17 de dezembro de 2024 Doar
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Por que os cristãos não voltam para o Iraque apesar da derrota do Estado Islâmico?

Mulheres cristãs rezam em uma igreja no Iraque. Crédito: EWTN Noticias

Apesar da derrota dos terroristas do Estado Islâmico (ISIS) no Iraque, muitos cristãos não voltam para suas casas, pois agora enfrentam outras ameaças em diferentes partes do país, como a cidade de Bartella, que antes era totalmente cristã e agora é controlada por uma facção xiita de muçulmanos conhecida como Shabak.

O Estado Islâmico foi derrotado em 2017, mas menos de um terço das 3.800 famílias cristãs que moravam em Bartella retornaram. Isso porque, de acordo com a Associated Press (AP), agora enfrentam uma série de ameaças dos Shabak, que também foram perseguidos pelo ISIS.

Pe. Behnam Benoka, sacerdote da paróquia de St. George, relatou que entre essas ameaças estão os abusos sexuais cometidos por membros dos Shabak contra mulheres cristãs.

"Desde a libertação da Planície de Nínive e o retorno das famílias, sofremos assédio de alguns que governam a área. Especialmente as mulheres, elas são assediadas e até algumas meninas sofreram com isso".

Iqbal Shino, que voltou a Bartella com sua família em novembro de 2017, disse que sofreu abuso sexual em um mercado. Embora tenha denunciado o sujeito para a polícia, decidiu retirar as acusações para evitar mais problemas.

Qusay Abbas, representante dos Shabak no Parlamento em Bagdá, comentou que este tipo de acontecimento não é algo geral, mas são eventos isolados. "Os Shabak e os cristãos foram forçados a fugir. Ambos sofreram coletivamente e é por isso que digo aos irmãos cristãos que não acreditem nos rumores nem nos discursos sectários aqui e ali. Estas são questões simples que podem ser resolvidas, nós só precisamos nos sentar juntos", afirmou.

Pe. Benoka disse que, "infelizmente, todos acham que o Daesh (ISIS) foi o maior e o único obstáculo para a presença cristã em sua terra ancestral, mas esse não é o caso. Nós sofremos devido ao deslocamento forçado desde a década de 1980".

Esse deslocamento começou quando Saddam Hussein expropriou as terras dos cristãos para entregá-las às famílias dos soldados que morreram na guerra com o Irã. Depois, fez isso novamente em 2003 com outras terras cristãs que foram entregues aos parentes dos falecidos dos Shabak, após a guerra com os Estados Unidos.

Agora, a maioria dos Shabak voltou para suas casas, enquanto os bairros cristãos permanecem quase desertos.

Outro problema é o da segurança, que agora depende das Forças Populares de Mobilização, lideradas pelos Shabak. Isso, somado à retirada das Unidades de Proteção Nínive (UPN), que eram compostas por cristãos, torna-se outro obstáculo para o retorno dos fiéis a Bartella.

Ammar Shamoun Moussa, chefe das UPN, disse à AP que "o cristão é o elo mais fraco da sociedade iraquiana. Qualquer pressão ou qualquer ruptura sempre o afetará em corrente e por isso há medo em relação ao futuro, ao desconhecido. Quando houver estabilidade e uma lei no território, acho que muitas famílias voltarão".

Salim Hariyahos Salman é um cristão que voltou a Bartella em 2017 e que foi capaz de reconstruir sua vida com a ajuda de uma ONG, mas agora se arrepende de ter retornado. "É uma situação psicológica, a situação de segurança mexe com a nossa mente. Eu vou a alguns lugares e ouço coisas, talvez isso ou aquilo tenha acontecido nos cafés ou no cassino. Dizem que o Daesh vai voltar, dizem que outros virão. Dizem que, se é verdade ou não, eu não sei; mas isso mexe com a mente das pessoas que vivem aqui", expressou.

Habiba Kiryaqos, um ortodoxo cristão de 72 anos, assinala: "Eu realmente quero ir a Bartella, mas temo que eles (ISIS) voltem e nos ataquem".

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