22 de novembro de 2024 Doar
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Quem cometeu abusos nunca deveria ter sido ordenado sacerdote, assegura o Arcebispo

Imagem referencial | Flickr da Igreja em Valladolid (CC BY-SA 2.0)

"Os abusos de todos os tipos que ocorreram dentro da Igreja são a negação da vida que Jesus nos deu", afirmou o Arcebispo de Concepción (Chile), Dom Fernando Chomali, em sua recente carta pastoral intitulada "Viver o Evangelho em tempos de crise".

No documento publicado em 7 de setembro e dirigido aos fiéis da Arquidiocese, Dom Chomali assegurou que "não é o momento para ser católico. É o momento para ser um grande católico. Para conseguir isso, Deus nos agradecerá, porque para Ele nada é impossível".

O Prelado assegurou que depois da visita do Papa Francisco ao Chile em janeiro deste ano e do relatório elaborado pelos seus enviados especiais "há um antes e um depois na maneira de tratar as denúncias de abusos dentro da Igreja e na forma de proceder".

Dom Chomali reconheceu que "o horror dos abusos sexuais, de poder e de consciência, poderiam ter sido evitados" e afirmou que o que ocorreu "questiona em sua raiz o processo de escolha dos candidatos aos seminários, a formação que receberam dentro deles e o acompanhamento durante sua vida sacerdotal".

"Quem cometeu abusos nunca deveria ter entrado no seminário, nem ter sido ordenado sacerdote", lamentou.

Do mesmo modo, criticou "os protocolos, no momento de identificar situações que provocavam suspeitas fundamentadas de ambientes potencialmente abusivos, assim como protocolos para receber denúncias e agir consequentemente".

O Prelado assinalou que no encontro dos bispos do Chile com o Papa, o Pontífice lhes disse claramente que "fizemos mal as coisas".

Nesse sentido, afirmou que "todos os católicos, devemos questionar-nos sobre o que fizemos, o que estamos fazendo e refletir sobre o que vamos fazer. E também devemos compreender que o modo de ser Igreja será diferente do modo presente ou não surgirá nada novo que nos encante novamente, menos ainda, encantará os outros".

Para isso, é necessário "reconhecer maneiras de agir enraizadas em uma cultura que pensa na Igreja como uma instituição monumental onde o Papa, os bispos e os sacerdotes mandam e os outros obedecem, e não como uma comunidade onde se vive a fraternidade que nos promove a fé em Deus manifestada em Jesus Cristo e que se mostra como nova vida no Espírito".

"É urgente reconhecer a autoridade como um serviço e, assim como Jesus, lavar os pés uns dos outros", expressou Dom Chomali.

Para o Prelado, a causa principal da crise é que "a evangelização teve pouca profundidade, por isso deixou ausente o essencial: o amor a Deus e ao próximo. É que a crise da Igreja é uma crise de fé que levou a uma vida espiritual superficial".

"A maioria dos abusos ocorrem onde se estabeleceram relações assimétricas de poder, como no caso do clericalismo, que deformou a Igreja e casou muito dano", acrescentou.

Em sua carta, Dom Chomalí publicou uma série de medidas concretas para impulsionar uma maneira melhor de proceder nos temas de abusos na Arquidiocese de Concepción, entre elas se destacam a criação de uma Política de recepção e acolhida de denúncias, e uma Comissão de Apoio nos casos de Abusos.

Além disso, "com o mesmo zelo com o qual colaboramos para esclarecer a verdade e seja feita justiça, no caso das denúncias contra bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e leigos, devemos colaborar para restaurar a honra da pessoa, no caso em que seja declarada a sua inocência".

Dom Chomali também pediu perdão pelos seus próprios erros e expressou que "quando a verdade aparecer e seja feita a justiça com aqueles que foram abusados, ​​e repitam novamente com claridade que não há espaço para abusadores na vida consagrada, poderemos olhar para o futuro com esperança".

Em seguida, o Arcebispo sublinhou que "hoje é necessário recordar as palavras de São Paulo, quando nos diz que levamos este tesouro - Jesus Cristo - em vasos de barro - nós -, e as palavras de Jesus, que nos pede para servir e não ser servidos. Hoje é mais urgente do que nunca prestar mais atenção no tesouro, não tanto no vaso de barro".

"Devemos transmitir com força que a Igreja é o lugar para viver a fé em Jesus Cristo em um contexto de relações humanas saudáveis, tranquilas e com maturidade, frente a Deus e ao próximo; uma ocasião privilegiada para gerar um tecido de vida no estilo de Jesus que represente o melhor do ser humano e que, pela sua própria dinâmica, se converta em uma fonte de transformação da sociedade aos seus valores. Devemos pedir ao Senhor a graça ser novamente sal e a luz do mundo", sublinhou o Prelado.

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