PEQUIM, Mar 27, 2018 / 19:00 pm
O Partido Comunista da China, que governa o país asiático, decidiu acabar com o Escritório de Assuntos Religiosos e confiar suas responsabilidades ao "temido" Departamento de Trabalho da Frente Unida (UFWD, na sigla em inglês).
A medida foi anunciada no último dia 22 de março, ao concluir um encontro anual em Pequim, e faz parte de uma grande reorganização da burocracia chinesa, segundo informa UCANews.com.
Além disso, essa decisão ocorreu aproximadamente dois meses depois que o regime proibiu as igrejas de organizarem acampamentos e atividades cristãs para os jovens.
A agência de notícias do estado, 'Xinhua News Agency', explica que "o CPC (Partido Comunista da China) exerce a liderança em todas as áreas de trabalho do país, por isso a reforma busca fortalecer a sua liderança em todas essas áreas e melhorar a estrutura da organização do Partido, de acordo com o plano" lançado em 22 de março.
"O plano estabelece que algumas instituições que anteriormente estavam sob a direção do Conselho de Estado foram dissolvidas ou integradas com uma nova agência para a liderança do Comitê Central do CPC, como o Escritório de Assuntos Religiosos, o Escritório de Relações Exteriores do Conselho de Estado, o Ministério de Supervisão e o Diretório Nacional para a prevenção da corrupção".
O UFWD, descrito alguma vez pelo presidente Xi Jinping como uma "arma mágica", atualmente tem um maior controle sobre as organizações do Estado. Com esta decisão, terá controle sobre as cinco religiões oficiais do país, incluindo também a supervisão da Associação Católica Patriótica China e a Conferência Episcopal da China.
A UCANews assinala que o UFWD "exerce controle sobre as nomeações religiosas, a seleção do clero e a interpretação da doutrina religiosa".
Segundo Feng Yue, especialista em ciências políticas da Academia Chinesa de Ciências Sociais, "o coração desta reforma é reforçar e fortalecer a liderança do partido e ajustar o sistema político das mãos do Partido-Estado na China".
A decisão do Partido Comunista se dá quando as conversas entre a China e o Vaticano estão avançadas para estabelecer um acordo sobre a nomeação de bispos católicos no país.
A responsável dos projetos da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Hong Kong, Or Yan Yan, disse à UCANews que a medida do Partido Comunista é como "um grande retrocesso no trabalho religioso".
"Agora, eles já não têm mais medo de retroceder e mostrar diretamente ao mundo que são o 'Partido que administra a religião'", acrescentou.
As relações diplomáticas entre a China e o Vaticano se romperam em 1951, dois anos depois da chegada ao poder dos comunistas que expulsaram os clérigos estrangeiros.
Entretanto, desde a década de 1980, as nomeações foram feitas em conjunto, embora o governo não tenha deixado de nomear bispos sem a aprovação do Vaticano.
O resultado foi uma relação cada vez mais tensa entre a Associação Patriótica Comunista Chinesa (Igreja "oficial" e fiel ao governo) e a chamada Igreja "clandestina", que inclui os bispos legítimos e sacerdotes que permanecem fiéis ao Papa.
Os últimos são permanentemente assediados pelas autoridades comunistas, inclusive chegaram a ser presos. Além disso, o governo também destruiu várias igrejas.
Entretanto, como parte do acordo que seria "iminente" segundo algumas fontes, espera-se que o Vaticano reconheça oficialmente sete bispos que não estão em comunhão com Roma, incluindo dois ou três bispos cujas excomunhões foram explicitamente declaradas pela Santa Sé.
De acordo com algumas fontes, o acordo seria semelhante ao do Vaticano com o Vietnã, no qual a Santa Sé propõe três nomes para que o governo escolha um deles.
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