Vaticano, Jun 22, 2018 / 10:00 am
No voo que o levou a Roma, depois de realizar uma visita a Genebra (Suíça), por ocasião dos 70 anos do Conselho Ecumênico das Igrejas, o Papa Francisco respondeu a uma pergunta sobre a proposta dos bispos da Alemanha para dar Comunhão aos protestantes casados com católicos.
A pergunta foi feita alguns dias depois que vários bispos alemães, entre eles os cardeais Walter Kasper e Reinhard Marx, rechaçaram a carta do Vaticano que adverte sobre os graves problemas no documento do Episcopado sobre este tema.
O vaticanista italiano Sandro Magister foi quem divulgou a carta em 25 de maio, escrita pelo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Arcebispo Luis Ladaria, que conta com o "explícito consenso" do Papa Francisco.
A carta adverte que há "problemas de grande relevância" no documento "Caminhar com Cristo – nas pegadas da unidade. Matrimônios mistos e participação comum na Eucaristia, subsídio pastoral da Conferência Episcopal alemã", e por isso ainda "não está maduro para ser publicado".
A ideia do subsídio surgiu na assembleia plenária do Episcopado, realizada em fevereiro, ao qual se opõem sete prelados liderados pelo Arcebispo de Colônia, Cardeal Rainer Maria Woelki.
A reação mais forte à carta de Dom Ladaria foi a do Cardeal Walter Kasper, Presidente Emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que disse que estava "furioso" sobre o fato de que a carta do Vaticano vazasse antes de chegar ao seu destinatário.
No voo de volta a Roma na quinta-feira, 21 de junho, um jornalista perguntou ao Papa Francisco se será necessário uma intervenção por parte do Vaticano para esclarecer este tema, ou se os bispos alemães deverão chegar a um acordo.
A seguir, a resposta completa do Pontífice:
Isto não é uma novidade, porque no Código de Direito Canônico está previsto aquilo que os bispos alemães falavam: a comunhão em casos especiais. E eles olhavam o problema dos matrimônios mistos, se (a comunhão ao cônjuge não católico) era possível ou não.
O Código diz que o bispo da Igreja particular, essa palavra importante, particular, quer dizer de uma diocese, deve conduzir este assunto com as próprias mãos. Isto está no Código.
Os bispos alemães, por terem visto que isto não era claro e que alguns sacerdotes faziam coisas em desacordo com o bispo, quiseram estudar este tema e fizeram este estudo que, eu não quero exagerar, mas foi um estudo de mais de um ano, bem feito, bastante bem feito. E o estudo era restritivo.
Aquilo que os bispos queriam era esclarecer o que está no Código, e também eu que li o estudo o digo, mas este é um documento restritivo. Nunca se tratou de abrir a todos. Não... Foi algo bem pensado, feito com espírito eclesiástico. E quiseram fazê-lo para a Igreja local, não a particular, não o quiseram. E a coisa termina na Conferência Alemã. Aí há um problema porque o Código não prevê isso. Prevê que o bispo da diocese decida, mas não que a conferência decida, porque uma coisa aprovada em uma conferência episcopal, depois se converte em universal. E esta foi a dificuldade na discussão, nem tanto o conteúdo, mas este aspecto específico, e assim enviaram o documento. Depois houve dois ou três encontros de diálogo, de esclarecimento e o Arcebispo Ladaria enviou essa carta com minha permissão. Não o fez por sua conta.
Eu disse: sim, é melhor dar um passo adiante e dizer que o documento ainda não está maduro, isso era o que dizia a carta, e que devia estudar mais a questão. Depois houve outra reunião e ao final estudarão mais o tema. Acredito que isto resultará em um documento orientador para que cada bispo diocesano possa administrar o que o Direito Canônico permite. Não foi nenhum freio. Tratou-se de reger a coisa para que andasse por bom caminho.
Quando visitei a igreja luterana de Roma, foi feita uma pergunta deste tipo e respondi de acordo com o espírito do Código de Direito Canônico. E é o espírito que procuram agora.
Talvez não foi uma informação precisa, em um momento adequado e houve um pouco de confusão, mas este é o tema: a Igreja particular, o Código o permite; a Igreja local, não pode ser a universal. A Conferência pode estudar e dar as orientações para ajudar os bispos a atuar nos casos particulares. Obrigado.
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