Cidade do México, Feb 15, 2019 / 06:00 am
Embora o pior nível de violência já tenha passado, para o Arcebispo de Aleppo, Dom Antoine Chahda, ainda é necessário algo essencial para que a Síria possa voltar à paz que vivia antes de 2011.
A Síria sofreu 8 anos de guerra desde 2011, quando grupos rebeldes armados, incluindo os terroristas do Estado Islâmico, levantaram armas contra o governo do presidente Bashar al-Assad.
Al-Assad, por sua vez, foi acusado de atacar a população e os rebeldes com armas químicas.
Em diálogo com o Grupo ACI, Dom Chahda, convidado ao México para partilhar seu testemunho para a segunda Noite de Testemunhas da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), observou que "terminou a guerra de explosões, matança, mas estamos vivendo atualmente uma situação de segunda guerra interna, que é a situação econômica muito ruim que estamos vivenciando".
O país sofre, indicou, "de um embargo de países poderosos contra a Síria, pelo qual não podemos receber nada de fora".
"Não temos eletricidade, não temos gás, não temos gasolina. Isso vem aos poucos, da reserva que temos", disse.
A União Europeia impôs diversas sanções contra a Síria, incluindo embargo de petróleo, congelamento de fundos do banco central sírio e restrições às exportações e tecnologia que "poderiam ser utilizados para a repressão interna".
Durante o governo de Barack Obama, os Estados Unidos equiparam grupos rebeldes e, desde 2015, implantaram tropas no país. O governo de Donald Trump ofereceu retirar as tropas norte-americanas da Síria ao longo de 2019.
Para o Arcebispo de Aleppo "o importante agora é que aqueles que estão lá para influenciar, para obrigar, para prejudicar e roubar os bens do nosso país nos deixem tranquilos e que saiam!".
"Hoje, os Estados Unidos dizem que irão retirar seu exército da Síria. Até o momento não o fizeram. Politicamente, na imprensa, no rádio e na televisão, dizem que foram embora. Isso é uma mentira. Até agora eles não deixaram o país, estão obrigando o povo a suportar mais sofrimento".
Dom Chahda assinalou: "Nós queremos nossa liberdade, nossa tranquilidade, que nos deixem tranquilos. Nós sabemos como levar nossas vidas".
"Que retirem o embargo e o povo possa seguir em frente", assegurou.
O Prelado destacou que o Papa Francisco "rezou bastante" pela paz na Síria e "continua rezando, nós rezamos para que a quantidade dos sírios cristãos mantenha sua fé até o fim".
"Recentemente, estive em Roma quando o Papa Francisco acendeu a vela. Estava também na embaixada da Polônia com o Núncio Apostólico da Síria, o Cardeal Mario Zenari. Também acendemos uma vela e rezamos pelas crianças na Síria. Mas isso não é suficiente para nós, queremos que os países grandes se retirem da nossa região, que nos deixem livres para reformar nossas vidas, para viver com tranquilidade".
Dom Chahda observou que, embora na Síria os cristãos vivam "em um país muçulmano", sempre levaram "uma vida muito normal com eles", com "os muçulmanos bons, os muçulmanos abertos ao mundo".
"Não queremos um muçulmano fanático radical, como os países poderosos vêm semear. É por isso que eles compraram milhares de pessoas sírias, por dinheiro, por alguns dólares, para que os sírios se matem uns aos outros. Infelizmente é assim", disse.
"Nós vivíamos em paz. Nunca tivemos problemas com ninguém. Eles querem nos obrigar a deixar tudo o que é uma vida normal e obedecer a seus mandatos".
O Prelado indicou que a Igreja na Síria é "rica em espiritualidade, muitos religiosos, religiosas, sacerdotes, arcebispos, escolas católicas, catecismo. Nós temos tudo. Espiritualmente, somos um país, uma cidade excelente. E também temos nossos bens econômicos. Temos muito. Mas atualmente, durante a guerra, tudo foi bloqueado".
Por isso, assinalou, o trabalho que a Ajuda à Igreja que Sofre realizou "em nosso país foi muito importante, principalmente na cidade de Aleppo e na cidade de Homs, para fornecer ajuda econômica para salvar as vidas de milhares de famílias que ficaram em ruínas".
Junto com a ACN, disse, foram oferecidas "cestas básicas de alimentos para essas milhares de famílias, medicamentos, cirurgia, ajuda aos estudantes tanto universitários como de colégios, restauração de casas", ou seja, todos os tipos de ajuda.
O Arcebispo de Aleppo salientou que "a Síria não pode viver sem os cristãos. Essa harmonia entre cristãos e muçulmanos continuará até o fim. Essa é a beleza desse país. Há amor, há muita vida de harmonia".
Na Síria, afirmou, "as pessoas se respeitam umas às outras. Aqueles que vieram para colocar a guerra quiseram perturbar esta relação e não vamos aceitar isso. A Igreja vai continuar até o final com bastante fé e com muita esperança de que esta guerra vai terminar e a vida vai voltar à sua normalidade. Mas quando isso vai acontecer, ninguém sabe".
"Não sabemos qual será o futuro dos cristãos na Síria. Vão tirar todos nós assim como fizeram há 100 anos na Turquia, quando os curdos e os turcos mataram um milhão e meio de cristãos entre armênios e sírios? A história se repetiu 100 anos depois, a questão voltou na Síria, matar os cristãos para tirá-los do país e deixá-los divididos, perseguidos e expulsos de seu terreno onde viveram e formaram a cultura de seu país".
"Deixe-nos em paz, por favor, e vamos viver muito bem e felizes", assegurou.
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