Lisboa, Nov 6, 2018 / 10:10 am
Portugal, assim como a comunidade internacional, deveria manifestar a sua disponibilidade em acolher Asia Bibi e sua família, após esta mãe cristã ser impedida de deixar o Paquistão, mesmo tendo sua sentença anulada pela Suprema Corte do país; foi o que defendeu o ex-deputado Ribeiro e Castro.
O também advogado é uma das vozes mais ativas em Portugal na defesa de Asia Bibi, a qual foi condenada à pena de morte por suposta blasfêmia, mas que, no último dia 31 de outubro, teve sua sentença anulada pela Suprema Corte do Paquistão. O caso, porém, se viu em uma reviravolta, após um acordo do governo paquistanês com grupo extremista muçulmano pelo qual a mulher não poderá deixar o país até que Tribunal revise o veredito.
"Creio que é importante que a comunidade internacional, a começar por Portugal, se abra a acolher Asia Bibi e a sua família. Afinal, se ela puder sair do Paquistão, vai ter de viver em algum lado e Portugal poderia ser um desses países", assinalou Ribeiro e Castro, em declarações à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN).
Além disso, o ex-deputado considera que a comunidade internacional deve dar outros sinais de apoio inequívoco a Asia Bibi, nomeadamente através da atribuição do Prêmio Sakharov ou do Nobel da Paz.
"Seria também importante que Asia Bibi fosse apresentada como candidatada a receber o Prêmio Sakharov, no quadro do Parlamento Europeu, no próximo ano, e o Prêmio Nobel da Paz. Asia Bibi é uma mulher com um percurso de vida exemplar de serenidade perante a provação e de capacidade de sofrimento perante uma sentença muito injusta e muito violenta", expressou.
Para Castro, a decisão do último dia 31 de outubro da Suprema Corte, que anulou a sentença de morte de Asia Bibi, "é uma boa notícia". Entretanto, assinala o fato de "sua segurança estar em causa", pois os "setores extremistas continuam a se movimentar de forma muito aguerrida".
Conforme ressalta a Fundação ACN, Bibi continua, de fato, em uma situação complexa, pois permanece detida e ainda não se sabe quando poderá ser libertada.
Após a decisão da Suprema Corte que anulou a condenação que pesava sobre esta mãe católica, extremistas logo reagiram, liderados pelo partido Tehreek-e-Labaik.
Milhares de manifestantes bloquearam as principais estradas das maiores cidades do país durante três dias e conseguiram paralisar algumas das principais cidades do Paquistão. Esses grupos apelavam ao assassinato dos juízes que absolveram a cristã, obrigando à mobilização de importantes efetivos da polícia e do exército.
A desmobilização dos manifestantes se deu após negociações entre o governo e dirigentes do partido Tehreek-e-Labaik, que terminaram com um acordo que proíbe Asia Bibi de deixar o país.
Outra exigência que o governo também aceitou foi a revisão da decisão da Suprema Corte. Assim, tal como anunciou no último sábado o ministro paquistanês dos Assuntos Religiosos, Noorul Haq Qadri, "Bibi não poderá deixar o Paquistão até que o Supremo Tribunal faça uma revisão final" do veredito.
Diante deste cenário, o advogado de Asia Bibi, Saiful Mulook, se viu obrigado a sair do Paquistão, "para salvar" sua vida e por temer também pela segurança da sua família.
Mulook declarou à agência France Presse que, "no cenário atual, eu não posso viver no Paquistão". "Preciso continuar vivo para prosseguir com a batalha legal por Asia Bibi. Eu esperava esta reação dos extremistas, mas o que é mais doloroso é a resposta do governo. Ele não consegue sequer impor uma sentença da mais alta Corte do país", lamentou.
Tal situação levou também o marido de Asia Bibi, Ashiq Masih,a pedir, no último fim de semana, a intervenção direta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a concessão de um visto que permita a saída em segurança da sua mulher.
Em mensagem gravada pela Associação Cristã Paquistanesa Britânica, Masih alega que tanto Asia Bibi como os restantes membros da sua família correm risco de vida se continuarem no Paquistão. Este pedido também é extensivo ao Canadá e ao Reino Unido.
Por sua vez, no domingo, a Comissão Paquistanesa de Direitos Humanos se declarou "consternada" pela "incapacidade do governo em proteger o Estado e o carácter sagrado da lei", após a "histórica" sentença do Supremo Tribunal de Justiça.
O caso de Asia Bibi
Em junho de 2009, Asia Bibi trabalhava recolhendo frutas da cidade de Sheikhupura, perto da capital Lahore. Quando se aproximou de um poço para beber água, um grupo de muçulmanas a acusou de contaminar a água por ser cristã.
Bibi respondeu aos insultos contra sua fé dizendo: "Eu acredito na minha religião e em Jesus Cristo que morreu na Cruz pelos pecados da humanidade. O que fez seu profeta Maomé para salvar a humanidade?".
Depois de ser acusada de blasfemar contra o Islã, Bibi permaneceu presa desde 2009 e foi condenada à morte em 2010.
Iniciaram uma campanha internacional para a sua libertação. No último dia 31 de outubro, a Suprema Corte anulou condenação que pesava sobre esta mãe católica.
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