24 de novembro de 2024 Doar
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Sacerdote explica por que eliminar o celibato não colocará fim aos abusos sexuais

Daniel Ibáñez / ACI Prensa

Padre Paul Scalia, sacerdote da Diocese de Arlington, na Virgínia, e filho do falecido juiz pró-vida da Suprema Corte dos Estados Unidos, Antonin Scalia, explicou as razões pelas quais o celibato é essencial na Igreja e por que aboli-lo não resolve o grave problema dos abusos sexuais na Igreja.

"Nos últimos seis meses, a Igreja sofreu com as horríveis revelações dos abusos sexuais por parte do clero, a prática homossexual e o encobrimento dos responsáveis. Como é compreensível, estes escândalos levaram algumas pessoas a proporem a possibilidade de acabar com o celibato na Igreja Católica", escreve o sacerdote em um artigo intitulado "A Epifania do Celibato".

No texto publicado em inglês em janeiro deste ano, antes da festa da Epifania do Senhor, o presbítero escreveu que, na cabeça de muitas pessoas, o celibato parece que "já não nos serve muito e poderia inclusive ser a fonte de nossos males".

Pe. Scalia explicou que os sacerdotes são pais espirituais que "geram filhos em Cristo pelo seu ministério, sua pregação e pela administração dos sacramentos. Sem esse propósito claro do celibato em mente, inevitavelmente perderíamos de vista seu significado".

"O sacerdote renuncia ao matrimônio e aos filhos justamente para se tornar um pai espiritual. Desta forma, testemunha a verdade e superioridade da fecundidade espiritual", ressaltou.

No entanto, reconheceu, "os escândalos testemunham esta verdade: um dos horrores da crise atual é precisamente que os pais espirituais – não qualquer um, mas os pais espirituais – abusaram das crianças que lhes foram confiadas".

Observando que "as discussões sobre essa questão incluem inevitavelmente a insistência de que não é doutrina, mas disciplina (como se a disciplina na Igreja fosse algo que pudesse ser tratado com leveza)", Pe. Scalia destacou que, "de fato, a Igreja fala do celibato não apenas como disciplina, mas como carisma. É um dom outorgado a alguns para o benefício de todos; é dado a alguns membros para a edificação de todo o Corpo".

"Através do carisma do celibato, alguns na Igreja se entregam, com coração indiviso, ao serviço do Senhor e do Reino proclamado nas Escrituras. Através dele, 'dedicam-se mais livremente a Ele e por Ele a serviço de Deus e dos homens, servem mais prontamente seu reino'".

Pe. Scalia então faz uma reflexão sobre o celibato a partir dos presentes que os Magos trouxeram ao Menino Jesus na festa da Epifania: ouro, incenso e mirra.

"O primeiro deles, o ouro, é algo que tem valor perdurável. Assim também, o celibato tem um valor perdurável. Apesar dos fracassos óbvios e dolorosos e dos constantes pedidos para sua eliminação, ainda é valioso", indicou.

"De fato, como o ouro em uma má economia, seu valor aumenta em uma cultura pansexualista. Enquanto as pessoas buscam a plenitude na carne, o celibato aponta para uma felicidade mais alta e mais autenticamente humana. Isso atesta a verdade de que o homem foi criado para algo além do material: para a verdadeira alegria, não apenas para o prazer", continuou.

"Neste sentido, devemos ver o celibato de Nosso Senhor como o 'padrão ouro'" e recordar que "todos os motivos ou argumentos a favor do celibato são reduzidos ao seguinte: Jesus Cristo era celibatário. Qualquer celibato anterior a Ele aponta para o seu e todo celibato posterior a Ele o imita. Ele santifica esse estado de vida e lhe dá significado".

O Senhor Jesus, continuou o sacerdote, "foi celibatário por uma razão e, portanto, revela o propósito do celibato sacerdotal: amar a Igreja e entregar-se a ela; santificá-la; purificá-la com a água da palavra; para apresentar a Igreja em esplendor, para que seja santa e sem mancha".

"Seu celibato fala tanto aos solteiros como aos casados. Ensina a cultivar a maturidade e o autocontrole para viver de maneira casta e celibatária. Alguém incapaz de viver uma vida casta e celibatária não tem o autocontrole necessário para entregar-se no matrimônio. Neste sentido, o celibato casto é o precursor necessário de todas as vocações".

Sobre o incenso, que fala do mistério da liturgia, Pe. Scalia assinalou que, "como testemunho de algo a mais, o celibato deve ser misterioso e causar admiração. As perguntas que as pessoas do mundo fazem sobre o celibato mostram que está cumprindo parte de sua função".

"Seu assombro nos brinda a oportunidade de falar do próprio celibato casto de Cristo, do sacrifício e do mundo vindouro. A pergunta nos brinda a oportunidade para falar daquele que transcende todos os amores e do Reino que se apoderou de nossos corações".

Sobre a mirra, que antigamente se colocava nos mortos, o sacerdote explicou que o celibato "nos lembra da morte e da natureza passageira deste mundo. Aqueles que abraçam o celibato escolhem viver aqui e agora o que todos viverão no mundo que está por vir. O matrimônio existe apenas neste mundo. O celibato fala da dimensão do 'já, mas ainda não' da fé".

"O mundo caído sempre se apresentará como nosso destino final. Insta-nos a permanecer, a criar raízes e a dar por terminada nossa peregrinação. Da mesma forma, o corpo – a carne – nos exorta a encontrar nossa realização última somente nele. As pessoas vão de prazer em prazer, seguindo o que a carne sempre promete, mas nunca pode cumprir. Até o matrimônio sofre essa realidade", disse.

"Se o corpo não tivesse valor – se a sexualidade fosse má –, então o oferecimento do celibato não significaria nada", afirmou.

"Tal como é, o celibato vive como um sinal de que o corpo não é apenas um objeto, mas um recipiente sagrado; tem dignidade e é capaz de ser santificado. O celibato é um sacrifício precisamente porque o corpo e a sexualidade são bons", afirmou o sacerdote.

Pe. Scalia recordou então a centralidade da oração para viver o celibato, que é também um dos seus propósitos. "O sacerdote recebe esse carisma não tanto para que possa se ver livre do casamento ou da família, ou inclusive livre para trabalhar, mas para que possa ser livre para orar".

Para concluir, o sacerdote explicou a importância de ter amigos, irmãos, que também vivam o celibato com quem "compartilham uma missão e um propósito", e também, de maneira mais prática, "porque nos provê daqueles que podem chamar nossa atenção e nos corrigir".

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