CARACAS, May 30, 2017 / 16:00 pm
O Bispo de San Cristóbal, na Venezuela, Dom Mario Moronta, defendeu os sacerdotes do estado de Táchira, que nas últimas semanas foram ameaçados anonimamente, especialmente Pe. Nepomuceno Hernandez, a quem os desconhecidos declararam "alvo paramilitar".
Segundo informou 'Diário Católico', nos últimos dias o Pe. Hernández, pároco da Igreja do Espírito Santo de La Grita, "foi ameaçado por grupos desconhecidos através de panfletos que circularam na localidade, nos quais aparece seu rosto convertendo-o em um 'alvo paramilitar'".
Também ocorreu o caso do Pe. Domingo Pernía, "acusado de organizar saques no povoado de Santa Ana" e criticado pelo governador de Táchira, José Gregório Vielma Mora, pois foi um dos sacerdotes que presidiu o funeral do jovem Daniel Rodríguez, assassinado durante os protestos contra o governo de Nicolás Maduro.
"Acusar dois sacerdotes de serem autores intelectuais ou organizadores de saques é ignorância e a ignorância é atrevida e arrogante. Acusar sem provas é uma calúnia e a calúnia, além de ser um pecado, é um crime. Põe em perigo a integridade desses sacerdotes", denunciou Dom Moronta em declarações ao 'Diário Católico'.
O Prelado assinalou que, como Igreja, "fomos mostrar a nossa solidariedade com aqueles que sofreram saques nas zonas populares como Barrancas". "Nós fizemos o que deveríamos fazer", expressou na entrevista publicada em 26 de maio.
Por isso, reiterou que as pessoas que acusam os sacerdotes devem apresentar as suas provas. "Preocupam-me os anúncios que dizem: 'Eu tenho provas', mas não as mostram. Tenham coragem para dizer e apresentar as provas, e não suposições", expressou.
O Bispo de San Cristóbal assegurou que os sacerdotes não têm medo. "Conversei com os ameaçados, inclusive com o sacerdote que aparece em um folheto e não sabe quem o declara alvo paramilitar, ou seja, podem matá-lo. Disse e respondeu-me: 'Bispo, eu permaneço aqui, tenho a minha consciência tranquila, o meu trabalho é com as pessoas'. Eu lhes pedi para que abram os olhos, escutem com atenção e que mantenhamos uma boa comunicação", indicou.
Perguntado se as ameaças são devido à posição da Igreja nos últimos dias, o Prelado assinalou que, "quando uma pessoa se torna defensora da verdade que nos torna livres, tem gente que não gosta e pode fazer ameaças".
"Quando as ameaças se tornam públicas sabemos quem faz estas ameaças, mas quando são ocultas sabemos que são obras do maligno que está sempre na escuridão. Acho que existem pessoas que querem nos manipular (...) e a igreja não vai se prestar para isso", afirmou.
Dom Moronta rechaçou a violência e afirmou que é "contra as trincheiras e os saques". Nesse sentido, exortou os venezuelanos a não se deixar levar "pelas paixões, nem por aquilo que nos divida e cause inquietação".
"Cristo derrubou todos os muros de divisão para criar uma nova humanidade, um verdadeiro homem novo, não o que querem nos apresentar disfarçado de coisas agradáveis ?, que no fundo é outra coisa", assinalou.
Além disso, defendeu a sua participação e a de outros sacerdotes no funeral de Daniel Rodríguez, cujo corpo foi carregado pelo Prelado. "O ato no qual participei, e que sempre participo, não foi um ato político, mas eminentemente religioso, litúrgico e humanitário, de caridade", afirmou.
Dom Moronta recordou que "um sacerdote tem a obrigação moral de enterrar o bom e o mau. Ao bom, pedindo a Deus que recompense os seus atos e ao mau pedindo para que perdoe os seus pecados"; e que não é a primeira vez que carrega um caixão. "Sempre acontece isso quando morre um familiar de um sacerdote e em outras oportunidades" por um pouco "de sensibilidade e porque às vezes não temos nada mais para dar, mas um gesto, um abraço", indicou.
Em seguida, o Prelado reiterou o rechaço dos bispos à Assembleia Constituinte convocada por Nicolás Maduro, porque "nunca será para acabar com a fome e a desesperança das pessoas, mas sim para aprofundar nas diferenças".
"Nós temos que procurar, como igreja, que as pessoas drenem e convertam as forças negativas em positivas, em energias para a construção da paz. Não é fácil, pois como você consola uma mãe quando seu filho foi assassinado? Como consola alguém que trabalhou a vida inteira e destruíram o seu armazém, o seu comércio ou fazenda? A igreja deve permanecer criando espaços para a paz".
"Um parente meu foi assassinado em Barinas em meio a esses protestos (...). O sobrinho do Bispo de San Carlos também foi baleado em Barinas... Esta loucura deve acabar, seja de onde venham essas balas", expressou.
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