CRACÓVIA, Jul 27, 2016 / 18:00 pm
Com os recentes casos de atentados terroristas em diferentes partes do mundo, o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, observa que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) acontece em tempos de intolerância e ódio. Isso, porém, não foi motivo para impedir a presença de centenas de milhares de jovens neste grande evento, do qual participam pedindo paz.
"A Jornada Mundial da Juventude acontece, justamente, em tempos de atentados e tragédias, causados pela discriminação, intolerância e ódio, assinala o Purpurado em recente artigo publicado no site da Arquidiocese de São Paulo.
Mas, Dom Odilo sublinha que "tantos jovens aderiram à Jornada, deixando o medo em casa, pondo-se em marcha para encontrar outros jovens, para ouvir o Papa Francisco, a Igreja". "O que dizem esses jovens ao mundo?", questiona o Arcebispo.
O próprio Cardeal responde que esses jovens "querem um mundo sem violência e acreditam que isso é possível". "Eles são o rosto esperançoso de uma humanidade, de uma grande família de irmãos, unida pela busca comum do rosto de Deus e guiada por valores genuínos e construtivos".
No artigo intitulado 'Jornada da Juventude: os jovens querem a paz', Dom Odilo contrasta os dois momentos vividos pelo mundo nesses dias. Por um lado, jovens de diferentes partes chegam a Cracóvia, na Polônia, para a 31ª JMJ. "Os jovens vieram para cá como peregrinos em busca do Deus da misericórdia", indica.
Esses jovens expressam a sua alegria, cantam, dançam "e se abraçam nas praças, com quem nunca tinham visto antes, vindo sabe-se lá de qual país, sem falar a mesma língua... Crachá, boné da JMJ, mochila às costas, sorriso largo e brilho no olhar os identificam como parte de uma mesma multidão de peregrinos, que caminham na mesma direção... Não são caminheiros anônimos pela vida, mas irmãos de tantos que, como eles, 'procuram a face de Deus'".
Por outro lado, o mundo vivenciou nos últimos dias diversos atentados, entre os quais o Cardeal cita o tiroteio em Munique, o ataque a machado em um trem, o caminhão que atropelou uma multidão em Nice, entre outros. Isso, além dos atentados quase diários no Oriente Médio e na África, muitos dos quais não chegam a se tornar notícia, ou a preocupação com a segurança durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Essa realidade com "fatos assustadores", segundo o Arcebispo, levam uma séria reflexão: "O que está acontecendo? O que faz as pessoas se organizarem para realizar atos de violência contra pessoas inocentes e desprevenidas, de maneira dificilmente previsível? É a vontade de espalhar a anarquia e o terror pelo mundo? A vingança contra supostos inimigos? É a busca do poder? O desejo de mostrar força?", pergunta, lembrando que o próprio Papa Francisco chegou a falar em uma "'3ª guerra mundial, em andamento', com características de 'guerra global'".
Para Dom Odilo, essa onda de terrorismo e violência parece ser "sintoma de uma época em profunda crise de identidade e de valores: movimentos fundamentalistas rejeitam a modernidade, que permeia tudo e todos os espaços do convívio humano; tentam mudar o rumo da história, expurgando pela violência os valores não compartilhados e atacando pessoas e símbolos desses valores".
"Estamos também diante de um vazio existencial, onde são muitas vezes rejeitados os valores básicos do convívio, como o respeito, a tolerância, a solidariedade, a justiça, tidos por alguns como superados", aponta.
É neste cenário que a Jornada Mundial da Juventude acontece com o clamor dos jovens pela paz, uma juventude que, de acordo com o Cardeal, quer viver e vive "em paz uns com os outros". "Eles fazem a experiência de uma 'nova humanidade', que eles querem construir, desde agora", assinala.
Dom Odilo considera que essas jovens "acreditam no Deus da misericórdia, em cujas mãos confiam sua própria fragilidade e a de seus irmãos; e acreditam que a prática das obras misericórdia é remédio contra a violência, enche a vida de sentido e torna o coração sensível e bom diante do próximo".
"Um coração assim jamais irá se entregar à violência. Os jovens em Cracóvia são a imagem da humanidade reconciliada no amor", conclui.
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