DENVER, Aug 9, 2018 / 19:00 pm
Em meio ao debate público sobre o que pode ser feito para proteger as crianças do abuso sexual, os estudos mostram que uma estrutura familiar instável pode ser um fator de risco.
Ao analisar as tendências gerais sobre abuso infantil, Dr. William Bradford Wilcox, diretor do 'National Marriage Project' da Universidade de Virginia (Estados Unidos), disse à CNA – agência em inglês do Grupo ACI – que os estudos mostram que as crianças que vivem em lares instáveis com pais solteiros são mais propensas a serem abusadas, especialmente por alguém próximo delas.
"O drama e o caos familiar são um terreno fértil para o abuso. As crianças que estão expostas à instabilidade são mais propensas a serem expostas a adultos com os quais não têm grau de parentesco, especialmente homens adultos sem relação de parentesco", disse Wilcox.
As crianças em situações familiares caóticas também têm mais probabilidades de ficar angustiadas emocionalmente, uma vulnerabilidade que os abusadores adultos provavelmente se aproveitarão, explica Wilcox.
Um estudo federal publicado em 2011 mostrou que as crianças que vivem com sua mãe biológica e o noivo dela – sem relação de parentesco com a criança – tinham onze vezes mais probabilidades de serem abusadas sexual, física ou emocionalmente e seis vezes mais probabilidades de ser crianças desacompanhadas em comparação com aquelas que vivem com os seus pais biológicos casados.
"Em outras palavras, um dos lugares mais perigosos que uma criança pode viver nos Estados Unidos é um lar que inclui um homem sem grau de parentesco, especialmente quando esse homem fica sozinho cuidando de uma criança", escreveu Wilcox quando o estudo foi publicado em 2011.
O estudo também mostrou que, inclusive se as crianças vivessem com seus pais biológicos, mas que não estivessem casados, tinham quatro vezes mais probabilidades de serem abusadas e eram três vezes mais propensas a serem desatendidas.
Esta informação foi divulgada no Quarto Relatório de Incidência Nacional de Abuso e Negligência de Menores (NIS-4) ao Congresso, que examinou casos de abuso infantil entre 2004 e 2009.
Os dados comprovaram informações de estudos anteriores e vários demostraram que as crianças que vivem com adultos solteiros são mais propensas a serem abusadas e abandonadas, incluindo um estudo de 2002 que descobriu que mais de 15% das crianças que vivem em lares de pessoas que convivem juntas tiveram problemas emocionais graves, como depressão, comparado com apenas 3,5% que viviam com seus pais biológicos casados.
Outro estudo de 2005 descobriu que as crianças que viviam com os namorados da mãe tinham 45 vezes mais probabilidades de morrer do que as crianças que viviam com os pais biológicos casados.
"Os dados mostram que o casamento muitas vezes é uma força segura e estabilizadora na vida das crianças e pode ajudar a isolá-las de outros problemas", disse Wilcox.
"Sabemos que as crianças têm maior probabilidade de prosperar em uma rotina estável com pessoas estáveis que cuidam delas e também sabemos que as crianças que vivem muita instabilidade familiar são mais propensas a serem vítimas de adultos abusadores", acrescentou.
Desde o estudo de 2011, os casos de coabitação aumentaram, enquanto os casos de abuso infantil em escala nacional na verdade diminuíram, disse Wilcox.
Entretanto, acrescentou que o risco relativo de abuso infantil nas famílias onde os pais não estão casados "permanece alto".
De acordo com um relatório de 2018 do Centro de Investigação de Crimes contra as Crianças da Universidade de New Hampshire, os casos de abuso físico e sexual de crianças diminuíram desde os anos 1990.
Atualmente, são informados cerca de 30 casos de abuso físico em cada dez mil, enquanto os relatados cerca de 25 ou menos casos de abuso sexual em cada dez mil.
Esta é uma informação otimista, disse Wilcox, porque mostra que houve avanço em relação ao conhecimento, à informação e à prevenção dos casos de abuso sexual.
"Diria que, embora as tendências gerais estejam indo na direção certa, ainda é verdade que as crianças que estão expostas à mais instabilidade e ao caos familiar são mais propensas a serem submetidas a abusos", concluiu o especialista.
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