22 de dezembro de 2024 Doar
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Cardeal Urosa: Para evitar derramamento de sangue, Maduro deve deixar o governo

Cardeal Jorge Urosa. | Eduardo Berdejo / ACI Prensa

Cardeal Jorge Urosa Savino, Arcebispo Emérito de Caracas, disse que "para evitar derramamento de sangue, para acabar com o êxodo doloroso de milhões de venezuelanos e para acabar com a fome e com a morte por causa do mau atendimento da saúde pública", Nicolás Maduro e seu governo "devem abandonar o poder".

Em entrevista concedida ao Grupo ACI, o Cardeal Urosa afirmou que o regime de Maduro "afundou a economia e, para que haja mudança, deve haver um novo governo".

O Cardeal disse também que atualmente "a situação política ainda é muito ruim. Há três meses vem aumentando o número de presos políticos, e agora também desde que o presidente da Assembleia Nacional tomou posse como presidente Interino. Também aumentaram os presos militares e há rumores de que um oficial de alta patente tenha sido torturado".

Em 23 de janeiro, Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, órgão legislativo não reconhecido por Maduro e que foi substituída por ele pela Assembleia Constituinte, foi declarado presidente interino.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, reconheceu no dia 24 de janeiro Guaidó como presidente interino da Venezuela, enquanto países como a Rússia, Cuba e México expressaram seu apoio ao regime Maduro, que na segunda-feira escreveu uma carta ao Papa Francisco pedindo-lhe sua mediação.

O Parlamento Europeu e outros países latino-americanos, como Peru, Colômbia, Equador, Brasil e Argentina, também expressaram seu apoio a Guaidó. Na segunda-feira, 4 de fevereiro, o presidente do governo espanhol, o socialista Juan Sánchez, também reconheceu Guaidó como presidente interino da Venezuela.

O Papa Francisco expressou em várias ocasiões seu apoio ao povo da Venezuela. No Panamá, onde participou da Jornada Mundial da Juventude, exortou a busca por uma solução justa e pacífica; e a bordo do avião que o levou do país centro-americano a Roma, disse que "o que mais me assombra" é o "derramamento de sangue", por isso reiterou seu pedido.

A repressão contra as manifestações na Venezuela deixou 43 mortos e cerca de 850 presos, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Depois de recordar o caso de Leopoldo López, líder da oposição venezuelana, que está cumprindo uma sentença em prisão domiciliar desde 2014, o Cardeal Urosa disse ao Grupo ACI que "a inflação está nas nuvens porque a economia está no chão. Estima-se uma inflação de mais de um milhão por cento este ano".

"O produto interno bruto diminuiu, não há produção, somente de petróleo e está nos níveis de mais de 20 anos atrás. (Maduro e seu governo) arruinaram a companhia nacional de petróleo", lamentou.

Escassez de alimentos e a ação da Cáritas

O Cardeal Urosa também declarou ao Grupo ACI que "a maior parte dos alimentos que consumimos vem do exterior e as coisas produzidas no país estão muito caras".

"Em Caracas, há pouca comida e por isso é muito cara. As pessoas estão ficando mais pobres e se sustentam com trabalhos extras, economizando muito e consumindo pouco".

"A inflação tornou todos os venezuelanos mais pobres, exceto os muito ricos, aqueles ligados a contratos com o governo e seus altos funcionários", acrescentou.

O Cardeal venezuelano indicou que nesta crise "também nós, os bispos, estamos sendo afetados pessoalmente, porém, bispos, sacerdotes e religiosos estamos trabalhando para aliviar o sofrimento dos mais pobres, com iniciativas como a 'Olla solidária' (Panela Solidária) que distribui um prato de comida semanal a algumas pessoas".

Esta iniciativa, afirmou o Cardeal, "é um grão de areia no meio de tanta calamidade, mas é um grande esforço, e o sustentamos por aproximadamente três anos".

"A Cáritas da Venezuela também se esforça para distribuir alguns medicamentos que são recebidos de doadores privados. É um ótimo programa", comentou.

Com cerca de 20 mil voluntários e a colaboração de 412 Cáritas paroquiais, em 2018, atenderam e diagnosticaram 18.890 crianças, 988 mulheres grávidas. Mais de 14 mil pessoas foram atendidas em Jornadas de Saúde e a população vulnerável foi acompanhada através de 92 centros de situação nutricional.

Também foram entregues 1.030 filtros de água e 4 milhões de remédios. O programa das 'Ollas Solidárias' serviu 505 mil porções de sopa, entregues em 5.050 comunidades.

A ação da Cáritas se torna mais importante nestes dias, quando Juan Guaidó declarou publicamente que aceita a ajuda de outros países, como o Canadá e os Estados Unidos, que ofereceram ajudar o país; enquanto Nicolás Maduro indicou que rejeita tal ajuda porque "nós não somos mendigos de ninguém" e "podemos avançar com o trabalho".

Diante da grave crise que a Venezuela enfrenta, o Cardeal Urosa incentiva seus compatriotas a "defenderem os direitos humanos e lutarem de forma democrática e pacífica pela liberdade e justiça no país. É isso que os bispos atualmente fazemos e promovemos".

"É preciso que tenham fatores, internos e externos, que convençam Maduro e seus aliados de que o melhor é que eles deixem o poder", explicou ao Grupo ACI.

"Além disso, os fiéis devemos intensificar a oração, como o Papa Francisco recentemente nos pediu".

"Eu faço permanentemente uma oração em todas as missas que celebro: que Deus conceda aos venezuelanos resolver seus conflitos pacificamente", concluiu.

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