22 de dezembro de 2024 Doar
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Papa identifica obstáculos na luta contra a fome e explica como superá-los

Papa Francisco na sede da FAO. | Captura Youtube

Em um discurso dirigido à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Papa Francisco lamentou os efeitos da insegurança alimentar entre as populações mais pobres do mundo e apelou a pôr fim nas guerras e na degradação do meio ambiente, principais obstáculos na luta contra a fome.

O Santo Padre visitou na manhã de hoje a sede da FAO em Roma, por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, cujo tema deste ano é "Mudar o futuro da migração. Investir na segurança alimentar e no desenvolvimento rural".

Depois de ouvir as palavras do Diretor Geral da FAO, José Graziano da Silva, e do Observador Permanente da Santa Sé nas Organizações e nos Organismos das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, Dom Fernando Chica Arellano, mostrou o presente do Papa à FAO: uma escultura de mármore que representa Aylan, o menino sírio que morreu afogado no Mar Mediterrâneo, na costa da Turquia, em outubro de 2015.

Guerras e mudanças climáticas

O Pontífice se referiu a estudos realizados pelas Nações Unidas e outros organismos para afirmar que os dois principais obstáculos na luta contra a fome são os conflitos e as mudanças climáticas.

"É claro que as guerras e as mudanças climáticas provocam a fome, então evitemos apresentá-la como uma doença incurável", sublinhou.

O Papa rechaçou a especulação com os recursos alimentares "que os mede apenas em termos de benefício econômico dos grandes produtores ou em relação às estimativas de consumo, e não em relação às exigências reais das pessoas. Desta forma, os conflitos e o desperdício são favorecidos e aumenta o número dos últimos da Terra que buscam um futuro distante de seus territórios de origem".

"Frente ao aumento da demanda de alimentos é preciso que os frutos da terra estejam à disposição de todos", afirmou. "Para alguns, bastaria diminuir o número das bocas a serem alimentadas e dessa maneira se resolveria o problema; porém esta é uma falsa solução se se leva em consideração o nível de desperdício de comida e os modelos de consumo que desperdiçam tantos recursos. Reduzir é fácil, compartilhar, ao contrário, implica una conversão, e isso é exigente".

Agricultura Sustentável

O Pontífice incentivou a promover uma responsabilidade global que garanta a produção agrícola suficiente que responda às necessidades alimentares de todos.

"A realidade atual", assinalou, exige uma maior responsabilidade em todos os níveis, não só para garantir a produção necessária ou a distribuição equitativa dos frutos da terra, mas sobretudo para garantir o direito de todo ser humano de alimentar-se segundo as próprias necessidades".

Em seu discurso, Francisco mostrou a urgência de atuar para garantir a segurança alimentar. "As mortes por causa da fome e o abandono da própria terra são notícias comuns, com o perigo da indiferença. Precisamos urgentemente encontrar novas maneiras de transformar as possibilidades que dispomos numa garantia que permita a cada pessoa encarar o futuro com confiança, e não apenas com alguma ilusão".

Como contraponto à crise alimentar que afeta várias regiões do planeta, o Santo Padre destacou que "as recentes previsões feitas por seus especialistas contemplam um aumento da produção global de cereais, a níveis que permitem dar maior consistência às reservas mundiais. Este dado nos dá esperança e nos ensina que, se trabalharmos, prestando atenção às necessidades e independentemente de especulações, os resultados chegam".

Nova linguagem

Francisco propôs a introdução de uma nova linguagem para a cooperação internacional. "Eu me pergunto, e também a você: "Seria exagerado introduzir na linguagem da cooperação internacional a categoria do amor, conjugada como gratuidade, igualdade de tratamento, solidariedade, cultura do dom, fraternidade e misericórdia?".

Em seguida, explicou a sua proposta: "Amar os irmãos, tomando a iniciativa, sem esperar a ser correspondidos, é o princípio evangélico que encontra também expressão em muitas culturas e religiões, tornando-se princípio de humanidade na linguagem das relações internacionais".

"Amar significa contribuir para que cada país aumente a produção e alcance a autossuficiência alimentar. Amar se traduz em pensar em novos modelos de desenvolvimento e consumo e em adotar políticas que não piorem a situação das populações menos avançadas ou sua dependência externa. Amar significa não continuar a dividir a família humana entre aqueles que gozam do supérfluo e aqueles que não têm o necessário".

Vulnerabilidade dos migrantes

A respeito das migrações, o Papa recordou que, para fugir de suas situações de miséria e falta de oportunidades, ou mesmo situações de grave perigo para suas vidas, os migrantes "se deslocam para onde veem uma luz ou percebem uma esperança de vida. Eles não podem ser detidos por barreiras físicas, econômicas, legislativas e ideológicas. Somente uma aplicação coerente do princípio de humanidade pode conseguir isso".

Em seu discurso, o Papa quis entrar no debate acerca da vulnerabilidade. "Vulnerável é quem está em situação de inferioridade e não pode se defender, não têm meios, ou pela indiferença, intolerância e inclusive pelo ódio".

Diante desta situação, "é justo identificar as causas para agir com competência necessária. Mas não é aceitável que, a fim de evitar compromissos, tendam a consolidar-se por trás dos sofismas linguísticos que não honram a diplomacia, reduzindo-a da 'arte do possível' a um exercício estéril para justificar o egoísmo e a inatividade".

Prevenção

"O jugo da miséria gerada pelo deslocamento muitas vezes trágico de migrantes pode ser eliminado por meio de uma prevenção consistente de projetos de desenvolvimento que gerem trabalho e respostas às crises ambientais. A prevenção custa muito menos do que os efeitos provocados ??pela degradação das terras ou pela poluição das águas, flagelos que atingem as zonas nevrálgicas do planeta, onde a pobreza é a única lei, as doenças aumentam e a expectativa de vida diminui".

Finalmente, destacou a contribuição da Igreja Católica que, "com suas instituições, com um conhecimento direto e concreto das situações a serem enfrentadas ou das necessidades a serem satisfeitas, quer participar diretamente desse esforço em virtude de sua missão, que a leva a amar todos e obriga também aqueles que têm responsabilidade nacional ou internacional a recordar o grande dever de enfrentar às necessidades dos mais pobres".

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