KIEV, Oct 18, 2018 / 10:10 am
O Patriarcado Ortodoxo Russo de Moscou rompeu laços com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, devido ao anúncio que este último fez para reconhecer uma Igreja Ortodoxa autônoma na Ucrânia.
A ruptura se originou da decisão de Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico de Constantinopla e o "primeiro entre iguais" na Igreja Ortodoxa em nível mundial, de emitir uma declaração em 11 de outubro na qual confirmar os planos para ter uma Igreja Ortodoxa Ucraniana autônoma; e restabelecer os laços com a cismática Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kiev.
O plano de Bartolomeu I de criar uma só igreja que governe a si mesma na Ucrânia e que esteja guiada por seu próprio patriarca está motivado pelo desejo de unificar os 30 milhões de ortodoxos que vivem nesse país.
A Igreja Ortodoxa Russa considera a iniciativa uma infração a sua jurisdição e autoridade.
O metropolita Hilarion, representante da Igreja Ortodoxa Russa para as relações exteriores, explicou que os líderes ortodoxos russos decidiram "romper a comunhão eucarística" em resposta a algumas ações "fora da lei e sem sustento canônico" do Patriarca de Constantinopla.
"A Igreja Ortodoxa Russa não reconhece essas decisões e não as cumprirá", disse Hilarion na Bielorrússia depois de uma reunião do sínodo da Igreja Ortodoxa Russa.
"A Igreja que reconhecer os cismáticos exclui a si mesma do marco canônico da ortodoxia", indicou. "Esperamos que o bom senso prevaleça e que o Patriarcado de Constantinopla mude suas relações e as adeque à realidade existente na Igreja", ressaltou.
Em resposta aos russos, o Arcebispo Yevstratiy, porta-voz da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kiev, disse que a decisão do sínodo russo foi um movimento para "o isolamento". "Cedo ou tarde isso será consertado e a Igreja Ortodoxa Russa voltará à comunhão", escreveu em sua conta de Facebook.
Yevstratiy explicou que os cristãos ortodoxos têm que escolher entre seguir os ortodoxos russos "em cisma" ou "permanecer na unidade com o Patriarca Ecumênico (Bartolomeu I de Constantinopla) através da Igreja Ucraniana local", segundo informou o serviço de imprensa da Radio Free Europe/Radio Liberty.
Entre os que apoiam a medida tomada pelo Patriarca de Constantinopla, estão o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, que quer ser reeleito nas eleições de março de 2019. Anteriormente, Poroshenko solicitou ao Patriarcado de Constantinopla que outorgasse a independência da Igreja Ortodoxa na Ucrânia, segundo informa Associated Press.
Embora o impulso para uma Igreja Ortodoxa autônoma na Ucrânia tenha surgido como um movimento sério na década de 1990, após o colapso da União Soviética, esta iniciativa tomou força depois que a Rússia anexou a Península da Crimeia, em 2014, e respaldou os separatistas do leste da Ucrânia, como resposta à derrubada do ex-presidente pró-russo da Ucrânia, Viktor Yanukovych.
A Igreja Ortodoxa Russa afirma que tem autoridade tradicional e canônica sobre a comunidade ortodoxa na Ucrânia e nega que tenha tomado alguma posição no conflito. Além disso, indica que trabalha para alcançar a paz no leste da Ucrânia.
Segundo informa Reuters, a Igreja Ortodoxa Russa também expressou sua preocupação pelas ações do Patriarca de Constantinopla que poderiam aumentar as divisões religiosas na Ucrânia e inspirar algumas facções a tomar propriedades da Igreja.
Kiev, a capital da Ucrânia, é o lugar do batismo do príncipe Vladimir o Grande, no ano 998, marco que permitiu a expansão do cristianismo em Kievan Rus', um estado cuja herança é disputada por Ucrânia, Rússia e Bielorrússia.
Os cristãos ortodoxos na Ucrânia estão divididos em três grupos. A Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Kiev se declarou independente de Moscou em 1992 e é considerada pela Igreja Ortodoxa Russa um grupo cismático, como a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana, refundada em 1990.
O terceiro grupo, a Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou, está sob a autoridade da Igreja Russa e foi oficialmente reconhecida como a Igreja Ortodoxa do país.
No mundo, os cristãos ortodoxos são cerca de 300 milhões. A Igreja Ortodoxa se separou da Igreja Católica em 1054.
O Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, é um conhecido amigo do Papa Francisco. Reuniram-se várias vezes e rezaram juntos no Santo Sepulcro, na Terra Santa.
Do mesmo modo, Bartolomeu I foi convidado por Francisco para acompanhar os diálogos de paz entre Israel e Palestina que aconteceram no Vaticano em 2014.
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