22 de dezembro de 2024 Doar
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Homilia do Papa na Missa de abertura do Sínodo dos Bispos sobre os jovens

Papa durante a Missa. | Daniel Ibáñez / ACI Prensa

O Papa Francisco abriu nesta quarta-feira, 3 de outubro, a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional, com uma Missa multitudinária na Praça de São Pedro, na qual incentivou os Padres Sinodais a se deixar guiar pelo Espírito Santo, para que os trabalhos sinodais deem abundantes frutos.

O Santo Padre pediu ao Espírito Santo "que nos dê a graça de ser memória operosa, viva e eficaz, que, de geração em geração, não se deixa sufocar e esmagar pelos profetas de calamidades e desgraças, nem pelos nossos limites, erros e pecados, mas é capaz de encontrar espaços para inflamar o coração e discernir os caminhos do Espírito".

A seguir, o texto completo da homilia do Papa Francisco:

«O Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, Esse é que vos ensinará tudo, e há de recordar-vos tudo o que vos disse» (Jo 14, 26).

Desta maneira tão simples, Jesus oferece aos seus discípulos a garantia de que acompanhará todo o trabalho missionário que lhes será confiado: o Espírito Santo será o primeiro a guardar e manter sempre viva e atual no coração dos discípulos a memória do Mestre. Ele faz com que a riqueza e beleza do Evangelho seja fonte de constante alegria e novidade.

No início deste momento de graça para toda a Igreja, em sintonia com a Palavra de Deus, peçamos insistentemente ao Paráclito que nos ajude a trazer à memória e a reavivar as palavras do Senhor que faziam arder o nosso coração (cf. Lc 24, 32). Ardor e paixão evangélica que geram o ardor e a paixão por Jesus. Memória que possa despertar e renovar em nós a capacidade de sonhar e esperar. Porque sabemos que os nossos jovens serão capazes de profecia e visão, na medida em que nós, adultos ou já idosos, formos capazes de sonhar e assim contagiar e partilhar os sonhos e as esperanças que trazemos no coração (cf. Jl 3, 1).

Que o Espírito nos dê a graça de ser Padres sinodais ungidos com o dom dos sonhos e da esperança, para podermos, por nossa vez, ungir os nossos jovens com o dom da profecia e da visão; que nos dê a graça de ser memória operosa, viva e eficaz, que, de geração em geração, não se deixa sufocar e esmagar pelos profetas de calamidades e desgraças, nem pelos nossos limites, erros e pecados, mas é capaz de encontrar espaços para inflamar o coração e discernir os caminhos do Espírito. É com esta disposição de dócil escuta da voz do Espírito que nos congregamos aqui de todas as partes do mundo. Hoje, pela primeira vez, estão conosco também dois irmãos Bispos da China continental, a quem damos as nossas calorosas boas-vindas. Graças à sua presença, é ainda mais visível a comunhão de todo o Episcopado com o Sucessor de Pedro.

Ungidos na esperança, começamos um novo encontro eclesial capaz de ampliar horizontes, dilatar o coração e transformar as estruturas que hoje nos paralisam, separam e afastam dos jovens, deixando-os expostos às intempéries e órfãos duma comunidade de fé que os apoie, dum horizonte de sentido e de vida (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 49).

A esperança interpela-nos, move-nos e destroça o conformismo ditado pelo «sempre se fez assim» e pede que nos ergamos para fixar olhos nos olhos o rosto dos jovens e ver as situações em que se encontram. A mesma esperança pede que trabalhemos por derrubar as situações de precariedade, exclusão e violência, a que está exposta a nossa juventude.

Fruto de muitas das decisões tomadas no passado, os jovens chamam-nos a cuidar, com maior empenho e juntamente com eles, do presente e a lutar contra aquilo que de algum modo impede a sua vida de crescer com dignidade. Pedem-nos e exigem-nos uma dedicação criativa, uma dinâmica inteligente, entusiasta e cheia de esperança, e que não os deixemos sozinhos nas mãos de tantos traficantes de morte que oprimem a sua vida e obscurecem a sua visão.

Esta capacidade de sonhar juntos, que hoje o Senhor nos dá de presente a nós como Igreja, exige – conforme nos dizia São Paulo, na primeira Leitura – que desenvolvamos entre nós uma atitude muito concreta: «Cada um não tenha em vista os próprios interesses, mas todos e cada um exatamente os interesses dos outros» (Flp 2, 4). E, ao mesmo tempo, aponta para mais alto pedindo que, humildemente, consideremos os outros superiores a nós mesmos (cf. 2, 3). Com este espírito, procuraremos colocar-nos à escuta uns dos outros para discernirmos, juntos, aquilo que o Senhor está a pedir à sua Igreja. Isto exige de nós que estejamos atentos e nos precavamos bem para não prevalecer a lógica da autopreservação e da autorreferência, que acaba por tornar importante o que é secundário, e secundário o que é importante. O amor ao Evangelho e ao povo que nos foi confiado pede-nos que alarguemos o olhar e não percamos de vista a missão a que nos chama a fim de apostar num bem maior que será de proveito para todos nós. Sem esta atitude, serão vãos todos os nossos esforços.

O dom da escuta sincera, orante e, o mais possível, livre de preconceitos e condições permitir-nos-á entrar em comunhão com as diferentes situações que vive o povo de Deus. Ouvir a Deus, para escutar com Ele o clamor do povo; ouvir o povo, para respirar com ele a vontade a que Deus nos chama (cf. Discurso na Vigília de Oração preparatória para o Sínodo sobre a família, 4 de outubro de 2014).

Esta atitude defende-nos da tentação de cair em posições moralistas ou elitistas, bem como da atração por ideologias abstratas que nunca correspondem à realidade do nosso povo (cf. J. M. Bergoglio, Meditações para religiosos, 45-46).

Irmãos, irmãs, coloquemos este tempo sob a proteção materna da Virgem Maria. Que Ela, mulher da escuta e da memória, nos acompanhe no reconhecimento dos vestígios do Espírito, a fim de que solicitamente (cf. Lc 1, 39), entre os sonhos e esperanças, acompanhemos e estimulemos os nossos jovens para que não cessem de profetizar.

Padres sinodais! Muitos de nós éramos jovens ou dávamos os primeiros passos na vida religiosa, quando terminou o Concílio Vaticano II. Aos jovens de então, foi dirigida a última mensagem dos Padres conciliares. O que ouvimos quando éramos jovens far-nos-á bem repassá-lo com o coração, lembrados das palavras do poeta: «O homem mantenha o que, em criança, prometeu» (F. Hölderlin).

Assim nos falaram os Padres conciliares: «A Igreja, durante quatro anos, tem estado a trabalhar para um rejuvenescimento do seu rosto, para melhor responder à intenção do seu fundador, o grande vivente, o Cristo eternamente jovem. E no termo desta importante "revisão de vida", volta-se para vós. É para vós, os jovens, especialmente para vós, que ela acaba de acender, pelo seu Concílio, uma luz: luz que iluminará o futuro, o vosso futuro. A Igreja deseja que esta sociedade que vós ides construir respeite a dignidade, a liberdade, o direito das pessoas: e estas pessoas, sois vós. (…) Tem confiança que (…) vós sabereis afirmar a vossa fé na vida e no que dá um sentido à vida: a certeza da existência de um Deus justo e bom.

É em nome deste Deus e de seu Filho Jesus que vos exortamos a alargar os vossos corações a todo o mundo, a escutar o apelo dos vossos irmãos e a pôr corajosamente ao seu serviço as vossas energias juvenis. Lutai contra todo o egoísmo. Recusai dar livre curso aos instintos da violência e do ódio, que geram as guerras e o seu cortejo de misérias. Sede generosos, puros, respeitadores, sinceros. E construí com entusiasmo um mundo melhor que o dos vossos antepassados» (Conc. Ecum. Vat. II, Mensagem aos jovens, 8 de dezembro de 1965).

Padres sinodais, a Igreja olha-vos com confiança e amor.

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