Vaticano, Oct 19, 2018 / 18:00 pm
No ano de 2004, em pleno debate da frustrada Constituição da União Europeia, São João Paulo II fez um chamado aos europeus para que não perdessem suas raízes cristãs.
Hoje essas palavras são proféticas e foi o que confirmou o Cardeal Berhaneyesus Demerew Souraphiel, padre sinodal, presidente da Conferência Episcopal da África Oriental e Arcebispo Metropolitano de Addis Abeba (Etiópia). Ele assegurou que a Europa tem uma atitude com os refugiados e migrantes afastada do cristianismo.
Embora tenha explicado que este rechaço aos migrantes não é um problema exclusivo da Europa, pois disse que os migrantes venezuelanos que fogem da grave crise de seu país encontraram rechaços nos países de seu entorno, assinalou que o caso europeu é especialmente emblemático pelo que a Europa significa para a cristandade.
O Cardeal recordou, durante um encontro com jornalistas no Vaticano, que os migrantes africanos se veem obrigados a sair de seus países pela guerra, o desemprego, as perseguições e a pobreza extrema. Por isso, mostrou sua decepção de que sociedades que se chamam cristãs se neguem a cumprir o mandato bíblico de acolher o estrangeiro.
O Cardeal Berhaneyesus afirmou que, no passado, quando os europeus se viram obrigados a emigrar, tiveram um tratamento melhor do que o que os migrantes estão recebendo agora. "No passado, os migrantes, os refugiados, eram recebidos bem, davam alimentação a eles e um lugar para descansar. Agora, ser migrante não é nada fácil".
Afirmou que a tradição bíblica obriga a receber bem o estrangeiro, "mas é muito triste ver como as fronteiras são fechadas para estas pessoas que simplesmente escapam da pobreza, dos conflitos. E nos perguntamos onde estão os valores cristãos desta Europa. Esta não é uma Europa cristã".
Por outro lado, quis desmontar o mito da suposta invasão africana da costa europeia. Nesse sentido, enfatizou que a maior parte das migrações, quase todas protagonizadas por jovens, ocorre dentro da África.
"80% da migração africana acontece dentro da África. Apenas 20% vai para a Europa", destacou. Além disso, indicou que a ausência de bons governos é a causa principal da emigração. "Há muita corrupção e, consequentemente, há guerras, levantamentos civis e revoluções", afirmou.
Também denunciou o tráfico de armas em países como Somália, Uganda, Sudão do Sul ou Congo que alimenta os conflitos existentes e que impede a busca de uma solução pacífica aos problemas da população.
"Há grandes negócios no tráfico de armas. Muitas crianças são recrutados como crianças soldados, tanto meninos como meninas, e os ensinam a usar armas modernas sofisticadas, como fuzis kalashnikov ou minas".
Além disso, denunciou o "colonialismo ideológico" ao qual alguns países ricos estão submetendo as nações africanas, pois, indicou, em muitos países deste continente os fundos de ajuda internacional são condicionadas a cumprir determinadas agendas ideológicas.
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