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Discurso do Papa Francisco na cerimônia de acolhida e abertura da JMJ Panamá 2019

Papa Francisco na cerimônia de acolhida e abertura da JMJ. | ACI Prensa

O Papa Francisco presidiu a cerimônia de acolhida e abertura da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Panamá 2019.

Diante de milhares de jovens presentes no Campo Santa Maria la Antigua, localizado na região conhecida como Cinta Costera, o Santo Padre pronunciou o seguinte discurso:

Queridos jovens, boa tarde!

Que bom é encontrar-nos de novo, e fazê-lo nesta terra que nos acolhe com tantas cores e tanto calor! Reunidos no Panamá, a Jornada Mundial da Juventude é mais uma vez uma festa de alegria e esperança para toda a Igreja e, para o mundo, um grande testemunho de fé.

Lembro-me que, em Cracóvia, alguns perguntaram-me se estaria presente no Panamá, tendo-lhes respondido: «Eu, não sei; mas Pedro estará lá certamente. Pedro estará...» Alegra-me poder-vos dizer hoje: Pedro está convosco, para celebrar e renovar a fé e a esperança. Pedro e a Igreja caminham convosco e queremos dizer-vos que não tenhais medo, que prossigais com esta energia renovadora e esta inquietação constante que nos ajuda e impele a ser mais alegres e disponíveis, mais «testemunhas do Evangelho». Prossegui, não para criar uma Igreja paralela, um pouco mais «jovial» e «atrevida» numa modalidade para jovens, com alguns elementos decorativos, como se isso pudesse deixar-vos contentes. Pensar assim seria faltar ao respeito devido a vós e a tudo aquilo que o Espírito, por vosso intermédio, nos tem vindo a dizer.

Ao contrário, queremos redescobrir e despertar, juntamente convosco, a novidade incessante e a juventude da Igreja, abrindo-nos a um novo Pentecostes (cf. Sínodo dedicado aos jovens, Documento final, 27/X/2018, 60). Isto só é possível, se, como há pouco vivemos no Sínodo, soubermos caminhar escutando-nos e escutar completando-nos uns aos outros, se soubermos testemunhar anunciando o Senhor no serviço aos nossos irmãos; naturalmente, um serviço concreto. Não é um serviço figurativo.

Penso em vocês que começaram a caminhar antes da Jornada, jovens da juventude indígena. Foram os primeiros na América e os primeiros a caminhar para este encontro. Um grande aplauso para eles. E também os jovens da juventude descendente de africanos que também fizeram seu encontro.

Sei que, para chegar aqui, não foi nada fácil. Conheço os esforços, os sacrifícios que fizestes para poderdes participar nesta Jornada. Muitos dias de trabalho e dedicação, encontros de reflexão e oração, cuja recompensa é, em grande medida, o próprio caminho. O discípulo não é apenas aquele que chega a um lugar, mas quem começa com decisão, quem não tem medo de arriscar e pôr-se a caminho.

Esta é a sua alegria maior: estar a caminho. Vós não tendes medo de arriscar e caminhar. Se hoje podemos estar em festa, é porque esta festa já começou há muito tempo em cada comunidade.

Vimos na apresentação as bandeiras, que viemos de culturas e povos distintos,falamos línguas diferentes, vestimos roupas diversas. Cada um dos nossos povos viveu histórias e circunstâncias distintas. Quantas coisas podem diferenciar-nos! Mas nada disso impediu que nos pudéssemos encontrar e sentir felizes por estarmos juntos. Isto é possível, porque sabemos que há algo que nos une, há Alguém que nos faz irmãos. Vós, queridos amigos, fizestes muitos sacrifícios para vos poderdes encontrar, tornando-vos assim verdadeiros mestres e artesãos da cultura do encontro. Vocês se transformam em mestres e artesãos da cultura do encontro, não é "oi, como está, tchau", mas que nos faz caminhar juntos.

Com os vossos gestos e atitudes, com as vossas perspectivas, desejos e sobretudo a vossa sensibilidade, desmentis e refutais certos discursos que se concentram e empenham em semear divisão, em excluir e expulsar quantos «não sejam como nós». Como em vários países da América, dizemos que não são GCU: gente como um. Todo somos gente como um, todos com as nossas diferenças.

 Assim é, porque tendes um olfato capaz de intuir que «o amor verdadeiro não anula as diferenças legítimas, mas harmoniza-as numa unidade superior». Sabem quem disse isso? O Papa Bento XVI, que está nos vendo e nós mandamos uma saudação a ele. Uma saudação, todos, com a mão ao Papa Bento XVI.

Entretanto sabemos que o pai da mentira prefere o contrário: um povo dividido e litigioso, em vez de um povo que aprenda a trabalhar em conjunto. Esse é um critério para distinguir as pessoas construtoras de pontes ou construtoras de muros, que semeiam medo, buscam dividir as pessoas. O que vocês querem ser? Contrutores de pontes!

Vós ensinais-nos que encontrar-se não significa mimetizar-se, pensar todos a mesma coisa, viver todos de forma igual fazendo e repetindo as mesmas coisas, isso é coisa de papagaio. Encontrar-se é animar-se a outra coisa, é um chamado a atrever-se a manter vivo um sonho em comum.

Temos muitas diferenças, falamos idiomas diferentes, nos vestimos diferentes, mas, por favor, vamos fazer tudo para ter um sonho em comum. Sim, um sonho grande e capaz de envolver a todos. O sonho, pelo qual Jesus deu a vida na cruz e o Espírito Santo, no dia de Pentecostes, foi derramado e gravado a fogo no coração de cada homem e mulher, no teu e no meu, com a esperança de aí encontrar espaço para crescer e desenvolver-Se.

Um sonho chamado Jesus, semeado pelo Pai com a confiança que crescerá e viverá em todo o coração. Um sonho que corre nas nossas veias, faz exultar e dançar de alegria o coração sempre que escutamos o mandamento que Jesus nos deu: «Que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo13, 34-35).

Como se chama o nosso sonho? Jesus!

Um santo destas terras gostava de dizer: «O cristianismo não é um conjunto de verdades para se acreditar, nem de leis para se observar nem de proibições. Visto assim, seria muito repugnante. O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto, que reivindica e pede o meu amor. O cristianismo é Cristo» (Santo Óscar Romero, Homilia, 6/XI/1977). Vamos dizer juntos? O cristianismo é Cristo. É continuar o sonho pelo qual Ele deu a vida: amar com o mesmo amor com que Ele nos amou. Não nos amou pela metade., não nos amou um pouquinho, Ele nos amou totalmente. Ele nos encheu de amor, deu a sua vida.

Perguntemo-nos: O que é que nos mantém unidos? Por que é que estamos unidos? O que nos impele a encontrar-nos? A certeza de saber que fomos amados com um amor cativante que não queremos nem podemos calar e que nos desafia a responder da mesma maneira: com amor. O que nos impele é o amor de Cristo (cf. 2 Cor5, 14).

Um amor que não se impõe nem esmaga, um amor que não marginaliza nem obriga a estar calado, um amor que não humilha nem subjuga. É o amor do Senhor: amor diário, discreto e respeitador, amor feito de liberdade e para a liberdade, amor que cura e eleva. É o amor do Senhor, que se entende mais de levantamentos que de quedas, de reconciliação que de proibições, de dar nova oportunidade que de condenar, de futuro que de passado. É o amor silencioso da mão estendida no serviço e na doação. É o amor sem se vangloriar, que não gosta de se vangloriar, o amor humilde que se dá pelos outros, sempre com a mão estendida. Este é o amor que nos une.

Pergunto: Acreditas tu neste amor? Pergunto outra coisa: Acreditas que este amor vale a pena?

Jesus, uma vez, a alguém que lhefez uma pergunta, respondeu e terminou dizendo 'se acredita, vai e faça o mesmo'. Em nome de Jesus, eu lhes digo, façam o mesmo. Não tenham medo desse amor concreto, que tem ternura, que é serviço, que consome a vida.

Foi a mesma pergunta e chamada que recebeu Maria. O anjo perguntou-Lhe se queria trazer este sonho no seu ventre e fazê-lo vida, fazê-lo carne.

Maria tinha a idade de tantos de vocês e Maria respondeu: «Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Lc1, 38). Fechemos os olhos e pensemos em Maria. Não era boba, sabia o que sentia no seu coração, sabia o que era o amor e respondeu «Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra». Nesse momento de silêncio, que Jesus diga a cada um de vocês: Anima-se? Queres? Pensa em Maria e responda: quero servir ao Senhor, que se faça em mim segundo tua palavra.

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Maria encheu-Se de coragem e disse «sim». Encheu-Se de coragem para dar vida ao sonho de Deus. O mesmo quer o anjo pedir-vos, a vós e a mim: Queres que este sonho se faça vida? Queres encarná-lo com as tuas mãos, os teus pés, o teu olhar, o teu coração? Queres que seja o amor do Pai a abrir-te novos horizontes e levar-te por sendas nunca imaginadas nem pensadas, sonhadas ou esperadas, que alegrem e façam cantar e dançar o coração?

Saberemos nós responder ao anjo, como Maria, «eis-nos aqui, somos os servos do Senhor, faça-se em nós...»? Não respondam aqui. Cada um responda em seu coração. São perguntas que se respondem somente no silêncio.

Queridos jovens, esta Jornada não se revelará fonte de esperança por um documento final, uma mensagem consensual ou um programa a aplicar. Este encontro irradia esperança, graças aos vossos rostos e à oração. Essa é a esperança. Com o rosto com que vão voltar para casa, com o coração mudado que voltaram para casa, com a oração que aprenderam a fazer, com esse coração mudado.

Cada um regressará a casa com aquela força nova que se gera sempre que nos encontramos com os outros e com o Senhor, cheios do Espírito Santo para lembrar e manter vivo aquele sonho que nos faz irmãos e que somos convidados a não deixar congelar no coração do mundo: onde quer que nos encontremos, a fazer seja o que for, sempre poderemos olhar para o alto e dizer: «Senhor, ensinai-me a amar como Vós nos amastes». Quereis repeti-lo comigo? «Senhor, ensinai-me a amar como Vós nos amastes». Mais forte: «Senhor, ensinai-me a amar como Vós nos amastes».

E como queremos ser bons e educados, não podemos terminar este primeiro encontro sem agradecer. Obrigado a todos aqueles que prepararam, com grande entusiasmo, esta Jornada Mundial da Juventude. Obrigado por terem tido a coragem de construir e hospedar, por terem dito «sim» ao sonho de Deus que é ver os seus filhos reunidos. Obrigado ao Arcebispo D. Ulloa e todos os seus colaboradores por terem ajudado a fazer com que hoje o Panamá não seja apenas um canal que une mares, mas também canal onde o sonho de Deus continua a encontrar pequenos canais para crescer e multiplicar-se irradiando-se por todos os cantos da terra.

Amigos, que Jesus vos abençoe. Desejo de todo o coração. Que Santa Maria la Antigua sempre vos acompanhe, para podermos dizer, sem medo, como Ela: «Eis-me aqui. Faça-se em mim».

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