21 de novembro de 2024 Doar
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Cardeal Müller: Alguns grupos querem que eu lidere um movimento contra o Papa

Cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé | Daniel Ibáñez/ ACI Prensa

O ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal alemão Gerhard Müller, lamentou que existam grupos na Igreja que querem vê-lo liderar um movimento contra o Papa Francisco.

Em uma entrevista concedida em 26 de novembro a Massimo Franco, do jornal italiano 'Corriere della Sera', o Purpurado assinalou que "há grupos tradicionalistas, e também progressistas, que gostariam de ver-me como líder de um movimento contra o Papa. Mas eu nunca farei isso".

"Servi a Igreja com amor durante 40 anos como sacerdote, 16 anos como professor de teologia dogmática e 10 anos como bispo diocesano. Acredito na unidade da Igreja e não permito que ninguém instrumentalize as minhas experiências negativas dos últimos meses", disse o Cardeal que deixou o cargo de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no dia 1º de julho deste ano.

O Purpurado indicou também que "as autoridades da Igreja, entretanto, devem escutar as pessoas que têm perguntas sérias ou queixas justas, não devem ignorá-las nem humilhá-las".

"Se isso acontecer, sem querer, pode aumentar o risco de uma separação lenta que poderia provocar um cisma em uma parte do mundo católico, desorientado e desiludido. A história do cisma protestante de Martinho Lutero há 500 anos, deve ensinar-nos que esse erro deve ser evitado.

Depois de explicar que ele não é um "inimigo" do Papa, o ex-prefeito destacou que "um bispo católico e cardeal da Santa Igreja Romana naturalmente está com o Santo Padre. Mas eu acho que (...) os verdadeiros amigos não são aqueles que elogiam o Papa, mas aqueles que o ajudam com a verdade e com a competência teológica e humana".

O Cardeal explica que é verdade que existem tensões na Igreja, e que elas nascem "da oposição entre um frente tradicionalista extremista em alguns sites, e uma frente progressista igualmente exagerado, que hoje busca ser estabelecido como 'superpapista'".

Em sua opinião, "os cardeais que expressaram as suas dúvidas (dubbia) sobre a Amoris Laetitia, ou as 62 pessoas que assinaram de uma carta de críticas também excessivas ao Papa são ouvidos, não vistos como 'fariseus' ou pessoas que se queixam. A única maneira de sair desta situação é um diálogo claro e direto. Em vez disso, tenho a impressão de que no 'círculo mágico' do Papa há pessoas que se preocupam, sobretudo, de espiar sobre os supostos adversários, impedindo assim uma discussão aberta e equilibrada".

Para o Cardeal, "classificar todos os católicos segundo as categorias de 'amigo' ou 'inimigo' do Papa, é o dano mais grave que causam à Igreja. Permanecemos perplexos diante de um conhecido jornalista, ateu, que se diz amigo do Papa; e ao mesmo tempo, um bispo católico e cardeal que, como eu, é difamado como opositor do Santo Padre".

"Eu acho que essas pessoas não podem dar aulas de teologia sobre o primado do Romano Pontífice", sublinhou.

O Purpurado alemão também indicou que o "Papa Francisco é muito popular e isso é bom, mas as pessoas já não recebem os sacramentos. E a sua popularidade entre os não católicos que o mencionam com entusiasmo não mudam as suas falsas convicções. Emma Bonino (parlamentar italiana), por exemplo, elogia o Papa, mas permanece firme em suas posições a respeito do aborto, algo que o Papa condena".

Em sua opinião, a etapa do "hospital de guerra" proposto pelo Santo Padre para a Igreja no início do seu pontificado, já terminou. Hoje, continuou, "precisamos de mais um 'Silicon Valley' da Igreja. Devemos ser os 'Steve Jobs' da fé e transmitir uma visão forte em termos de valores morais, culturais e de verdades espirituais e teológicas".

Não basta, sublinhou, "a teologia popular de alguns monsenhores, nem a teologia muito jornalística dos outros. Precisamos da teologia em nível acadêmico".

Para concluir, o Cardeal Müller disse que tem a "sensação que Francisco quer ouvir e integrar todos, mas os argumentos das decisões devem ser discutidos anteriormente. João Paulo II era mais um filósofo do que um teólogo, mas recebia a assistência e o assessoramento do Cardeal Ratzinger na preocupação dos documentos do magistério. A relação entre o Papa e a Congregação para a Doutrina da Fé é e sempre será a chave para um pontificado proveitoso".

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