Roma, Apr 29, 2017 / 20:59 pm
Como já é habitual ao concluir suas viagens internacionais, o Papa Francisco concedeu uma roda de imprensa no voo de retorno a Roma após a sua viagem ao Egito entre os dias 28 e 29 de abril.
Em diálogo com os jornalistas, o Santo Padre tratou diversos temas como a forma em que se realizam as audiências privadas que concede, a situação atual da Venezuela, entre outros.
"Boa tarde. Agradeço-lhes pelo trabalho, porque foram 27 horas, acredito, de muito trabalho. Muito obrigado por tudo o que têm feito. Estou à sua disposição", disse o Papa inaugurando a rodada de perguntas de jornalistas de veículos de imprensa de vários países.
O primeiro entrevistador foi Paolo Rodari (do Jornal italiano La Repubblica). "Quero lhe perguntar sobre o propósito do encontro com o Presidente (egípcio) Al Sisi. Do que falaram? Tratou-se o tema dos direitos humanos? E mais concretamente, falaram que caso de Giulio Regeni?
(Ndt: Regeni era um italiano de 28 anos que estava estudando um doutorado, que foi torturado e assassinado no Cairo em janeiro de 2016, um caso pelo qual o governo do Egito recebeu diversas acusações porque ainda não foi elucidado).
O Papa Francisco respondeu: Sobre isto, vou dar uma resposta geral para logo chegar ao particular. Geralmente, quando estou com um chefe de estado em diálogo privado, isso permanece em privado, a menos que, em acordo, digamos 'este ponto o faremos público'. Mantive 4 diálogos privados lá: com o grande ímã de Al Azhar, com Al Sisi, com o Patriarca Tawadros e com o Patriarca Ibrahim. Acredito que devem manter-se em privado. Por respeito, devem-se manter reservados.
Em relação à a pergunta sobre Regeni eu estou preocupado. Da parte da Santa Sé me moveram neste tema, porque os pais também me pediram isso, a Santa Sé se moveu. Não direi como nem onde, mas houve um movimento da parte da Santa Sé.
Em seguida, Darío Menor do Correo Español dirigiu esta pergunta ao Papa: "Ontem o sr. disse que a paz, a prosperidade e o desenvolvimento merecem cada sacrifício, e logo sublinhou o respeito aos direitos inalienáveis do homem. Significa isto um respaldo ao governo egípcio, um reconhecimento de seu papel no Oriente Médio como, por exemplo, a defesa dos cristãos, apesar da falta de garantias democráticas deste governo?"
Papa Francisco: Não. Deve-se interpretar literalmente como valores em si mesmos. Disse aquilo sobre defender a paz, defender a harmonia dos povos, defender a igualdade dos cidadãos, seja qual seja a religião que professam, são valores. Eu falei dos valores. Se um governante defender um ou defende o outro, esse é outro problema. Fiz 18 visitas. Em cada um dos países escutei: 'O Papa respalda a aquele Governo', porque sempre um governo tem suas debilidades ou tem seus adversários políticos que dizem umas coisas ou outras. Eu não me misturo. Eu falo dos valores, e que cada um veja e julgue se este governo, este Estado ou aquele outro, levam adiante esses valores.
Phil Pulella (da agência Reuters) perguntou: Você falou em seu primeiro discurso do perigo das ações unilaterais, e que todos devem ser construtores da paz, no primeiro discurso de ontem. Agora falou muito da terceira guerra mundial em pedaços, mas parece que hoje esse medo e ânsia está concentrada no que está ocorrendo na Coréia do Norte.
Papa Francisco: Sim, é o lugar onde se concentra.
Pulella: Exato, é o ponto onde se concentra. O Presidente Trump mandou uma frota militar ao longo da costa da Coréia do Norte, o líder da Coréia do Norte ameaçou bombardear a Coréia do Sul, o Japão, inclusive os Estados Unidos se conseguem construir mísseis de longo alcance. As pessoas têm medo e se está falando da possibilidade de uma guerra nuclear com toda naturalidade. Você, se vir o presidente Trump mas também a outras pessoas, o que diria a estes líderes que têm a responsabilidade do futuro da humanidade?, porque estamos em um momento bastante crítico.
Papa Francisco: Mas eu os contato, ligo para eles e os contatarei como contatei os líderes em diversos lugares para trabalhar na resolução dos problemas no caminho da diplomacia, e temos os facilitadores, muitos no mundo. Há mediadores que se oferecem, há países como a Noruega, por exemplo, ninguém pode acusar a Noruega de ser um país ditatorial, e sempre está disposto a ajudar, a dar exemplo, mas aí há vários.
O caminho é o caminho da negociação, o caminho da solução diplomática. Esta guerra mundial a pedaços, da qual venho falando há mais ou menos dois anos, é a pedaços, mas os pedaços estão se estirando, estão se concentrando, estão se concentrando em pontos que já estavam quentes, porque isto dos mísseis da Coréia vêm de um ano longo, mas agora parece que a coisa se esquentou muito.
Eu sempre chamo a resolver os problemas pelo caminho da via diplomática, da negociação. Porque o futuro da humanidade, hoje uma guerra alargada destrói, não digo a metade da humanidade, mas uma boa parte da humanidade e da cultura, tudo, tudo. Seria terrível. Acredito que hoje a humanidade não é capaz de suportá-lo.
Esperemos que aqueles países que estão sofrendo uma guerra interna, dentro deles, onde está se produzindo fogo de guerra, no Oriente Médio, por exemplo, mas também na África, ou no Iêmen. Paremos! Procuremos uma solução diplomática! E nisso acredito que as Nações Unidas têm o dever de repreender um pouco a sua liderança, porque se aguou um pouco.
"Deseja encontrar-se com o Presidente Trump quando vier a Europa? Formulou-se uma petição para este encontro?", perguntou o representante da Reuters.
Papa Francisco: "Não me informaram pela Secretaria de Estado que haja uma petição nesse sentido, mas eu recebo a todos os Chefes de Estado que solicitam uma audiência".
Já o jornalista Antonio Pelayo de Antena 3 perguntou sobre a Venezuela: "Santo Padre, a situação na Venezuela se degenerou ultimamente de modo muito grave e houve muitas mortes. Queria lhe perguntar se a Santa Sé e você pessoalmente pensam relançar essa ação, essa intervenção pacificadora e de que formas poderia assumir essa ação.
Papa Francisco: "Houve uma intervenção da Santa Sé sob pedido forte de quatro Presidentes que estavam trabalhando como facilitadores. E a coisa não resultou. E ficou aí.
(nDT: O pontífice se referia às ações da Santa Sé em 2016 a pedido dos ex-presidentes José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Leonel Fernández (República Dominicana), Martín Torrijos (Panamá) e Ernesto Samper (Colômbia) que não produziram resultado em termos de abertura ao diálogo com o governo de Nicolás Maduro).
Não resultou porque as propostas não eram aceitas, ou se diluíam, era um Sim-sim, mas não-não. Todos conhecemos a difícil situação da Venezuela, que é um país que eu estimo muito. E sei que agora estão insistindo, não sei bem de onde, acredito que da parte dos quatro presidentes, para relançar esta facilitação e estão procurando o lugar. Eu acredito que tem que ser com condições mas, condições muito claras. Parte da oposição não quer isto. É curioso, a mesma oposição está dividida, e por outro lado parece que os conflitos se agudizam cada vez mais. Mas há algo em movimento. Estive informado disso, mas está muito no ar ainda. Mas, tudo o que se pode fazer pela Venezuela é preciso fazê-lo, com as garantias necessárias", sentenciou o Santo Padre.
Ao final das perguntas o Papa Francisco disse aos jornalistas: "Obrigado a vocês pelo trabalho que fazem e que ajuda muita gente. Vocês não sabem o bem que podem fazer com suas crônicas, com seus artigos, com seus pensamentos.
Temos que ajudar as pessoas e ajudar também à comunicação, para que a comunicação, também a imprensa, leve-nos a coisas boas, e não nos leve a desorientações que não nos ajudam. Muito obrigado! E bom jantar! Rezem por mim!"
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