proposto uma vez mais em tempos recentes.

João Paulo II respondeu em 1994 à abertura anglicana com a carta "Ordinatio sacerdotalis" e negou categoricamente a possibilidade do sacerdócio feminino na Igreja Católica. O Cardeal Carlo Maria Martini foi quem falou da possibilidade de estudar a instrução do diaconato para as mulheres, que não menciona no documento papal.

O então Arcebispo de Milão disse: "Na história da Igreja existiram as diaconisas, por isso podemos pensar nesta possibilidade". Alguns historiadores da Igreja antiga sublinharam que as mulheres eram admitidas em um especial serviço diaconal da caridade que se diferencia do diaconato atual, entendido como o primeiro grau do sacerdócio.

O que o Papa disse hoje sobre as diaconisas?

Durante o encontro de hoje, no qual foram trocadas perguntas e respostas, perguntaram ao Papa por que a Igreja exclui as mulheres de servir como diáconos. As religiosas explicaram ao Pontífice que as mulheres serviam como diaconisas na Igreja primitiva e lhe perguntaram: "Por que não constituímos uma comissão oficial que possa estudar a questão?". O Pontífice respondeu que já havia falado alguma vez há alguns anos acerca deste tema "com um professor bom e sábio", que tinha estudado o papel das diaconisas nos primeiros séculos da Igreja. Francisco havia explicado que ainda não estava claro o papel que tiveram tais diaconisas. "O que eram estes diaconatos femininos?", recordou o Papa ter perguntado ao professor. "Havia ordenação ou não?". "Era um pouco escuro", disse. "Qual era o papel da diaconisa naquele tempo?"; "Devemos constituir uma comissão oficial que possa estudar a questão?", perguntou o Papa em voz alta. "Acredito que sim. Seria pelo bem da Igreja esclarecer este ponto. Estou de acordo. Falarei para que seja feito algo a respeito". "Aceito", disse o Papa em seguida. "Seria útil ter uma comissão que esclareça bem este assunto".

Segundo uma tradição antiquíssima, o diaconato estava relacionado "não ao sacerdócio, mas ao ministério". Existem alguns testemunhos da história sobre a presença das diaconisas, tanto na Igreja ocidental como na oriental. Os testemunhos se referem também aos ritos litúrgicos de ordenação. O ponto que deveria ser aprofundado é que tipo de figura ministerial tinham, quais eram as funções que desenvolviam na comunidade. A posição do magistério considera o diaconato como o primeiro grau do ministério da ordenação sacerdotal e o reserva somente aos homens, assim como os dois graus sucessivos, o presbiterado e o episcopado.

Ao estar de acordo em instituir uma comissão de estudo sobre o diaconato feminino na Igreja primitiva, Francisco quer verificar e ver como atualizar aquela forma de serviço, consciente de que as diaconisas permanentes podem representar "uma possibilidade atual". No começo do cristianismo existia uma diaconia feminina (a qual menciona São Paulo) e foi documentado que no século III, na Síria, existiam as diaconisas que ajudavam ao sacerdote no batismo das mulheres. Um papel que se recolhe nas Constituições apostólicas do século IV, as quais se referem a um tipo de rito de consagração, entretanto este era distinto da diaconia masculina.

Algumas formas de serviço de diaconia feminina foram institucionalizadas há certo tempo, por exemplo na diocese de Pádua (Itália) por iniciativa do então bispo Antonio Mattiazzo. Trata-se de mulheres que, apesar de não vestir hábito religioso, emitiam votos de obediência, pobreza e castidade. Elas se consagraram como "colaboradoras apostólicas diocesanas".

O papel e serviços desta nova forma de serviço se explicaram em seu tempo na diocese: "É uma forma de diaconia feminina inspirada no Evangelho. As colaboradoras apostólicas assumem a diaconia apostólica como projeto de vida acolhido, provado e orientado por parte do bispo". Entre os serviços estão chamadas ao anúncio da Palavra, a educação na fé, as obras de caridade ao serviço dos pobres, a distribuição da comunhão, a animação da liturgia ou a gestão das estruturas como escolas e institutos.

O Papa Francisco falou mais de uma vez a respeito da necessidade para a Igreja Católica de valorizar o papel da mulher, mas sempre evitou apresentar esta valorização como uma forma de "clericalizar" as mulheres. "É algo que não sei de onde saiu – disse em dezembro de 2013, na entrevista com 'La Stampa' devido a declarações sobre mulheres cardeais – as mulheres na Igreja devem estar valorizadas, não 'clericalizadas'. Quem pensa em mulheres cardeais sofre um pouco de clericalismo".

Em setembro de 2001, o então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger, junto com os cardeais Medina Estévez, (Prefeito do Culto Divino) e Castrillón Hoyos (Prefeito para o Clero) assinaram uma breve carta, aprovada pelo Papa João Paulo II, por meio da qual afirmavam que "não é lícito pôr em ato iniciativas que em qualquer modo pretendam preparar candidatas à ordem sacerdotal". O texto se referia à ordem diaconal como sacramento e primeiro grau do sacerdócio.

Novos estudos sobre o diaconato feminino na igreja dos primeiros séculos, seu papel e deveres confrontados com o diaconato masculino, poderiam abrir novas possibilidades e novas formas de serviço consagrado além das ordens religiosas femininas já existentes.

"A Igreja necessita que as mulheres entrem no processo de tomada de decisões. Também que possam guiar um departamento no Vaticano", afirmou o Papa Francisco respondendo seis perguntas que lhe fizeram durante o encontro com 900 religiosas do mundo inteiro.

Na Sala Nervi, explicou que "a Igreja deve incluir as consagradas e leigas na consulta, mas também nas decisões, porque necessitamos seu ponto de vista. E este papel crescente das mulheres na Igreja não é feminismo, mas corresponsabilidade e um direito de todos os batizados: homens e mulheres". O Papa também sublinhou que "muitas mulheres consagradas são mais 'mulherzinhas' do que pessoas envolvidas no ministério do serviço. A vida consagrada – acrescentou – é um caminho de pobreza, não um suicídio".

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