MANÁGUA, Apr 17, 2019 / 08:00 am
"Nosso povo está prestes a celebrar um ano de uma história crucificada. Aprendamos a contemplar Cristo crucificado em nós. Nos crucificados está Deus", disse Dom Silvio Báez, Bispo Auxiliar de Manágua (Nicarágua), durante a homilia de Domingo de Ramos.
Há alguns dias foi anunciado que o Bispo deixará a Nicarágua para servir a Igreja em Roma, a pedido expresso do Papa Francisco.
"Não podemos esquecer, nem ser indiferentes às vítimas crucificadas de hoje. Diante dos presos políticos, exilados, daqueles que se escondem por medo; diante das mães que choram por aqueles assassinados pela repressão. Diante de um povo que não pode decidir, que se encaminha para o precipício. Aí está a cruz, aí está Jesus chorando. Diante de um povo crucificado, contemplamos Cristo", refletiu durante a sua homilia.
O Prelado fez referência ao primeiro aniversário dos protestos na Nicarágua, que começou em 18 de abril de 2018, contra a reforma da previdência social promovida pelo governo, mas que teve que ser revogada devido às manifestações.
Apesar disso, os protestos continuaram para exigir a saída de Daniel Ortega da presidência, na qual está desde 2007 pelo terceiro mandato consecutivo. Membros da oposição denunciaram na época que os comícios de 2016 não foram limpos.
Durante a homilia, Dom Báez recebeu o carinho e o aplauso dos fiéis que foram à paróquia Santo Cristo de Esquipulas, em Manágua. "A Nicarágua vai ressuscitar", assegurou o Prelado.
Os participantes se reuniram uma hora antes do início da celebração e lotaram a igreja carregando bandeiras da Nicarágua e símbolos azuis e brancos, correspondentes aos grupos que protestavam contra o regime de Daniel Ortega.
"Deus está do lado das vítimas, não do carrasco. É do lado dos empobrecidos, dos manipulados ideologicamente, daqueles que sofrem desconsoladamente, daqueles que não têm esperança. Dos martirizados ainda hoje", manifestou o Prelado.
O Bispo Auxiliar também exortou os nicaraguenses a "viverem a fé em Cristo sem nunca se deixar levar pela violência. Sem negociar a liberdade e a dignidade do ser humano. Sem ambicionar nem ser idólatra de nada nem de ninguém, e Nicarágua, este povo, vai ressuscitar".
"O Senhor ressuscitado dará uma sociedade baseada na justiça, da qual brota a verdadeira paz. Uma sociedade onde não seja um crime pensar diferente, onde todos nós possamos colocar nossas ideias e bens materiais, para além do egoísmo", acrescentou.
Lembrou que "a fé em Cristo pode nos levar a lutar pela dignidade, liberdade e vida dessas pessoas", em referência à situação de violência, repressão e crise política provocada pelo regime do presidente Daniel Ortega desde 2018.
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