27 de novembro de 2024 Doar
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Cardeal Zen pede a católicos fiéis da China que voltem às catacumbas

Cardeal Joseph Zen ze-kiun. | Wikipédia (CC-BY-SA-3.0)

Em um dramático artigo editorial publicado no New York Times, o Cardeal Joseph Zen ze-kiun, Bispo Emérito de Hong Kong, pediu aos fiéis católicos da China para "voltar às catacumbas" depois do Acordo Provisório assinado entre o governo do país asiático e o Vaticano para a nomeação dos bispos.

"Aos bispos e sacerdotes clandestinos (fiéis) da China, apenas posso lhes dizer: por favor, não comecem uma revolução. Eles (as autoridades) tomam suas igrejas? Já não podem celebrar? Vá para casa e reze com suas famílias (...) Esperem um tempo melhor. Voltem às catacumbas. O comunismo não é eterno", disse o Purpurado chinês em um artigo publicado em 24 de outubro.

No texto intitulado "O Papa não entende a China", o Cardeal afirmou que o Acordo Provisório assinado pelo governo comunista e o Vaticano "é um passo importante na aniquilação da verdadeira Igreja na China".

O Purpurado, que já ensinou em diversos seminários chineses, assinalou que conhece a China, ao contrário do "Papa Francisco, um argentino, que parece não compreender os comunistas. Ele é muito pastoral e vem da América do Sul, onde historicamente os governos militares e os ricos se uniam para oprimir os pobres. E quem estava lá para defendê-los? Os comunistas, talvez inclusive alguns jesuítas, e o governo os chamaria de jesuítas comunistas".

"Francisco pode ter uma simpatia natural pelos comunistas porque, para ele, eles são perseguidos. Ele não os conhece como perseguidores quando estão no poder, como os comunistas da China".

O Bispo Emérito de Hong Kong recordou que "a Santa Sé e Beijing cortaram seus laços na década de 1950. Os católicos e outros crentes eram presos e enviados a campos de trabalho forçado. Voltei para a China em 1974, durante a Revolução Cultural, e a situação era terrível, pior do que podem imaginar. Era uma nação sob a escravidão e esquecemos facilmente destas coisas. Também esquecemos que nunca se pode ter um bom acordo com um regime totalitário".

"A China se abriu desde os anos 1980, mas até hoje tudo está sob o controle do Partido Comunista Chinês. A Igreja oficial da China é controlada pela associação patriótica e pela conferência dos bispos, e ambas são controladas pelo partido".

O Cardeal disse que entre 1985 e 2002, o Cardeal Josef Tomko, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, "compreendia o comunismo e foi sábio".

Em sua opinião, quando o Cardeal Tomko deixou seu cargo em 2002, as coisas mudaram e, embora fosse criada uma comissão especial para os temas da Igreja na China na qual o Cardeal Zen também participou, as coisas pioraram.

Em seguida, o Purpurado destacou que, com o Papa Bento XVI e sua carta aos católicos da China em 2007, a esperança voltou, mas algo grave ocorreu com a carta.

O texto tinha um erro de tradução para o chinês que parecia deliberado e se espalhou amplamente, embora o Vaticano tenha corrigido. Isso fez com que "alguns bispos entendessem que a carta histórica de Bento XVI era um encorajamento a unir-se à igreja estatal sancionada", mas na verdade era crítica ao regime.

Agora, continuou: "Francisco quer visitar a China. Todos os Papas gostariam de ter ido ao país, começando por João Paulo II, mas o que a visita a Francisco a Cuba em 2015 deixou para a Igreja? O que deixou ao povo cubano? Quase nada. Ele converteu os irmãos Castro?".

Devido às atuais restrições do governo chinês contra a Igreja, "os sacerdotes clandestinos no continente me disseram que estão desencorajando os fiéis a irem à Missa para evitar serem presos".

Sobre o acordo, o Cardeal questionou: "Qual é a vantagem de ter a última palavra quando a China poderá ter todas as anteriores? Na teoria, o Papa pode vetar a nomeação de qualquer bispo que não pareça digno, mas quantas vezes ele realmente poderá fazer isso?".

Em relação aos bispos chineses que participam do Sínodo, o Cardeal Zen explicou que ambos "são próximos ao governo chinês" e "a sua presença no encontro foi um insulto para os bons bispos da China".

Atualmente, a igreja oficial controlada pelo regime tem "70 bispos e a Igreja clandestina tem cerca de 30. As autoridades chinesas dizem: vocês reconhecem os nossos sete 'ilegítimos' e nós reconhecemos os seus 30. Pode parecer um bom acordo, mas, depois esses 30 ainda poderão exercer como bispos clandestinos? Com certeza não".

"Eles serão obrigados a se unir à conferência dos bispos. Serão obrigados a se unir aos outros nessa gaiola de passarinhos, e se tornarão uma minoria entre eles. O acordo do Vaticano, que buscava a unificação da Igreja na China, significa a aniquilação da verdadeira Igreja na China".

"Se eu fosse um cartunista, desenharia o Santo Padre de joelhos oferecendo as chaves do reino dos céus ao presidente Xi Jinping e escreveria: 'Por favor, reconhece-me como Papa'", escreveu o Cardeal.

Graças ao acordo, dois bispos chineses puderam participar do Sínodo dos Jovens que acontece no Vaticano até o dia 28 de outubro. Os prelados convidaram o Papa para visitar a China.

Entretanto, neste mês de outubro, as autoridades da China lançaram uma ofensiva contra as cruzes e outras estruturas da Igreja em três dioceses do país.

No voo de regresso de sua viagem à Lituânia, Letônia e Estônia no final de setembro, o Papa Francisco disse aos jornalistas: "Eu sou o responsável" pelo acordo.

Sobre os sete bispos que não estavam em comunhão com a Igreja até antes do acordo, como Dom Guo Jincai que participa do Sínodo, Francisco disse que "foram estudados caso por caso. Para cada bispo fizeram um expediente e estes expedientes chegaram à minha escrivaninha. E eu fui o responsável por assinar cada caso dos bispos".

No dia 26 de setembro, o Pontífice dirigiu uma mensagem aos católicos da China e à Igreja universal na qual solicitou "gestos concretos e visíveis" aos bispos aos quais levantou a excomunhão.

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