CARACAS, Jan 30, 2018 / 16:00 pm
Os bispos da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) afirmaram que "é um verdadeiro crime que clama ao céu" adiantar as eleições nesse país em meio à grave situação de miséria e fome que vive a nação.
"É um absurdo ético e humano, um verdadeiro crime que clama ao céu, que em meio a uma situação de miséria, fome, falta de serviços, morte e desintegração nacional, privilegie-se um espetáculo de distração e alienação, em condições desiguais, contra todo o senso de equidade e serviço à população", indicaram os bispos em comunicado divulgado na segunda-feira, 29 de janeiro.
A Assembleia Nacional Constituinte (ANC) emitiu um decreto em 23 de janeiro para adiantar as eleições que normalmente são realizadas em dezembro, uma medida que foi "aprovada por aclamação", segundo indicou Delcy Rodríguez, presidente da Assembleia.
Depois da aprovação do decreto, o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro pediu ao "Poder Eleitoral para definir a data imediatamente para acabar com isso logo, ganhar as eleições e começar a fazer uma grande e necessária revolução 2018. Vamos acabar com isso de uma vez por todas".
Maduro disse que as eleições serão realizadas com ou sem oposição.
Em seu comunicado, os prelados assinalaram que, "na Democracia, a primeira responsabilidade de cada governante é atender às necessidades básicas das pessoas, que hoje infelizmente são obrigadas a passar fome, a não contar com os serviços mínimos indispensáveis para a vida, em algumas ocasiões até morrer, e em outras, emigrar diante da necessidade de sobrevivência".
Após recordar que o povo é que garante a soberania "e não uma instância falsa", os bispos ressaltaram que para isso é necessário "instituições do Estado que respeitem a vontade do povo".
"Além disso, devemos recordar que, se realmente vivemos em uma democracia, a instituição eleitoral – CNE – deve manter a sua autonomia e servir ao povo eleitor", acrescentaram.
De acordo com a BBC, não se sabe qual candidato da oposição poderia apresentar-se, pois os principais líderes, Henrique Capriles e Leopoldo López, estão inabilitados.
O adiantamento das eleições foi rejeitado pela oposição venezuelana e pelo Grupo de Lima, que reúne representantes de 14 países da América.
O chanceler chileno Heraldo Muñoz, leu um comunicado a respeito, o qual indica que "esta decisão impossibilita a realização das eleições presidenciais democráticas, transparentes e credíveis".
No comunicado divulgado na segunda-feira, os bispos afirmaram que "a liderança política deve assumir com responsabilidade a situação difícil: a comunidade internacional declarou abertamente sua convicção de que a ação do governo é inaceitável. A liderança dos partidos políticos tem sido, muitas vezes, deficiente e incoerente".
"Devem abrir-se a buscar um consenso com os diferentes setores da sociedade, pois uma condição essencial é reconhecer e conseguir uma unidade política que vá muito além das alianças eleitorais", continuaram.
Do mesmo modo, reiteraram o que expressaram em 12 de janeiro: "A Assembleia Nacional Constituinte é inconstitucional e ilegítima em sua origem e desempenho. Em vez de escrever uma nova Constituição, pretende tornar-se um suprapoder com funções executivas e judiciais".
Ao concluir, os bispos da CEV destacaram que "a situação e o momento que os venezuelanos enfrentam ante esta crise global, 'requer uma grande esperança junto com ações concretas que contribuam a fim de melhorar as condições de vida, dignificando as pessoas e fortalecendo as famílias e as comunidades às quais pertencemos'. Nós estamos dispostos a colaborar para que encontremos o rumo de uma Venezuela fraterna e de todos".
"Que o Espírito nos ilumine e nos fortaleça para servir o nosso povo", concluíram.
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